Do corset ao spanx

Mostra em Nova York discute a delicada relação entre a indústria da moda e o culto do corpo ideal, do século 18 até aqui

por Bruna Bittencourt em

Se nos anos 70 as roupas davam liberdade às formas, seguindo os preceitos da época, na década seguinte, com a febre da aeróbica, a silhueta enfatizava o corpo em forma. Porém, logo na sequência, nos anos, 90 a estética do heroin chic valorizava formas esquálidas. O corpo ideal é uma construção cultural que vem mudando ao longo da história, valorizando certos tipos —  e marginalizando outros. E haja corsets, spanxs, dietas, exercícios e cirurgias plásticas para alcançar a silhueta em voga.

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"Sempre me interessei pela relação entre moda e corpo, e o impacto psicológico que ela pode ter em uma cultura", diz à Tpm Emma McClendon, curadora de The Body: Fashion and Physique, mostra que fica em cartaz até dia 5 de maio no museu do Fashion Institute of Technology, em Nova York. A exposição mergulha na delicada relação entre o corpo ideal e a indústria da moda, do século 18 até aqui, reunindo 50 itens do acervo do FIT (de Martin Margiela a Marc Jacobs), entre filmes, campanhas e matérias de jornais.

Entre os highlights da exibição, a curadora destaca à Tpm um espartilho de 1880, de 80 centímetros de cintura. Emma explica que existe um ideia equivocada de que as mulheres do século 19  tinham cinturas finas (de 45 centímetros), mas os corsets pré-fabricados podiam ser facilmente encontrados em tamanhos maiores, como prova a exibição. "Precisamos mudar a ideia de que todas as mulheres tinham um tipo de corpo e usavam um mesmo tamanho no passado."

Do século 19, espartilho com 80 cm de cintura é um dos destaques da exposição - Crédito: Divulgação

Emma avança um século para apontar o vestido que o estilista Christian Siriano criou para Leslie Jones para a première de Ghostbusters (2016), depois que a atriz ironizou no Twitter como as principais grifes não estavam dispostas a vesti-la em função de seu físico. "O episódio foi um marco para a indústria, provocando um debate sobre a falta de inclusão na moda", lembra.
A curadora conta que ficou surpresa ao constatar, durante sua pesquisa para Fashion and Physique, que a moda pluz size é mais antiga do que imaginamos. "Ela existe desde o início do século 20 e tem sido assunto para publicações nos últimos cem anos." Durante a década de 1980, explica, o plus size era uma indústria em expansão entre as grandes grifes —  a Givenchy, por exemplo, teve a linha Givenchy En Plus. Já a Vogue americana publicou uma seção chamada "Fashion Plus" entre 1986 e 1989, focada no segmento.

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A internet também injetou uma dose de democracia na indústria. "A maioria dos desfiles e das revistas continua a trabalhar principalmente com modelos brancos, magros e jovens, mas a rede e as mídias sociais deram aos blogueiros e consumidores uma voz muito mais poderosa." Ela cita Gabi Gregg e Nicolette Mason entre os blogueiros que vêm desafiando os ideais do corpo padrão e as "regras" para se vestir.

Emma lembra que a maioria das grandes grifes não produz roupas maiores que um certo tamanho, enquanto os varejistas separam a numeração, disponibilizando as peças plus size em uma área diferente de suas lojas (se disponibilizarem). "A moda é construída em um sistema de exclusividade e divisão. Até reconhecermos as falhas na forma como as roupas são produzidas, mostradas e vendidas, não podemos começar a consertar o sistema.

O vestido criado pelo estilista Christian Siriano para Leslie Jones vestir na première de Ghostbusters - Crédito: Divulgação

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