Mara Gabrilli: Cadeirantes também são bípedes
Para um cadeirante, ficar em pé traz benefícios imensuráveis para a função circulatória, digestiva e respiratória
Fazer exercícios, comer alimentos saudáveis, não ter uma vida sedentária e... ficar em pé. Sim, ficar em pé! Um estudo publicado pela revista científica American Journal of Preventive Medicina revelou benefícios incríveis para a saúde de pessoas que, simplesmente, evitam passar muito tempo de suas vidas sentadas.
Atos corriqueiros, como se levantar para atender o celular (mesmo que não seja necessário) ou sair da mesa de escritório para buscar o próprio cafezinho, além de evitar várias doenças, trazem benefícios ao nosso cérebro. Dão uma turbinada na memória e no intelecto.
Ao longo de doze anos, pesquisadores compararam os hábitos de 12 mil pessoas, entre 37 e 78 anos, que ficavam sentadas por cerca de sete horas. Muitas só deixavam a cadeira para realizar atividades fisiológicas, como ir ao banheiro e se alimentar. Em contrapartida, outras tinham o hábito de se levantar sempre para executar pequenas tarefas. E a conclusão não poderia ser diferente: as pessoas que se mexiam menos corriam um risco 30% maior de morrer em decorrência de doenças associadas ao sedentarismo.
Agora, você deve estar se perguntando: por que uma cadeirante vem passar esse recado? Bom, sou uma tetra que fica em pé. E mais que qualquer pessoa, sei o quanto isso faz bem. E o contrário também!
Para um cadeirante, ficar em pé traz benefícios imensuráveis para a função circulatória, digestiva e respiratória. Melhora sua qualidade de vida em todos os aspectos, sem falar da autoestima que ganha um upgrade.
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Não por acaso, há tempos venho lutando junto ao Ministério da Saúde para que as cadeiras de rodas ortostáticas, que são flexíveis e permitem aos cadeirantes ficar em pé, sejam incorporadas ao SUS e distribuídas a usuários de cadeiras de rodas. Mas, infelizmente, a resposta que sempre recebo é que “não existem dados científicos que comprovem os benefícios de ficar em pé”. E isso não é verdade.
Ter uma cadeira ortostática deveria ser um direito básico de todo cidadão com deficiência. Aliás, eu recomento o “ficar em pé” para muitos cadeirantes que conheço. Foi assim com a Laís Souza, que recentemente emocionou muita gente carregando a tocha olímpica em pé na sua cadeira.
Quando ficamos em pé, o mundo é visto por outros ângulos. Não é à toa que muita gente prefere fazer certas coisas em pé, até para buscar inspiração. Muitos artistas e escritores preferem trabalhar em pé. Eu mesma já contei aqui para vocês que faço xixi em pé. E quase sempre é um momento de reflexão no dia que renova minhas ideias.
Não somos bípedes por acaso, inclusive do ponto de vista evolutivo. O ser humano passou por várias mudanças até chegar à posição ereta. Então, levanta daí se estiver lendo esse texto sentado. O mundo é bem mais interessante visto por todas as dimensões.