Nossa língua portuguesa
Ao entrar num lobby de hotel semana passada, esbarrei levemente no ombro de um senhor plantado bem na entrada. Ele imediatamente olhou pra mim e disse: “desculpe”. Não que ele soubesse que sou brasileira – ele provavelmente não falava um inglês que lhe permitisse um simples “excuse me”. E ele não é o único.
Foi-se o tempo em que dava pra falar mal de alguém em português na cara da pessoa, ou comentar que fulano é gato em voz alta a metros do rapaz. Esqueça. Nova York tem tanto brasileiro que o lance é estudar alemão ou mandarim pra fazer fofocas ou comentários em público. Certamente a espécie é mais encontrada em lojas (“Amor, olha essa blusinha de 7.99!”), no metrô, nos parques, ou negociando bolsa falsificada com camelô africano na rua - como flagrado certa vez por minha amiga Lilia e eu (“A-ma-nhã eu pas-so aqui pa-ra com-prar” – sim, o pessoal fala em sílabas ‘para ser entendido).
Restaurantes não ficam de fora – as mesas são tão grudadas que escuta-se tudíssimo na mesa vizinha. Sem falar que sempre há um garçom brasileiro de butuca (aí depende do seu astral. Tem dias que você quer papear com o garçom, outros não). Já passei por uma situação meio ‘Sex and the City’: conversando em português sobre “aquilo” com as amigas, notamos que o garçom vinha muito em nossa mesa. Aquela atenção toda tava meio estranha até descobrirmos que ele era made in Minas. Nessas horas só há uma coisa a fazer: olhar pra ele naturalmente e dizer...“The check, please.”