15 anos de Tpm
Há 15 anos, a Tpm celebra a liberdade e a imperfeição. Há 15 anos, a Tpm é outra conversa
O mundo era um lugar estranho há 15 anos. Mais estranho do que o lugar estranho que é hoje.
Parecia inevitável que o Orkut e o Brasil dominariam o planeta. A Lei Maria da Penha não existia. As Torres Gêmeas seguiam firmes como pirâmides egípcias. Só quem tinha bastante dinheiro ou planos terroristas viajava de avião, todo carro guardava um guia de ruas do tamanho de um paralelepípedo, apenas crianças e carteiros andavam de bicicleta. Meganavios de cruzeiro dominavam o Mediterrâneo sem sinal de barcos superlotados de imigrantes. Sex and the City era vista como uma série sobre empoderamento feminino e não sobre mimimi e consumismo desembestado. Aliás, somente discípulos do educador Paulo Freire usavam a palavra “empoderamento”. Mesmo assim, dificilmente ao lado da palavra “feminino”. Girl power era uma expressão bem mais comum, curiosa combinação de Spice Girls com Gloria Steinem. Nem a Funarte, nem Wall Street, nem o Complexo do Alemão haviam sido ocupados. A debutante Lena Dunham sofria bullying no colégio, o YouTube ainda estava para ser inventado e táxi se chamava com um dedo, que surpreendentemente dispensava qualquer conexão com smartphone. Mulher era tratada como mulherzinha por praticamente toda a mídia.
Revistas, sites e programas de TV femininos só enxergavam um tipo de mulher. Uma mulher que acreditava em ficar jovem para sempre, em exercício para zerar a barriga em 8 minutos, em 100 maneiras infalíveis de enlouquecer seu homem na cama, em looks certeiros para ter sucesso no trabalho e, provavelmente, em saci-pererê, príncipe encantado e nas histórias do Ryan Lochte.
Há 15 anos, Tpm é outra conversa.
Insiste que lugar de mulher é todo e qualquer lugar. Repete que o universo feminino vai do bóson de Higgs à biomassa de banana-verde, da música nova da MC Soffia ao rímel, da taxa de juros à Simone de Beauvoir – e além.
Estampa na capa e nas redes sociais mulheres jovens e velhas, brancas e negras, héteros e gays, Marina Silva e Marcela Temer, famosas e apostas, remediadas e ricas, apocalípticas e integradas, magras e gordas, Fernanda Montenegro e Jout Jout.
Celebra a liberdade e a imperfeição. Defende a legalização do aborto, a regulamentação das drogas, a igualdade de oportunidades e o respeito às diferenças. Fala sério quando não tem graça e também ri para corrigir os costumes. Mais humor, por favor.
Acredita que a mulher não existe, o que existe são infinitas maneiras de ser mulher. Cerca de 3,7 bilhões de maneiras, para ser mais preciso, uma para cada mulher do mundo. E esse número só cresce. A Karol Conka já explicou: é o poder, aceita porque dói menos.
A partir da página 29 da edição #168 impressa, reunimos alguns dos melhores momentos dessa jornada. Que bom que você veio junto.
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