Pancadão, grunge e concreto

por Cirilo Dias

Em meio à enxurrada de discos que deságua na minha mesa todo santo dia, uma bela peneirada revela algumas pepitas sonoras



Comunidade Nin Jitsu - Atividade na Laje (Thurbo Music / Olelê Music)
“Cir, você está de brincadeira comigo, só pode estar tirando uma com a minha cara.” Essa foi a frase que o editor Endrigo Chiri soltou quando eu disse que o novo disco da Comunidade Nin Jitsu era bom. Atividade na Laje traz a tiração de sarro típica da trupe de Fredi “Chernobyl” e companhia. Tiração de sarro emprestada ao Bonde do Rolê – aquele original com a ex-vocalista Marina Vello, não esse com duas desconhecidas que gostam de bifes nas partes íntimas. Destaque para o pancadão poderoso “Mais pressão” e “Funkstein”, em que Marina Vello empresta a voz e ainda ressuscita o zumbi imperativo do Bonde.


Mudhoney -
The Lucky Ones (Inker)
Trocadilhos à parte, o Mudhoney realmente teve a sorte de deixar todas as guitarras do novo trabalho nas mãos pesadas e precisas de Steve Turner. Assim Mark Arm se concentra em fazer o que sabe melhor, soltar sua voz rasgada e desleixada que exala The Stooges. O oitavo disco da banda vem para colocar a safra de “bandas novas promessas da música” em seu devido lugar. Se for pra ouvir algo influenciado por alguma banda dos anos 90 – porque já esgotaram a fonte dos anos 80, né? – que ouça o Mudhoney soar como... Mudhoney. Honesto, pesado, stoner, sujo e tudo mais que o bom rock permite. Ouça “I'm now” e saia chutando tudo o que ver pela frente.


Seychelles -
Nananenen (Mondo 77)
Ansiedade, obsessão e rotinas viciosas. Para quem vive e respira a capital paulistana, esses temas são bem comuns, e o Seychelles sabe disso. O segundo disco do grupo, Nananenen, consegue transpor em notas musicais os detalhes mais soturnos, sem se esquecer do charme implítico em cada esquina da cidade de concreto. A capacidade de o vocalista Gustavo Garde impor o sentimento necessário em cada música faz a ácida “Poperô” soar animada e divertida, enquanto a doce “Venus Sharapova” consegue estourar melancolicamente na hora certa.

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