Vulnerável, sim

Brené Brown, conhecida pelo TED "O Poder da vulnerabilidade", fala com a Tpm sobre a importância de se reconhecer imperfeito e ter coragem para enxergar a realidade da vida

por Manuela Aquino em

Tudo o que Brené Brown toca se torna grandioso. Seu TED O Poder da vulnerabilidade está entre os cinco mais assistidos no mundo – são mais de 35 milhões de visualizações. Os cinco livros escritos pela assistente social, professora e pesquisadora da Universidade de Houston (Estados Unidos), ficaram no topo da lista dos mais vendidos no The New York Times. Brené também chegou ao menu da Netflix com o talk A Call to courage (um chamado à coragem, em tradução livre) e virou um dos fenômenos do serviço de streaming. 

Crédito: Maile Wilson/Divulgação

Eterna entusiasta do comportamento humano, Brené dedicou duas décadas de sua vida a pesquisar profundamente o assunto. Com os dados levantados, conseguiu dar embasamento científico ao que poderia ser somente autoajuda. Somou a isso um sorriso no rosto e um tom leve ao falar ao público. 

Seu novo livro, A coragem para liderar, é mais um exemplo de seu jeito autêntico de dizer, sem parecer, o que a gente deveria fazer. Com as pesquisas comandadas por Brené, dicas genéricas como “um líder deve ter empatia” ou “não é preciso ter sempre as respostas certas” ganham cara nova. Além de esmiuçar estas questões, ela ainda mostra dados que comprovam o que diz. No fim da leitura, aquela sensação de que tudo o que você fazia era errado é substituída por uma espécie de manual de “como ser legal com você mesmo dando uma baixada em cobranças e expectativas”. 

O livro e a importância de deixar de lado o medo da imperfeição estão neste bate-papo com a guru da vulnerabilidade.   

Tpm. Em A Coragem para liderar e no programa da Netflix, você fala bastante sobre vulnerabilidade. Por que é tão difícil reconhecer essa característica e encará-la como algo positivo?
Brené Brown. Vulnerabilidade é definida como algo incerto, arriscado e que te expõe emocionalmente. Mas, na verdade, ela é positiva. É dela que nascem emoções importantes que vivenciamos como humanos, como o amor. Isso é a base para se ter coragem. Em um mundo cheio de problemas complexos e possibilidades intermináveis, precisamos de líderes corajosos, de uma cultura da coragem. E só chegaremos lá quando aceitarmos e usarmos nossa vulnerabilidade. O ser humano é vulnerável. Não existe nenhuma pessoa que nunca experimentou emoções como ter incerteza, sentir que está em risco e com medo de exposição. 

O livro foca em carreira. Como levar os ensinamentos do mundo corporativo para o dia a dia? A coragem é uma coleção de quatro conjuntos de habilidades: lidar com a vulnerabilidade, viver nosso valores, ter confiança e aprender a crescer. Também precisamos delas para conduzir nossa vida, para amar, viver e criar nosso filhos. Muitas pessoas falam que os ensinamentos para carreira mudaram suas vidas fora do trabalho.  

Na sua visão, em um ambiente de trabalho competitivo, é necessário ter empatia para ter coragem e ser bem-sucedida? O Google fez um estudo de cinco anos em suas equipes mais produtivas e descobriu que a segurança psicológica, baseada em confiança, empatia e vulnerabilidade, é o fator mais importante para elas. Então, você não pode ser bem-sucedido se não for conectado com quem está a seu redor. A inteligência artificial irá substituir muitos trabalhos, mas nunca aquilo que só os seres humanos podem fazer: a ligação entre as pessoas.  

Você tem um livro chamado A coragem para ser imperfeito. Por que é tão difícil aceitar que não somos perfeitos? A principal razão para queremos ser perfeitos é para evitarmos sermos criticados, julgados e culpados. Perfeccionismo é um mecanismo de defesa, nada mais. É um escudo de 20 toneladas que colocamos para parecermos fortes, para que ninguém nos machuque. Mas, na verdade, ele impede que sejamos vistos na essência. Em nosso estudo de sete anos sobre vulnerabilidade, descobrimos que a maior barreira à coragem não é o medo e, sim, essa armadura que vestimos para não encararmos nossa vulnerabilidade.

Para as mulheres, a cobrança por perfeição chega ao corpo, atinge a maternidade, entra na vida conjugal. Como fica para nós aceitarmos a imperfeição? Seja perfeita, tenha uma aparência perfeita, faça tudo de maneira perfeita. Somos bombardeadas com isso. E mais: “Nunca deixe ninguém perceber o esforço que está fazendo para tentar ser perfeita”. São mentiras que nos deixam diminuídas, abaladas emocionalmente e com vergonha. O grande gatilho que faz a mulher sentir vergonha ainda é a aparência, a imagem corporal. Por isso, precisamos de pessoas corajosas que falem a verdade sobre a realidade da vida, da maternidade, dos nossos corpos para colocar um pouco de verdade nas nossas expectativas. 

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Imagem principal: Ramona Rosales/Divulgação

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