Por que machos são monógamos (são?!)?
“Quais machos?!”, você pode estar se perguntando. Muitos, de várias espécies de mamíferos. O que do ponto de vista evolutivo não parece ser uma decisão muito sábia
Se estamos aqui para espalhar nossos maravilhosos genes o máximo possível, seria mais vantajoso para machos copularem com várias fêmeas diferentes. Já para as fêmeas, em muitas circunstâncias, seria melhor ter um macho ajudando a criar seus filhotes para aumentar a chance deles sobreviverem, e logo os genes das fêmeas passarem para as próximas gerações. Pois pesquisando mais de 2.500 espécies diferentes de mamíferos, cientistas do Reino Unido concluíram que a monogamia dos machos acontece em espécies em que as fêmeas vivem espalhadas – ou seja, ela vem da dificuldade deles encontrarem outras fêmeas… Veja nesta matéria!
Atenção, essas decisões não passam pelo racional. Ao longo da evolução, todos os seres vivos são submetidos a processos de seleção natural que fazem com que os mais adaptados ao seu meio ambiente tenham maior chance de sobreviverem e passarem seus genes adiante. Assim, os genes que conferem essas características "superiores" vão sendo selecionados e se tornam cada vez mais frequentes naquela espécie. E essa foi a grande sacada de Charles Darwin no século XIX: a teoria da evolução.
Baseados nela, os chamados sociobiólogos tentam explicar muitos dos comportamentos do homem contemporâneo que ainda estariam sob o controle de genes selecionados ao longo dos milhares de anos em que vivemos nas cavernas! Só que naquela época, as pressões seletivas eram muito diferentes das de hoje. Por exemplo, comida não era abundante, e assim acumular gordura era uma característica vantajosa – afinal não sabíamos quando seria a próxima refeição. Humanos portadores de genes de acúmulo de gordura viviam mais, logo se reproduziam mais, e passavam esse maldito gene para frente. E assim, milhares de anos depois, o homem (e principalmente a mulher) moderno passa boa parte de sua vida lutando contra seus impulsos biológicos com as mais mirabolantes dietas.
Segundo os sociobiólogos, outro impulso biológico seria a poligamia masculina, que aumentaria as chances daquele macho passar seus genes adiante. Esse argumento é usado para defender/justificar as puladas de cerca masculinas – "perdão, meu amor, mas são os meus genes…". Mas a vingança feminina veio com os estudos de DNA. Esses revelaram que o índice de falsa paternidade (o "pai social" não ser o "pai biológico") é de até 15% na população geral. Ou seja, as supostamente inocentes esposas também são praticantes do 'pular a cerca', só que de forma bem mais discreta. E agora, sociobiólogos, como explicar essa?!
Fácil! Para as fêmeas existem duas características importantes na escolha do pai de seus filhos, para que estes sobrevivam e passem seus genes para frente: as características biológicas (por exemplo, ser forte, belo, cabeludo e inteligente), que serão transmitidas à prole pelos seus genes; e as características sociais (bom pai, cuidador, provedor, etc), também vantajosas para que a prole sobreviva no mundo hostil. As fêmeas têm então a possibilidade de escolher o melhor dos dois mundos: elas podem copular com o macho que tiver as melhores características biológicas (o pai biológico), e ter como marido o que tiver as melhores características sociais (o pai social)! Este último nunca deve saber que não é o pai biológico, e daí a "pulação de cerca" feminina ser mais discreta do que a masculina. Danados esses genes, não?!
Se você se interessou por esse assunto, leia mais nos seguintes livros:
Por que os homens fazem sexo e as mulheres fazem amor? (Barbara e Allan Pease, Editora Sextante);
A natureza humana existe – e como manda na gente (Francisco Daudt, Editora Casa da Palavra);
*Lygia da Veiga Pereira é uma carioca que trocou Ipanema pela Universidade de São Paulo. Professora Titular de Genética Humana e chefe do Laboratório Nacional de Células Tronco Embrionárias da USP, ela escreve para a Tpm às quintas e também no http://leiaasmeninas.com.br/.