Era uma vez duas ladies
Tomar um simples brunch nessa cidade nos exige um certo leque de conhecimento, mesmo que superficial. É domingo, dia de não pensar, dia de deixar o cérebro em casa. Ainda assim, para acompanhar qualquer conversa, você tem que chegar aos lugares dominando informações como a biografia de Andy Warhol, saber que em Los Angeles os atores só quebram a cara (os que não quebram, vocês acabam conhecendo no cinema), que a Croácia é o que há para férias de verão, que o discurso do Lula na ONU foi considerado chato pelos entendidos e que a guerra do Iraque... bem, deixa pra lá. Quando o assunto é Iraque, principalmente discutido por quem já esteve lá, como o Eric e mais a diplomata da missão americana, é melhor partir para um papo paralelo com Ingrid.
Nascida em Manhattan, e criada no Greenwich Village, onde fica sua escola, ela reclamava que queria morar no campo. Seu pai tentava convencê-la de que não é bem assim: "Imagina quando você crescer e não precisar de ninguém para te buscar e te levar de carro", dizia ele. E eu completava: "Quê? Imagina você, linda, bem articulada e antenada sem um cinema em volta! E, pior, desejar um sorvete do Ben & Jerry's, de cereja e chocolate, o Cherry Garcia, às 4 da manhã... e você no mato, sem ter uma deli na esquina! No way, sweetheart!".
O papo continua quando, de repente, ao meu lado, surge mais um integrante à mesa. Ginger (em português, gengibre), uma cadelinhaYorkshire, que saca a cabeça para fora de uma bolsa, no colo da atriz off-Broadway. Escondida do garçom e sem dar um piu, ou latido, ela estava lá o tempo todo, imperceptível. Ingrid não se conteve e passou o resto do brunch fazendo chuca-chuca na cachorrinha - debaixo da mesa. E eu no meio. Por sinal, levar criança e cachorro para eventos sociais, como acontece em Nova York por falta de babá, faz com que, tanto um quanto outro, aprendam a se comportar em lugares públicos. Tratava-se de duas ladies. De todos os vastos currículos daquela mesa, Ingrid e Ginger foram as campeãs.