Qualquer semelhança é mera coincidência. Ou não
Cão sem dono, último filme de Beto Brant, é um retrato naturalista da vida de um casal
Por Fernanda Paola
Um cara e uma menina transam na sacada do apartamento dele. Corta para a manhã seguinte. Na cozinha, antes de partir, ela prepara o café e espera alguma palavra sobre o futuro. Mas ele nem come e nem fala.
Assim começa o último filme de Beto Brant (Os Matadores, O Invasor), Cão sem dono, que estréia dia 15 deste mês. Ciro (Júlio Andrade) vive só, afundado numa rotina inerte. Apenas espera pelo fim de cada dia. É tradutor, mas não trabalha. Não lê, não tem televisão, nem telefone. Quieto, introspectivo, é quase inexpressivo.
Aí surge Marcela (Tainá Müller), a menina da sacada e alguma coisa começa a fazer sentido por ali. Linda, sorridente e muito a fim, ela sacode o tédio. O romance casual primeiro se torna importante; depois, essencial. Detalhes do rosto e do corpo de Marcela, explorados em close, levam o espectador a se envolver.
Inspirado no livro Até o dia em que o cão morreu, de Daniel Galera, o filme é todo subjetivo. Inclusive as sensações que desperta. Não há música ou recursos artificiais. É apenas a história de um casal jovem que se apaixona, e seu dia-a-dia. Muito sexo, maconha, papos à toa e silêncio. É natural e direto. O cão do título pode ser o vira-lata que segue o rapaz. Ou o próprio. Vai saber.