Um belo verão: romance lésbico e feminismo
Filme francês retrata história de amor entre duas feministas e a importância da luta das mulheres nos anos 70. Conversamos com a diretora
Ao som de Janis Joplin, as personagens do recém-lançado Um Belo Verão saem às ruas de Paris contra o machismo. O ano é 1971, quando acontece de maneira explosiva uma grande onda do feminismo. Reuniões em universidades, panfletagens e ação direta: as mulheres que estão ali, na luta, não têm medo de mostrar suas reivindicações, que vão desde salário à participação em decisões na sociedade.
No meio de uma dessas ações, Delphine, uma jovem de 23 anos que vive em uma fazenda com os pais no interior da França, se depara com a chance de ajudar Carole, ameaçada por um homem. Ela não hesita e, quando percebe, está dentro de um ônibus com aquele grupo de militantes políticas, algo totalmente incomum em seu universo caipira. Ao questionar o por que de estarem ali, agindo daquela maneira, a resposta vem em uníssono. "Pelos nossos direitos".
"Eu tinha vontade de filmar essa época, esse movimento, essas mulheres. Acho elas livres, lindas, inventivas. Completamente o contrário do que se diz por aí", conta Catherine Corsini, a diretora do longa. Quem interpreta Delphine é Izïa Higelin, já Carola é interpretada por Cécile de France. Na trama, as duas se envolvem juntas na luta e acabam vivendo um romance lésbico, que é dificultado por uma família tradicional de um lado, e um marido do outro.
Catherine divide a vida com uma mulher, Elisabeth Perez, que também assina a produção da obra. A cineasta faz questão de lembrar que a homofobia não só ainda existe, como é o motivo para casos de violência pelo mundo. "O filme mostra a diferença em um ano que ser gay era muito mais tabu, algo passível de prisão ou de internação", pontua. Para ela, o importante é "viver de cabeça erguida, não ceder ao medo e viver a vida".
A diretora se considera, sim, feminista e acredita que o movimento de mulheres daquela época mudou a vida de todos. "Hoje a luta continua, claro. Mas imagina se não pudéssemos escolher tomar pílula?", questiona. "Uma mulher que não é feminista talvez apenas não tenha, ainda, se dado conta de seu feminismo... Porque é praticamente impossível não ser."
Ao final do filme, já em 1976, a personagem de Cécile mostra uma clínica de aborto e mulheres em busca de mais informações sobre contraceptividade. Àquela época, e ainda hoje, essas informações eram totalmente restritas. Catherine dividiu com as atrizes que fazem parte do elenco seu estudo sobre as pautas feministas francesas, "para que elas pudessem se inteirar da importância das lutas como a pela legalização do aborto".
Um Belo Verão está em cartaz nos cinemas. Assista trailer abaixo.