Debora Ivanov: uma mulher à frente da Ancine
Primeira diretora-presidente da Agência Nacional de Cinema, ela quer aumentar a presença feminina no audiovisual brasileiro
Usado em diversos países, o teste de Bechdel identifica o nível da presença de mulheres na ficção por meio de três perguntas simples e precisas: o filme/série possui pelo menos duas personagens femininas com nomes?; elas conversam entre elas?; sobre um assunto além de homens?. "A maioria dos filmes não passa", conta Debora Ivanov, diretora-presidente da ANCINE, que lançou a avaliação no Brasil em abril, no Seminário Internacional Mulheres em Foco no Audiovisual.
Debora é a primeira mulher à frente da Ancine (Agência Nacional de Cinema), "que tem como missão regular, fomentar e fiscalizar o setor". Mas ela já esteve do outro lado: com mais de 60 produções no currículo, foi sócia da Gullane e produziu diversos filmes, entre eles Que Horas Ela volta? (2015), de Anna Muylaert, e o elogiado O Lobo Atrás da Porta (2013), de Fernando Coimbra. Uma das suas missões era dialogar o tempo todo com a Ancine. "Estou aqui por conta disso."
Desde que assumiu a presidência da agência em março, ela tem como meta aumentar a participação de mulheres no audiovisual brasileiro. Para isso, apoiou uma pesquisa em que foram avaliadas mais de 2.000 obras produzidas para TV e cinema, registradas na Ancine, no período de um ano.
O relatório, apresentado em março, identificou que apenas 17% das obras são dirigidas por mulheres, que assinam 21% dos roteiros e 8% fotografia. "Aparecemos mais na produção executiva (41% ), o que também é importante. Mas protagonizando histórias, construindo narrativas, subindo ao palco, tendo maior visbilidade estão, sem dúvida, os diretores", diz Debora. "Cabe a nós nos colocarmos mais", defende. "Tive essa postura de 'tudo bem, deixa você liderar'. Minha consciência foi tardia."
A diretora da Ancine lembra que Anna Muylaert abraçou o tema e percorreu o país falando da dificuldade enfrentada por mulheres para liderarem produções. "Ela sempre ressaltou que elas aparecem menos à frente de ficções e mais de curtas-metragens e documentários, por serem produções mais baratas."
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A percepção de Muylaert foi confirmada em dados pela pesquisa. "A Laís Bodanzky conta que quando um mulher em um set de filmagem ou em uma produção fala um pouquinho mais duro, com uma objetividade mais seca, dizem que ela está sendo bruta. E quando um homem age da mesma forma, ele é pragmático."
Mas as mulheres estão se organizando: Debora lembra que no fim de 2015 foi criado um grupo no Facebook, Mulheres do Audiovisual Brasil , que tem hoje quase 14 mil integrantes. Deste, conta, vários outros se formaram para promover diversas ações de conscientização e capacitação e pedir aos governos locais que os editais tenham mais mulheres nas comissões de seleções.
Ela ainda lista as Diretoras de Fotografia do Brasil, que se organizaram para combater a ideia de que não existem mulheres aptas para a função no audiovisual nacional, e de críticas de cinema, Coletivo Elviras, que aplicam o teste de Bechdel e divulgam os aprovados.
Além de Muylaert e Bodanzky, Debora destaca o trabalho de Vera Egito, diretora de Amores Urbanos (2016) e que prepara Sahar; Daniela Thomas que lança Vazante (2017) em novembro; Julia Murat, que teve seu Pendular (2017) eleito em fevereiro melhor filme pela crítica no Panorama, a principal seção paralela do Festival de Berlim; Juliana Rojas, que, ao lado de Marco Dutra, foi premiada em agosto no Festival de Locarno por As Boas Maneiras (2017); Caroline Fioratti, de Meus 15 Anos (2017), que conquistou mais de 700 mil espectadores, e Camila Pitanga, que assinou com Beto Brant Pitanga (2017), documentário sobre seu pai, o ator Antonio Pitanga.
Dos nove longas selecionados para a mostra competitiva do Festival do Rio, que acontece entre 5 e 15 de outubro, sete são dirigidos por mulheres, uma lista que vai de de Carolina Jabor (Aos Teus Olhos) a Lúcia Murat (Praça Paris). "Acho que estamos começando a virar o jogo", diz Debora.
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Imagem principal: MinC/Divulgação