Engajadas na folia

Blocos comandados por mulheres e com mensagem feminista conquistam protagonismo no Carnaval de rua de SP

por Carlos Messias em

O Carnaval de rua de São Paulo mostra como diversão e folia também são formas de resistência. E a causa feminista ganha protagonismo com blocos liderados por mulheres que expressam suas reivindicações por meio das letras das músicas, das alegorias carnavalescas e, principalmente, pela maneira como se organizam.  

E no Carnaval 2019 elas chegam com tudo. Conheça cinco blocos feministas de São Paulo nos quais a farra vem acompanhada de respeito e a conscientização.

Ilú Obá De Min

Ilú Obá de Min - Crédito: Luciana Cury / Divulgação

Em 7 de julho de 1968, o Movimento Negro Unificado nascia na escadaria do Theatro Municipal com a leitura pública, em plena ditadura militar, de sua carta de princípios. Neste Carnaval, em uma parada do cortejo do bloco feminista negro Ilú Obá De Min no mesmo local, esta carta será lida. “É importante ocupar o espaço público com a cultura negra e dar às mulheres negras o direito ao lugar de fala”, diz Beth Beli, uma das fundadoras do Ilú. Depois de reunir 45 mil pessoas no ano passado, o bloco chega ao seu 15º Carnaval com o tema Negras Vozes – Tempos de Alakan!, homenageando todos os movimentos negros femininos desde 1968, com uma corte de 30 bailarinos e 12 pernas de pau representando de Iansã a Angela Davis, passando por Anastácia.
Concentração: sexta-feira (1/3), a partir das 19h, na pça da República

Pagu

Bloco Pagu - Crédito: Marcos Bacon/ Divulgação

Um dos maiores fenômenos do Carnaval paulistano, o bloco viu seu público saltar de 7 mil, em 2017, para 25 mil pessoas, em 2018. E agora chega ao seu terceiro ano nas ruas com uma bateria maior, que passou de 80 para 130 mulheres. “Dado que o Carnaval é o momento do ano em que a mulher mais sofre assédio e violência, um bloco feminista como o Pagu é uma proposta para fazer as pessoas se divertirem e, ao mesmo tempo, amplificar as vozes das mulheres com segurança”, diz Mariana Bastos, uma das criadoras do bloco. Com as cantoras Bárbara Eugênia e Raquel Tobias, além de Ana Cañas, que fará participação especial, o Pagu toca clássicos da música brasileira nas vozes de mulheres, como Elis Regina e Gal Costa, em versão Carnaval. Em meio ao Centro nervoso de São Paulo, o frenesi é extremo.
Concentração: terça-feira (5/3), a partir das 14h, no Centro (local a definir)

Siga bem caminhoneira

Crédito: Coletivo Amapoa / Divulgação
Crédito: Coletivo Amapoa / Divulgação
Crédito: Coletivo Amapoa / Divulgação
Crédito: Jack Moraes / Divulgação
Crédito: Jack Moraes / Divulgação

Embora a presença de blocos feministas em São Paulo não seja novidade, o bloco Siga Bem Caminhoneira surgiu em 2017 para preencher uma lacuna de representatividade lésbica no Carnaval paulistano. “Precisamos criar um ambiente seguro para mulheres lésbicas e negras, que são tão fetichizadas”, diz Leka Peres, uma das fundadoras. “É importante que olhemos umas pelas outras.” No sábado pós-Carnaval, o bloco apresenta seu repertório composto pelo cancioneiro carnavalesco popular, em paródias que valorizam a causa: “Araketu é bom demais” vira “ser sapatão é bom demais”; “meu pau te ama” se torna “minha xota te ama” e assim por diante.
Concentração: sábado (9/3), a partir das 14h, na pça General Craveiro Lopes, Bela Vista


Dona Yayá

Em seu 20º ano de Carnaval, o Dona Yayá é o mais antigo bloco feminista em atividade na capital paulista. Surgiu como uma iniciativa da União de Mulheres do Município de São Paulo pela recuperação da Casa de Dona Yayá, onde viveu e foi mantida em cárcere privado Sebastiana de Melo Freire (1887-1961, a Dona Yayá), aristocrata solitária e empoderada que foi taxada como louca, embora o diagnóstico, assinado por Franco da Rocha, seja controverso. A causa teve apoio da luta antimanicomial, a casa se tornou um centro de preservação cultural da USP e o bloco, com repertório autoral, que tradicionalmente sai no domingo de pré-Carnaval, segue “valorizando a memória das mulheres”, como define uma das fundadoras, Amelinha Teles. O Dana Yayá vai às ruas no dia 24 de fevereiro, exatos 87 anos após a conquista do voto feminino no Brasil. Ao final do cortejo, a festa continua na Casa de Dona Yayá.
Concentração: domingo (24/2), a partir das 16h, na rua Coração da Europa, 1395, Bela Vista


Agora vai

Crédito: Divulgação
Crédito: Divulgação

Com bateria mista formada por mulheres, trans e gays, o bloco feminista Agora Vai cria desde 2004 uma atmosfera libertária e engajada com letras provocativas. “Há três anos, percebo uma coisa muito linda no Carnaval de São Paulo, que é as mulheres pegando metrô de maiô e roupa transparente, sentindo-se muito mais livres e à vontade. Por isso a importância de campanhas de conscientização”, diz a diretora do bloco, Paula Flecha Dourada. Formado por membros da classe teatral paulistana, como a atriz Carlota Joaquina, o Agora Vai traz personagens alegóricos, como a Calunga Jurema (“Jurema aguenta, que a bala é de borracha e o spray é de pimenta”, diz a letra de um dos temas) e a estreia da Miss Bagaçei (“que coisa gostosa, me esbagaçei no suingue da dengosa”), “afinal, a mulher também tem o direito de se esbagaçar”, desabafa Paula. O cortejo ainda traz a ala das baianas, com mulheres negras de terreiro comandando as batucadas.
Concentração: terça-feira (5/3), a partir das 15h, na esquina das ruas Brigadeiro Galvão e João de Barros, Barra Funda

Créditos

Imagem principal: Coletivo Amapoa / Divulgação

Fotos: divulgação

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