Websérie é coisa de mulher

10 produções em que a representatividade feminina vai além dos ainda tolos tabus da TV

por Carolina Moreira em

Produções audiovisuais geralmente de baixo custo, distribuídas em formato de episódios curtos, hospedadas em plataformas de distribuição de vídeo gratuitas ou pagas e que dependem da divulgação exclusivamente online para ampliar seu alcance. O fenômeno webséries é algo relativamente novo e que tem ganhado cada vez mais espaço - e não só na internet, mas também fora dela.

Dois fatores eram impeditivos para a realização de uma produção audiovisual há alguns anos: o difícil acesso aos equipamentos de qualidade que, além de escassos, eram caros e a inexistência de uma forma de distribuição eficiente que fizesse o trabalho ser conhecido. Por isso, antes da popularização da internet, a produção de conteúdo audiovisual sempre esteve ligada às grandes redes de comunicação. Com essa popularização e o acesso simplificado à aparelhos com câmeras cada vez melhores, porém, tornou-se cada vez mais fácil criar uma narrativa seriada independente e hospedá-la gratuitamente na internet.

LEIA TAMBÉM: 10 motivos para assistir a série Easy, da Netflix

Em um fluxo aparentemente natural, grupos que historicamente não são representados de forma satisfatória pelas narrativas televisionadas tomaram este meio para si e criaram conteúdos criativos e cheios de potencial na internet. Por isso, se proporcionalmente é complicado falar sobre a representação de mulheres negras, lésbicas, transexuais ou que fujam a qualquer estereótipo padronizado na televisão tradicional, em narrativas seriadas disponíveis online é cada vez mais comum ver o protagonismo feminino em suas mais diversas versões ser reforçado, visibilizado e celebrado.

Com números que impressionam - The Misadventures of Awkward Black ultrapassa os 12 milhões de visualizações no YouTube e Broad City, os 6 milhões de visualizações, na mesma plataforma -, as webséries têm merecido cada vez mais atenção das grandes redes de televisão. Da lista de dez webséries que apresentamos nesta matéria, quatro já viraram produções de canais de televisão após o sucesso que fizeram online.

Então prepare a pipoca, dá uma sacada na lista abaixo e aperte o play em dez webséries que reforçam o protagonismo feminino.

Brown Girls
A história de uma amizade que não se encontra todo dia na TV: entre duas meninas negras. Em um diálogo com a proposta de Insecure, que também foge à regra, a websérie é vagamente baseada em uma história da própria criadora, Fatimah Asghar, e fala sobre a amizade entre duas mulheres com histórias de vida completamente diferentes, que dão suporte uma à outra e passam juntas pelas dores e delícias de ter 20 e poucos anos. Leilah (Nabila Hossain) é uma escritora paquistanesa e Patrícia (Sonia Denis), uma musicista americana livre de pressões sociais quando o assunto é sexo. Ambientada em Chicago, a websérie foi lançada em fevereiro de 2017 e conta com cinco episódios disponíveis em seu site oficial, mas que também podem ser vistos no canal Vimeo da Open TV (Beta).

Broad City
Antes da série estrear na televisão no canal Comedy Central, Ilana Glazer e Abbi Jacobson já haviam deixado seu legado pela web, com 26 curtos episódios e alguns vídeos extras. Após algumas desilusões na carreira, as meninas resolveram unir forças e começar um projeto independente em formato de websérie para ser postado no Youtube, em meados de 2009. Assim nasceu Broad City. O sucesso dos vídeos, que tem de 3 a 4 minutos cada, cresceu e de tão grande chamou a atenção de Amy Poehler (Saturday Night Live), que, além de bancar sua versão para televisão, ainda fez uma participação no último episódio da segunda temporada do show. Juntas, as amigas criaram um novo tipo de comédia em que a ideia central não é aprender, dar lição ou alcançar algum grande objetivo, e sim curtir os prazeres e desprazeres da vida levemente. Num bom e velho carpe diem. A primeira temporada da websérie pode ser vista no Youtube.

Red
A websérie brasileira lançada em 2014 gira em torno do encontro entre as atrizes Mel Béart (Luciana Bollina) e Liz Malmo (Ana Paula Lima). As duas se conhecem durante as gravações de um curta-metragem e acabam levando para a vida real o envolvimento amoroso que viviam na ficção. A história criada por Viv Schiller e Germana Belo é produzida com investimento baixíssimo e  surpreende pela garra. O projeto é levado adiante adiante por meio de campanhas virtuais de ajuda financeira e a narrativa é bem construída, as atuações convencem e o desenvolvimento é instigante. Todos os episódios de Red podem ser vistos no canal da série no Vimeo.

An African City
Cinco jovens mulheres livres vivendo suas vidas como bem entendem e aproveitando sem pudores quando o assunto é sexo, relacionamentos e trabalho. Poderia ser o enredo do famoso seriado americano Sex and The City, mas é o resumo de An African City mesmo. A websérie se passa em Gana e conta a história das amigas Nana Yaa, Makena, Zainab e Sabe. A produção ganhou o mundo por se tratar de um retrato que foge completamente ao senso comum no que diz respeito ao imaginário social dos países africanos. A criadora do show, Nicole Amarteifio, afirmou que a ideia da websérie é mostrar um lado invisível da cultura de Gana, já que o continente africano é marcado por tantas guerras e pobreza. Os episódios tem duração de cerca de 13 minutos e sua primeira e segunda temporada estão disponíveis no canal oficial da produção no Youtube.

