A Morte e a Morte Quincas Berro D’Água
O filme estreia este mês e o diretor Sérgio Machado escreve para Tpm
Mariana Ximenes, Paulo José e Marieta Severo estão em A Morte e a Morte Quincas Berro D’Água, com estreia este mês. O diretor, Sérgio Machado, escreveu um texto exclusivo para Tpm
Por trás de cada romance de Jorge Amado há uma profunda crença no ser humano e no potencial redentor da amizade. Ele fala de pessoas aparentemente insignificantes com uma grandiosidade épica. Desde pequeno, quando comecei a ler os livros dele, me identifiquei com esse jeito de olhar o mundo.
Os vagabundos que carregam o corpo de Quincas pelas ladeiras da Bahia aprenderam desde cedo que a vida é dura e injusta, mas que merece ser vivida de uma maneira intensa a cada segundo.
Por haver nascido e ter sido criado na Bahia e por conhecer bem o universo retratado no livro, me esforcei para construir Quincas a partir de um olhar que fosse além daquilo que na superfície pareça exótico e pitoresco. Sabia desde o início que a chave disso seria um grande elenco.
Tive a oportunidade de trabalhar com um elenco sensacional, capitaneado pelo (gênio) Paulo José, que embarcou na minha proposta de maneira visceral... sem medo de ser feliz.
As situações que se sucedem no filme são absurdas, e por isso mesmo eu queria que elas fossem vividas com absoluta verdade. Quincas é uma louca comédia, mas os personagens do filme nem desconfiam disso. Eles estão vivendo um drama, a perda de um grande amigo.
Junto com a Fátima Toledo ensaiei com os atores por dois meses. O período de ensaios foi importante para o elenco entender as contradições dos personagens e torná-los humanos. O humor do filme nasceu do disparate entre a verdade com que cada cena foi vivida e o absurdo das situações apresentadas ao espectador.
Quando estava preparando o filme, apostei muito numa conexão entre o universo de Jorge Amado e os primeiros filmes de Fellini, como La Strada e Noites de Cabíria. São obras humanistas caracterizadas por um senso de humor delicado e por um grande carinho pelos personagens. Em Amado e em Fellini os ridículos dramas do cotidiano, vividos por pessoas aparentemente insignificantes, são retratados de maneira épica e afetiva... Foi nesse mar que eu procurei navegar.
*Sérgio Machado é um diretor baiano formado em jornalismo. Foi assistente de direção em Central do Brasil (1998) e Abril Despedaçado (2001), ambos de Walter Salles. Seu primeiro longa como diretor foi Cidade Baixa, em 2005