Helen Beltrame-Linné
Fã de Ingmar Bergman, a paulista foi escolhida para dirigir a fundação dedicada ao cineasta sueco e quer atrair brasileiros para lá
Quando quer comer uma pizza, Helen Beltrame-Linné não tem a opção de ligar para um delivery: ela tem que pegar um ferryboat e rodar mais 30 quilômetros na estrada até chegar à pizzaria mais próxima. Mas isso não importa para ela. A advogada e cinéfila de Ribeirão Preto, no interior paulista, realizou o sonho de sua vida no final do ano passado, quando foi convidada para dirigir a fundação dedicada a cuidar do acervo e divulgar a obra de seu ídolo, Ingmar Bergman. Aos 34 anos, Helen é a mais nova moradora de Farö, uma ilha de 500 habitantes no mar Báltico, onde o cineasta sueco, morto em 2007, passou seus últimos 45 anos. De lá, ela falou à Tpm.
Como surgiu o convite para dirigir o Bergman Center? Eu venho a Farö desde 2002, sempre tive uma relação especial com esse lugar e sonhava em morar aqui quando ficasse velhinha. Em 2012, resolvi alugar uma casa na ilha por três meses. Acabei conhecendo meu marido e me mudei para Estocolmo. Aí o destino fez o resto… Fui apresentada à diretora do Bergman Center, uma senhora encantadora que contou que a fundação precisava fazer uma transição geracional: os velhinhos queriam passar o bastão. E ela viu em mim a candidata ideal, por conjugar o interesse genuíno por Bergman, amor pela ilha de Farö e experiência em gestão.
Desde quando você é fã de Bergman? Em 1998, quando me mudei para São Paulo, vi meu primeiro Bergman: Morangos silvestres (1957). Aquilo mexeu muito comigo: um filme que falava de sonho, de inconsciente, de memória, do que significa estar vivo, envelhecer… Bergman se tornou meu favorito porque fala de uma vida que me é familiar, um olhar sobre o humano e os demônios que nos assombram.
Como é viver numa ilha de 500 habitantes? Eu adoro, mas sou uma pessoa solitária, então não me incomoda esse isolamento. Sempre gostei da ideia de estar longe de tudo, com espaço para viver mais dentro da minha cabeça.
Aprendeu sueco? Fui estudar a sério há dois anos, não só para ver Bergman sem legendas, mas também para entender meu marido! Ainda não sou fluente, mas é o suficiente para o meu dia a dia.
Onde você trabalhava antes? Meu último emprego fixo foi na Zazen, produtora do diretor José Padilha. Minha porta de entrada foi um trabalho nas áreas financeira e jurídica. Mas o Zé sabia que eu não queria mais ser advogada, larguei meu último escritório e fui pra Zazen porque queria trabalhar com cinema. Fui me envolvendo com a parte criativa, ajudando nas montagens, palpitando em roteiro, até que confessei que queria escrever. O Zé, então, me contratou para fazer o roteiro do filme dele, ainda em fase de tratamento, sobre o Complexo do Alemão. Deixando a Zazen, vim para a Europa e, após uns meses em Paris, aluguei a casa em Farö.
Quais são seus planos na fundação? Temos um rol de atividades aqui, meu plano é torná-lo ainda melhor, aumentando as exposições e disponibilizando mais atividades em inglês. Uma vez por ano, em junho, ocorre a Bergman Week, com palestras, filmes e peças de teatro. Há um programa de residência para artistas e pesquisadores, que podem morar em uma das casas de Bergman para desenvolver projetos. Até hoje só houve um participante brasileiro. Meu desejo é que mais pessoas se animem em se candidatar.
Vai lá: bergmancenter.se/en