Ruth de Souza: caminhos abertos

Taís Araujo, Zezé Motta e Grace Passô prestam homenagem a atriz, que, além de ter sido a primeira mulher negra a protagonizar uma novela no Brasil, foi inspiração para muitas gerações

por Carol Ito em

Ruth de Souza teve que inventar seu espaço na dramaturgia, desbravando teatro, cinema e televisão. A atriz, que morreu ontem (28), vítima de uma pneumonia, foi a primeira mulher negra a protagonizar uma novela em Passo dos Ventos, transmitida pela TV Globo, em 1969. No mesmo ano, estrelou na emissora A Cabana do Pai Tomás, ao lado do ator Sérgio Cardoso, que, para viver um personagem negro escravizado, tinha partes do corpo maquiadas de preto.

Crédito: Luiz Paulo Lima/Museu Afro Brasil

Formada pela Academia Nacional do Teatro da Universidade Howard, nos Estados Unidos, a carioca foi também a primeira atriz negra a atuar no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, em 1945, como integrante do Teatro Experimental do Negro (TEN), companhia que usava a arte para discutir questões raciais. Em 1961, interpretou a escritora Carolina Maria de Jesus na peça Quarto de despejo – Diário de uma favelada. Também foi a primeira brasileira indicada a um prêmio internacional de cinema, no Festival de Veneza de 1954, por sua atuação no longa Sinhá Moça

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Entre seus trabalhos mais recentes estão a participação na série global Mister Brau, em 2018, e, em 2019, a atuação no curta-metragem Tentáculos. Em homenagem ao legado deixado por Ruth de Souza ao longo de seus 98 anos, a Tpm convidou algumas atrizes para celebrar sua vida e obra.

Crédito: Divulgação

 Taís Araujo

"A partida da Ruth deixa muita dor por tudo que ela construiu, tudo o que viveu, mas muito pelo que ela ainda tinha a contribuir. Pode ser curioso falar isso pensando em uma pessoa que viveu 98 anos, mas é porque ela ainda tinha muito pra dar, muito.... Fica a gratidão por tudo que ela nos deixou. Obrigada Ruth, eternamente."

Crédito: Divulgação

Zezé Motta

"É difícil falar sobre a perda de uma grande amiga, uma grande atriz, até porque nos últimos tempos estávamos muito próximas. Estive com ela há 20 dias e o que mais me impressionou foi ouvir ela dizer que ainda tinha muitos planos como atriz. Nessa ocasião, participávamos do curta-metragem Tentáculos, produzido pelo Lui Mendes, que é um projeto para se tornar um longa. Fiz o papel de filha da Rutinha. Acredito que eu tenha sido uma das últimas atrizes a contracenar com ela. Fiquei muito impressionada ao ouvir uma senhora de 98 anos empolgada sobre a possibilidade de fazer esse longa-metragem."

Crédito: Ana Paula Mathias/Divulgação

Grace Passô

"Dona Ruth de Souza foi uma grande atriz, com uma técnica de atuação rara e potente, um olhar vibrante, uma voz inesquecível. Ela foi maior que todas as grandes atrizes brasileiras, porque teve que se inventar e nos inventar no universo da arte. Fico pensando no que essa mulher não viveu, não viu, não superou, do que ela teve que se libertar... Essa potência é imensurável e sou muito grata."

Créditos

Imagem principal: Domínio público/Acervo Arquivo Nacional

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