Yes we cat!
Com formato flexível, essa websérie destoa das demais que estão nesta lista por se tratar de uma espécie de talk show com entrevistas. Yes We Cat é produzida pela organização Think Olga e mostra entrevistas com mulheres maravilhosas e atuantes em diferentes nichos do feminismo e da representação feminina. A ideia é falar sobre moda, conteúdo online, cultura geek, empreendedorismo, maternidade e muito mais com a participação especial de diversos gatinhos fofinhos passeando, brincando e trazendo amor e diversão aos bate-papos. A websérie foi pensada em parceria com a ONG sosgatinhos e contou com a participação de mulheres como Semayat Oliveira(Nós, mulheres da periferia), Andrea Dip, Jessica Tauane (Canal das Bee), Jout Jout Prazer, Aline Valek, Ana Paula Freitas, Viviane Duarte, Bia Granja, Thaiz Leão Gouveia (Mãe Solo), Helen Ramos (Hel Mother), Ju Romano e Nátaly Neri.

Her Story
Uma mulher apaixonada por outra mulher. A trama de Her Story bem que poderia se tratar de mais uma narrativa lésbica, e isso já seria muito importante, mas ela é tão mais do que isso. Delicada e necessária, a websérie narra a jornada de uma mulher transexual que se apaixona por uma mulher cisgênero lésbica. Para além do romance, o roteiro mostra a vida de mulheres trans moradoras de Los Angeles que desistiram do amor, quando, de repente, após alguns encontros casuais, suas esperanças são renovadas. Em seus seis episódios, a primeira temporada tem um arco muito bem construído e aborda temas como preconceito, relacionamento abusivo, empoderamento e questão de invisibilidade trans. Outro ponto muito importante da narrativa é que, contrariando a comum escolha de atrizes e atores cisgênero para interpretar personagens trans, Her Story não só é feita por atrizes trans, como também é dirigida e criada somente por pessoas LGBT’s. A websérie foi indicada ao Emmy na categoria “Programa de Entretenimento Ao Vivo de Ação Curta”, em 2016, e você pode vê-la neste link.

Septo
É uma websérie brasileira nordestina produzida no Rio Grande do Norte. Só por ser uma produção que foge ao eixo Rio-São Paulo ela já merecia entrar nesta lista. Mas vai além: a narrativa mostra a garra de uma equipe que, com baixo custo, consegue produzir um retrato consistente e seguro de uma história que retrata algo que todos nós passamos na vida: lidar com recomeços. Septo trata da caminhada de sua personagem principal,  Jéssica, em busca de ser uma versão melhor de si mesma. É sobre decidir ser feliz e assumir o peso e responsabilidade dessa felicidade, deixar de lado o que não acrescenta. É uma história LGBT inspiradora e que merece ser vista. Todos os episódios estão disponíveis no canal  Brasileiríssimos, no Youtube, e a sua produção é feita por meio de campanhas coletivas de financiamento online.

The Misadventures of Awkward Black Girl
O sucesso da websérie criada e estrelada por Issa Rae pode ser atribuído a diversos fatores: à forma leve com que as aventuras dessa mulher negra é retratada com veracidade na narrativa, à qualidade estética da produção ou ao simples fato da personagem principal ser “gente como a gente”. Sempre se metendo em situações embaraçosas, não fica muito difícil associar as trapalhadas situações da vida de J às nossas próprias. A websérie conta com 15 episódios disponíveis, mais de 12 milhões de visualizações e, depois de tanto sucesso, inspirou a série Insecure - produzida e exibida pela HBO.

Latitudes
A série é um projeto transmídia que inovou ao apresentar a mesma narrativa em três formas diferentes: filme, websérie e série de TV. Estrelada por Alice Braga e Daniel de Oliveira, a trama fala sobre encontros e desencontros de um casal que não têm raízes fixas e que se encontra em hotéis, aeroportos e estações de trem pelo mundo. Conhecida também como “um filme em oito destinos”, a narrativa pode ser vista no canal oficial do projeto no YouTube e cada episódio tem cerca de 12 minutos.

3%
Este é o nome de uma série lançada no ano passado pela Netflix e que ficou famosa por ser a primeira série original brasileira do catálogo. Mas, muito antes disso, a websérie 3% já fazia sucesso na internet. Com episódios hospedados no Youtube, a trama distópica se passa numa espécie de futuro alternativo e a história é contada a partir de quatro personagens diferentes que mostram um processo de seleção que escolhe apenas 3% dos participantes deles para viver em um espaço com fartura. O material foi gravado com um incentivo do Ministério da Cultura (Minc) e por muito tempo Pedro Aguilera e as diretoras Daiana Giannecchini e Dani Libardi procuraram canais de televisão para dar sequência ao projeto, até que rolou a parceria com a Netflix. A série agora está disponível no canal oficial da série da Netflix no youtube. 

Créditos

Imagem principal: Divulgação

Arquivado em: Tpm / Televisão / Internet / Feminismo