Mara Gabrilli para Antonia Pellegrino
A colunista Mara Gabrilli faz uma pergunta para Antonia
93. Mara Gabrilli* - O que mudaria na tua escrita se você tivesse nascido em Estocolmo e morasse no Zimbábue?
94. Antonia Pellegrino* - Mara, de certa forma, eu nasci em Estocolmo e escrevo para o Zimbábue. Eu nasci na zona sul do Rio de Janeiro, em uma família de classe média alta. Nunca me faltou teto, comida nem afeto. Tive boas oportunidades de estudo, hoje vivo em uma casa com uma pequena biblioteca. Boa parte do meu trabalho é escrever para a televisão aberta, ou seja, para audiências medidas aos milhões. Milhões estes dentre os quais há donas de casa, estudantes, crianças, mas também, e sobretudo, operários, domésticas, analfabetos e semianalfabetos, pessoas carentes, que muitas vezes não podem comprar seu acesso ao cinema, teatro e outras formas de arte e entretenimento. Escrever para essas pessoas dá uma sensação de serviço prestado ao outro. Muita gente acha novela uma porcaria, mas esquece que novela não é escrita para quem nasceu em Estocolmo. E eu me sinto feliz em, de certa forma, viver no Zimbábue.
(*) Para comemorar a Tpm#100 conversamos com 100 mulheres. Veja todas aqui