Grandes expectativas

por Tania Menai em

Ver tragédia no cinema, com pipoquinha, é fácil. Difícil é viver uma tragédia, dormir, acordar e ver que aquilo não foi pesadelo. As Torres Gêmeas, o novo filme de Oliver Stone, feito com uma precisão de arrepiar, e que chega ao Brasil neste fim de semana, é uma dessas experiências. Todo mundo sabe o que foi o 11 de Setembro, Osama bin Laden, e reclama por ter que tirar sapato no aeroporto. Mas o filme não é sobre isso. Conta o dia infernal de dois policiais, John e Will, que foram salvar vidas e acabaram soterrados nos escombros daquele gigantismo todo. Foram salvos. Assim como milhares de policiais e bombeiros no mundo todo que dão a cara para bater, John, Will e todos os outros foram para o Trade Center, como as torres eram chamadas, a-pa-vo-ra-dos. No site do filme tem entrevista com vários deles.

É incrível como esses policiais de Nova York transmitem segurança. Muitos, tradicionalmente, são de origem irlandesa. São durões, mas são ultrainformados e fazem piadas quando ocasião é apropriada. Há anos, produzi uma reportagem de televisão sobre eles. Passei horas na NYPD e até em cadeia. Claro, eles têm orgulho do que fazem, ganham razoavelmente pra isso, cursaram pelo menos 60 créditos da faculdade e recebem apoio psicológico. Na época de Rudy Giuliani, os bons passaram a ganhar bônus, além de o ex-prefeito ter dado uma “limpa”, eliminando quem era chegado a uma corrupçãozinha.

A obra de Stone me lembrou – e muito – o filme O Pianista e o documentário Touching the Void. Os três tratam do extremo da sobrevivência. John e Will foram dois dos vinte sobreviventes retirados dos escombros. John, por exemplo, teve de entrar num coma induzido para passar por 27 cirugias. Temos mais é que celebrar essas vinte vidas já que 343 bombeiros e policiais morreram numa manhã, número recorde na história dos EUA. Eles não viraram estatística. São sempre lembrados e homenageados. Agora, chorar no cinema (como eu fiz, e muito) e tirar sapato no aeroporto é fichinha. O que importa é que, até segunda ordem, a vida é uma só. E viver é bom pra caramba. Não perca o filme. E nem a vida.
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