2016: o ano que merece o Jabuti de melhor ficção
Convidamos cinco escritores para escolher seus momentos mais inacreditáveis de 2016
“Olha, tá foda competir com tantos pontos de virada da vida real. Mas acho que tudo isso abre um novo espectro para trabalhar a maldade, que une Temer, Trump e Brexit. As pessoas que apoiaram essas excrescências não agiram por ignorância nem ingenuidade, mas por maldade. Queriam ver o outro, o diferente, aquele que conquistou mais direitos, entrar pelo cano. Depois de tantos anos com a ficção vilanizando a vilania com aquele papo de humanizar o vilão, acho que é hora de levar a maldade a sério.”
João Ximenes Braga, escritor e roteirista, autor da novela Lado a lado
“Para mim o momento mais ficção de 2016 foi o último domingo antes da votação no Senado pela cassação de Dilma. Eu estava tenso com os rumos da democracia, temendo pelo que viria desse governo. Por volta de 16 horas saí a pedalar na beira do Guaíba. Pensando nos rumos do país, cruzei com Dilma, pedalando escoltada por seus dois seguranças. Na iminência da cassação, ela cuidava de si. Ali, entendi que o mais importante é o cuidado consigo e a contemplação de horizontes. Sem eles, não podemos lutar.”
Ismael Canappele, autor de Os famosos e os Duendes da morte
“No fundo, a vitória do fascismo mundial significa que a preponderância absoluta do dinheiro sobre valores imateriais e humanitários deixou a população totalmente desamparada física e moralmente. Presa fácil do ódio, do evangelismo, da ignorância, enfim, da barbárie. No mais, a vitória de Trump em 2016 é a derrota do feminismo, pois o último reduto de poder dos brancos pobres dos EUA – que elegeram Trump – é o machismo, queridas. A realidade bate de longe a ficção, e vocês deveriam levá-la a sério, pois o outro lado não está brincando!”
Márcia Denser, autora do livro Muito prazer
“Gabriel García Márquez morreria de fome no Brasil. O momento mais surreal foi o diálogo entre Sérgio Machado e Romero Jucá – líder do governo Temer – dando o roteiro do golpe jurídico-midiáticoparlamentar.”
Xico Sá, autor de Big jato
“Eu acho surreal o fato de haver mil escolas ocupadas por estudantes que QUEREM estudar. No meu tempo a gente só fugia da escola. Mais bizarro ainda é o fato de a grande mídia não dar a atenção devida – e, quando dá, é para criminalizar os estudantes.”
Ronaldo Bressane, autor de Mnemomáquina