Do inferno para o parque
Ali no Central Park, rodeados por árvores, lagos e apartamentos de milhões de dólares, aprendemos como as crianças refugiadas fazem seus próprios brinquedos usando lixo, como o MSF monta os banheiros públicos, como as mulheres carregam galões de 20 litros (repito, vinte litros) de água e andam com eles por quilômetros, além de carregar seus bebês. Cadê a ajuda masculina? Os homens estão nas guerras.
Ainda experimentamos o BP-5, barra de biscoito, algo entre maizena e paçoca, que contém as proteínas, vitaminas e calorias que um adulto precisa por dia. Com nove barras, obtém-se as duas mil calorias mínimas diárias. Bebês recebem uma papinha de amendoim numa embalagem que lembra comida de astronauta.
Aí vem a parte das vacinas, dos traumas e, nossa!, da cólera. Melhor nem contar o que é um hospital com crianças evacuando por todos os lados. Ainda vemos uma pulseira de papel, com cores que vão de verde (bem-nutrida) à vermelha. Ela serve para medir o grau de desnutrição - basta colocar na parte superior do bracinho da criança. Se a circunferência fechar na cor vermelha, a chamada Red Zone, a criança vira prioridade. Por milagre, não chorei. São nove milhões de crianças refugiadas. E este é o nome da campanha feita pela Nike para ajudá-las. Até o nosso Ronaldo está nessa. Quem visitar a Nike Store on-line, vale comprar a camiseta de 20 dólares para ajudar também. Já tenho uma.
A MSF nasceu há 35 anos na França. Atua em 70 países, em conflitos, tsunamis, crises. Incluindo o Brasil. Em 1999, ganhou o Prêmio Nobel da Paz. Recebe dinheiro de governos, empresas, pessoas físicas - mas se recusa a receber de farmacêuticas, empresas de tabaco e, desde 2004, do governo americano. Também mantinha um programa semanal no canal National Geographic - eu não perdia um e chorava assistindo a todos; incluindo as reprises. Fui a outra exposição, na Union Square, que nos ensinava sobre as doenças negligenciadas por farmacêuticas. E há poucos anos entrevistei aqui em Nova York Morten Rostrup, na época diretor internacional do MSF.
Morten é um médico norueguês que deixou os modernos hospitais de Oslo para salvar vidas em lugares que mal têm estetoscópio. Logo depois da nossa entrevista, ele chegou a ser seqüestrado no Iraque. Foi solto. Esqueça papo-celebridades - são esses os caras que fazem a vida de um jornalista valer a pena.
* A exposição segue para o Prospect Park (Long Meadow at Grand Army), no Brooklyn, entre 20 e 24 de setembro, das 9h30 às 18h30