Conhecer o próprio corpo é um ato revolucionário

Se tocar é fundamental para que as mulheres se apropriem do prazer, tanto consigo mesmas quanto em relações afetivas

apresentado por Intimus

Apesar de todos os avanços que conquistamos nas últimas décadas, explorar o nosso próprio corpo ainda é um estigma para muitas mulheres. Dados de pesquisa divulgada em 2020 sobre como a brasileira se relaciona com a sua região íntima mostrou que metade delas identificou erroneamente a vagina – muitas vezes confundida com a vulva, nome dado para a parte externa do aparelho genital feminino, enquanto a vagina é a cavidade dentro da vulva. O levantamento foi feito por Intimus® em parceria com a Nielsen Brasil e a Troiano Branding e ouviu quase 400 mulheres, de 16 a 45 anos pelo Brasil.

“No consultório, atendo uma enorme quantidade de meninas e mulheres que não se conhecem. Elas deixam essa parte para os médicos ou para os parceiros, mas nunca para si mesmas”, conta a ginecologista Rebeca Gerhardt, parceira da ação Curta o Ciclo, festival de curtas promovido por Intimus® com temas como saúde íntima, autocuidado, sexualidade e dignidade menstrual.

A ginecologista Rebeca Gerhardt - Crédito: Divulgação

Segundo a médica, o autoconhecimento é fundamental para que as mulheres se apropriem do próprio corpo, não só pelo prazer, mas também pela saúde. “Já atendi pacientes que chegam com lesões e não sabem me dizer se elas sempre estiveram lá ou se apareceram recentemente. Tudo porque não se encaram”, relata.

Uma sugestão indicada por ela é colocar um espelho em frente à genitália e se tocar sem medo de ser feliz. Apesar de simples, muitas pacientes relutam por achar feio ou ter nojo. “Nosso corpo foi colocado historicamente num lugar reservado apenas à reprodução e qualquer outro uso dele além de servir de penetração do outro ou para a saída de um bebê é recriminado”, explica Rebeca.

Ainda de acordo com o estudo Os Estigmas da Vagina, uma em cada quatro mulheres não tem o costume de tocar a vulva, 15% não têm o costume de olhar para ela, e 68% das entrevistadas relatam ter algo de que não gostam nas partes íntimas – os pelos aparecem com 33%, seguidos da cor (18%), cheiro (18%), aparência (17%) e tamanho (15%).

Para a produtora de conteúdo Luana Carvalho, o domínio do corpo feminino é ancestral e remonta desde a Inquisição, em que as mulheres eram mortas acusadas de bruxaria. “O patriarcado não quer que a mulher tenha controle de seu corpo – principalmente as negras, indígenas e as não brancas. Uma mulher que reivindica seu prazer mexe com as estruturas sociais vigentes, como o machismo, o racismo e o capitalismo. Conhecer o próprio corpo é um ato revolucionário”, defende ela, que criou a hashtag #GordaNãoPode no Instagram, ironizando as regras inventadas para os corpos gordos.

Luana Carvalho, produtora de conteúdo - Crédito: Divulgação

Se o prazer já é negado para as mulheres em geral, para um corpo gordo ele se torna ainda mais proibitivo. Luana já perdeu a conta de quantas vezes foi tachada de doente e teve seu prazer deixado de lado.  “As pessoas pensam: além de ser mulher, gorda, ainda quer ter prazer? Corpo gordo e liberdade são antônimos”, explica.

Sexualidade Positiva

Fundadora da Casa Prazerela, em São Paulo, espaço focado no prazer feminino, com cursos e experiências orgásticas, Mariana Stock acredita que se apropriar do corpo é fundamental para que as mulheres conquistem a autonomia, e tocar a própria vulva não deveria ser diferente de tocar a perna ou a barriga. “É conhecendo o corpo e o explorando como um verdadeiro laboratório que vamos saber do que gostamos. O corpo passa então a ser um aliado, e não objeto para o outro. O autoconhecimento é a chave para autorização do sentir. Quando a mente autoriza, o corpo ocupa”, diz. 

A comunicadora e psicanalista, que recebe na Casa Prazerela desde meninas de 18 anos até senhoras com mais de 80, lembra que exploramos pouco o próprio corpo e o prazer porque há uma repressão muito forte por parte da sociedade, que não nos autoriza sentir. “Todas as mulheres carregam essas marcas de repressão e de castração com o corpo. A geração Z está inserida em um contexto um pouco melhor, o mundo finalmente vem dando sinais de mudança”, diz, sobre as meninas nascidas entre a segunda metade dos anos 90 o início do ano 2010. 

Mariana Stock, fundadora da Casa Prazerela, em São Paulo, espaço focado no prazer feminino - Crédito: Divulgação

Para mulheres, falar de sexo ainda é um grande estigma. Pouco se fala e, quando se fala, ele está quase sempre atrelado a uma conotação negativa, como doenças sexualmente transmissíveis e gravidez indesejada. Por isso, Mariana Stock gosta do termo sexualidade positiva, uma nova forma de ocupar nossos corpos. “A base da sexualidade feminina é doentia, castradora, está sempre no campo do medo. Mas a sexualidade é vitalidade, é potência, é vida, é saúde”, explica.

Festival

Um dos coletivos participantes do festival é o Garotas do Motion, de São Paulo, que desde 2017 reúne mulheres, pessoas trans e não binárias do universo da ilustração, do motion graphics e da animação. O curta será inspirado no universo psicodélico de Alice no País das Maravilhas. “Para a animação, pesquisamos muito a geração Z e a ideia é abordar a sexualidade não como uma coisa performática, que a gente está acostumada a ver em filmes, ela vai muito além”, conta Cristianne Ly, fundadora do grupo.

Cristianne Ly, fundadora do grupo Garotas do Motion - Crédito: Divulgação

A campanha Curta o Ciclo, é uma ação da campanha da linha Intimus® Antibacteriana e Defesas Naturais e conta ainda com outros quatro coletivos femininos de audiovisual: Negritar (PA), Movielas (DF), Arco-Íris (RS) e Olhos Abertos (BA), cada um representando uma região do Brasil. Os temas serão transformados em vídeos de curta-metragem, inspirados em dúvidas e depoimentos de consumidoras.

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