Gente que trabalha brincando

Ariane e Jéssica, do Indiretas do Bem, contam como uma brincadeira do Facebook se transformou em um lucrativo negócio

por Cirilo Dias em

Há pouco  mais de um ano, as amigas Ariane Freitas, 23 anos, e Jéssica Grecco, 24 anos, dividiam uma pequena salinha de uma grande agência de publicidade de São Paulo. Um belo dia, a rotina foi quebrada por mais um tiroteio de indiretas entre um grupo de amigos. “A gente ficava o dia inteiro juntas e um belo dia começaram a rolar atritos nesse grupo de amigos que a gente tem na internet. Nós já estávamos irritadas com o trabalho, com tudo e começamos a desabafar no Twitter: ‘o pessoal podia começar a mandar umas indiretas do bem, né? Tipo: gente que leva pão na chapa, gente que faz o café da manhã”, diz Jéssica.

Foi então que Ariane e Jéssica tiveram a ideia de guardar todas as frases, escrever mais algumas e desenhar “de forma tosca”, as cartelinhas que hoje fazem sucesso para mais de 1 milhão de pessoas na página Indiretas do Bem, no Facebook.

A página virou empresa, blog e perfil no Instagram, e hoje vende de conteúdo digital para marcas que querem enviar "indiretas" fofas a almofadas e, em breve, camisetas, canetas e pôsteres.

Com o sucesso - e a demanda - crescendo a cada dia, Ariane conseguiu largar o emprego na antiga agência e hoje se dedica a cuidar apenas da empresa que tem junto com Jéssica, que muito em breve deve seguir o mesmo caminho da amiga.

Conversamos com Jéssica e Ariane, que explicam como uma brincadeira de Facebook se transformou em um lucrativo negócio:

Como foi que surgiu a ideia do Indiretas do Bem?
Jéssica: eu e a Ari passávamos o dia inteiro numa salinha na agência e um belo dia começaram a rolar uns atritos com uns amigos nossos, indiretas no Twitter e tudo mais. Estava no horário do almoço, irritada com tudo, com o trabalho, com a vida e comecei a desabafar como seria bom receber umas indiretas do bem tipo: “gente que leva pão na chapa, gente que faz o café da manhã”. 
Ariane: Porque é aquela coisa, não gosto de dar indireta porque 90% das vezes você acerta a pessoa errada, e eu queria uma indireta do bem, pra falar coisas boas. Foi a gente voltar do almoço e eu já falei pra Jéssica: “olha, estou aqui fazendo a página”.  Aí criei umas artes muito feias no Paint e deixei tudo programado. No fim do dia já tinha mais de mil likes na página, no outro dia 20 mil, no outro 40 mil… 
Jéssica: E olha que a gente nunca colocou nada de dinheiro em anúncios…

Mas teve muita gente desconfiando de tantos likes em tão pouco tempo?
Jéssica: Sim, o pessoal achava que era ação da marca Quem Disse, Berenice?, outras achavam que era viral, que era mal feito...
Ariane: Isso quando não ficavam falando pra gente contratar um diretor de arte, né?
Jéssica: Eu falava: gente, era pra ser uma brincadeira, vocês que levaram a sério demais” [risos].

Foi o famoso caso da brincadeira que ficou séria demais e fugiu do controle, né?
Jéssica: Sim, era algo muito pros amigos mesmo. A gente pensava nos nossos amigos e mandava as cartelas com indiretas do bem: “Gente que gosta de gatinhos”,  “gente que gosta de cozinhar” 
Ariane:  E logo começou a surgir um pessoal que a gente não conhecia na página. Aí não era só marcar os amigos na página, rolavam umas declarações de amor, umas histórias gigantes nos comentários…

Então chegaram a rolar umas histórias de amor por culpa de vocês ali? 
Jéssica: Ah, tem várias pessoas que usam o Indiretas para xavecos. Tem uns caras que pedem pra gente postar tal coisa porque ele está afim de  uma menina e quer mandar pra ela.
Ariane: Aí eles voltam lá e contam que conseguiram ficar com a garota porque mandou a Indireta [risos].

E histórias tristes? Já choraram muito lendo os depoimentos do fãs?
Jéssica: Nossa, várias. Mas não exatamente tristes. Uma vez a gente fez um texto sobre doação de medula óssea e apareceram várias pessoas falando que só estavam ali porque alguém tinha doado, outras que tinham medo de doar porque acham que dói. 
Ariane: Esse foi o mais tenso, lembro que eu lia os comentários e chorava um monte. Toda vez que a gente tem que fazer datas comemorativas de Dia dos Pais, Dia das Mães é sempre tenso, porque pode até ser alegre pra gente, que tem pai e mãe, mas aí vem os comentários das pessoas que perderam os pais e desabafa na página.

E quando foi que vocês começaram a perceber que a brincadeira de vocês tinha potencial para virar negócio? 
Ariane: No fim do primeiro mês a gente já estava percebendo. Era muito rápido o crescimento, coisa que nenhuma das marcas que a gente trabalhava em agência conseguia. 
Jéssica: Demoramos um pouco para começar a acreditar que poderia virar algo maior, sempre pensávamos que ia acabar logo, era só uma brincadeira, mas com o tempo a gente viu que as pessoas gostavam mesmo do Indiretas do Bem, usavam aquilo para prestar homenagem, desabafar. Virou um movimento muito forte, aí eu e Ari “casamos”. 

Como assim? 
Jéssica: Percebemos que muita gente estava começando a copiar nossa ideia e corremos atrás de registrar isso. Aí descobrimos que a gente precisaria abrir uma empresa. Fomos no cartório, abrimos a empresa, registramos tudo direitinho para poder vender camisetas, papelaria, etc. 
Ariane: Somos praticamente uma mini agência hoje, produzindo conteúdo digital, atendendo clientes.

Mas o que vocês ganham hoje é o suficiente para largar os trabalhos convencionais? 
Ariane: Como eu não preciso pagar aluguel, consegui sair do trabalho e hoje ganho o que ganhava na agência.
Jéssica: Eu ainda tenho que pagar aluguel [risos]. Mas com a Ari dando esse gás na empresa agora, muito em breve eu largo o emprego só para cuidar do Indiretas.

Mas quanto vocês ganham exatamente? Podem falar?
Ariane: Ah, por volta de uns 10 mil reais por mês. Mas é muito mais corrido que o antigo trabalho. As pessoas acham que trabalhar no negócio próprio é mais tranquilo, mas tem toda a parte de logística, atendimento, posts no Facebook, relatório para o cliente…
Jéssica: Isso sem contar que tem cliente que acha que está lidando com uma mega agência. Mandam briefing pronto, pedem inúmeras alterações. E sou só eu e a Ari.


Vai lá: http://indiretasdobem.com.br/blog

https://instagram.com/instadobem
http://pinterest.com/indiretasdobem

Crédito: Indiretas do Bem
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