Me manda pra PQP, mas não me diz pra pisar em ovos! Me manda pra PQP, mas não me diz pra pisar em ovos!

Me manda pra PQP, mas não me diz pra pisar em ovos!

Se é pra pisar em ovos, que seja sentindo o perfurar das cascas em nossas solas, amém

por Lia Bock em

Ah, arte de pisar em ovos. Você toma todo cuidado do mundo, mede as palavras, engole o choro, reescreve a mensagem duzentas vezes – todo cuidado é pouco. Rói as unhas, come a bochecha, mas não diz o que gostaria. Dorme mal, acorda mal, dirige mal, mas não manda aquele e-mail entalado na garganta. Você sorri e aceita, quando queria mesmo é negar e berrar umas verdades. Entra no carro e chora, sai do trabalho e chora, dá uma garfada e chora lágrimas com conteúdo pulsante e nunca dito. São ovos inteiros nos quais pisamos com muita parcimônia. Ovos intactos sem nem uma fissura se quer, todos encalacrados no peito ou em algum lugar entre o esôfago e o palato. Pra quê? Pra não ferir ninguém? Para não fazer feio ou não ficar mal visto?

Pisar em ovos é pisar em si mesmo. Se há cascas em baixo de nossos pés, pisemos firme, certeiro, sentindo o estilhaçar que nos livra de uma úlcera póstuma. Se é pra pisar em ovos, que seja sentindo o perfurar das cascas em nossas solas e a explosão que meleca e liberta.

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