Cinco motivos para terminar com seu médico

“Você nunca vai chegar no futuro enquanto seu passado for presente”

Nunca imaginei que o dia em que eu citaria Carrie Bradshaw, nessa vida, chegaria. Se não me engano, o contexto era alguma das personagens de Sex and the City não conseguir se livrar de um relacionamento insatisfatório com um cara com prioridades muito diferentes. Acho que a frase é um dos raros lampejos de lucidez dos roteiristas, ao deixar de retratar as personagens como consumistas desvairadas agoniadas por ainda estarem com os úteros vazios. Concordo que as mulheres devem abandonar antigos relacionamentos que não as satisfaçam em nome de novas chances ou oportunidades de realização pessoal no presente/futuro. Seja no campo que for.

Achei pertinente começar meu texto dessa forma porque defendo que essa mesma postura não se limite apenas a relacionamentos amorosos. Sou a favor de que ela também seja extrapolada para a relação médico-paciente. Em ambiente de hospital ou consultório. Sendo assim, o post de hoje vai ser um pouco diferente dos outros. Mais "prático", talvez. Mesmo já tendo falado disso no meu blog antigo uma vez, acho importante repetir o tema aqui na TPM nesse começo de ano, que geralmente é quando as pessoas fazem seus check-ups e retornam aos seus médicos para saber como estão. Então, vou enumerar cinco motivos pelos quais eu acho que pacientes devem terminar com seus médicos.

Ele(a) não te ouve

Se seu médico é incapaz de ouvir o que você diz sem te interromper para contradizer ou geralmente releva suas queixas, é hora de dar tchau.Quando eu estava na faculdade, um caso me marcou bastante. Uma mulher, de cerca de 50 anos, que procurou o hospital durante três dias seguidos queixando-se de dor de cabeça. Vi uma série de médicos mandá-la para casa apenas com analgésicos e calmantes, alegando que a mesma era uma “pitizenta conhecida na casa”. Até ela ser encontrada inconsciente na calçada e descobrirem que o “piti” era um aneurisma que havia rompido na cabeça dela.

Ele(a) sempre atrasa

Não importa se é porque ele marca pacientes em excesso para um mesmo horário ou se sempre chega atrasado seja lá de onde for. Se for pelo primeiro motivo, é promiscuidade e ganância.  Imprevistos acontecem, todos sabemos. Mas, se o comportamento se repete, eu considero falta de respeito mesmo. Pacientes também têm compromissos importantes em sua vida que estão sendo desconsiderados.

Vocês são muito diferentes

Se no amor já existe dúvida de que opostos realmente se atraem, não dá para ser inocente e achar que em uma relação médico-paciente é que isso vai funcionar. Se você gosta de conversa-mole, mão na cabeça e de falar os mínimos detalhes de seus sintomas e de todas as doenças que já teve (até sobre aquela terrível caxumba na infância ou o resultado do seu teste do pezinho) não adianta escolher um médico resolutivo, objetivo e formal. Da mesma forma, se você gosta que seu médico exponha os prós e contras de um tratamento para que vocês dois cheguem, juntos, a uma decisão, não escolha um médico autoritário e mandão.

Ele(a) te mantém no escuro

Se alguém está interferindo naquilo que deveria ser a coisa mais importante da sua vida (sua saúde), você deve exigir que ele justifique o que está propondo de forma clara e objetiva. E com termos que você seja capaz de entender. Você não é obrigada a falar mediquês. Mas ele é obrigado a falar de uma maneira que te permita assimilar a informação. E, se ele ficar irritado quando você não entender algo ou tirar alguma dúvida sobre um tratamento que ele indicou, o doutorzão é inseguro ou prepotente. E, consequentemente, inadequado para você.

Ele(a) é incomunicável

Em um mundo com celular, serviços gratuitos de SMS, email, Skype e Facebook, o médico deve estar disponível para sanar eventuais e inesperadas dúvidas à distância. Situações aceitáveis para entrar em contato são o pós-operatório de uma cirurgia a que você tiver sido submetida ou em caso de piora de alguma doença que está sendo tratada, por exemplo. Com limite e ponderação, claro. Por mais que seja difícil acreditar, ele tem sim uma vida particular fora daquele consultório/hospital. Se você o consultou por conta de uma gripe ou amigdalite, por exemplo, não adianta ligar falando que ainda está se sentindo mal. Ele não é o David Copperfield e não terá como ajudar. Entretanto, em caso de emergências, é importante saber que você conseguirá falar com ele.

E um adendo não menos importante: Não é porque um médico foi excelente para algum conhecido seu, que ele vai ser ideal para você também. Quando tive depressão, uma amiga me indicou um psiquiatra “fantástico”. E foi antipatia à primeira vista. Primeiro porque ele tinha mau hálito, segundo porque ele não me ouviu e questionou meu diagnóstico de depressão (eu já era médica formada e tinha todos os sintomas do checklist)  e terceiro porque ele subestimou minha capacidade de entendimento e fez uma analogia entre o que eu estava sentindo e o FUTEBOL. Acho que não preciso dizer que nunca mais voltei.

A OMS (Organização Mundial de Saúde) preconiza como parâmetro ideal de atenção à saúde da população a relação de 1 médico para cada 1.000 habitantes. No Sudeste, há 1/455. No Sul, 1/615. No centro-oeste, 1/640. no Nordeste e no Norte, você vai ter um pouquinho mais de trabalho. As relações são, respectivamente, 1/1063 e 1/1340. Mas não se acomode. Se você não está satisfeito com a dinâmica que tem com seu médico, troque de posto, hospital ou consultório. Você pode escolher o que te faz bem. Em mais de um sentido.

(meu twitter: @mperroni)