Os sobreviventes de Seattle

por Marília Kodic

Eles prenunciaram o grunge e resistem bravamente há 25 anos às tentações do mainstream. Trip conversou com o baterista do Melvins

O grupo que prenunciou o grunge e não se rendeu ao mainstream em 25 anos de carreira. É assim que pode ser descrita a banda americana Melvins, citada como maior banda do mundo por ninguém menos que Kurt Cobain. Com um imenso prestígio tanto na indústria musical como no cenário underground, os garotos feios têm muito do que se orgulhar. Confira a seguir a entrevista concedida à Trip pelo baterista Dale Crover.  

De onde surgiu o nome Melvins?
De um cara com quem nosso guitarrista Buzz trabalhava numa mercearia. Ele era alguém de quem ninguém gostava (risos).

Vocês influenciaram diversas bandas, como as que fizeram sucesso em Seattle nos anos 90 Nirvana e Soundgarden, mas que bandas ou artistas influenciaram vocês?
Nós escutamos todo tipo de música. Eu diria, do topo da minha cabeça assim, Gang of Four, The Who e Black Flag.  

Como vocês descrevem seu som?
Hardcore punk, grunge, ou alguma outra coisa? É tudo de uma vez só. Não acho que estamos presos em um estilo musical particular. É estilo Melvins, é isso que é.  

Vocês provavelmente são perguntados toda hora sobre o Kurt Cobain por jornalistas, mas...
Kurt quem? Nunca ouvi falar.  

Não quer falar sobre isso?
Tô brincando, fala aí.  

Qual era a relação da banda com ele?
Estritamente platônica.  

É verdade que ele tentou entrar na banda como baixista e não conseguiu?
Isso foi porque ele não tinha um amplificador. A gente não conseguia ouvir nada então decidimos que ele não tinha que estar na banda.

Foram vocês que introduziram o Dave Grohl ao Nirvana. Vocês ainda mantêm contato com ele?
Não vejo David há quatro ou cinco anos. Mas conversei com sua assessora pessoal algumas vezes sobre vê-lo recentemente. Nós éramos bons amigos, nós e aqueles caras.  

A banda tem uma reputação de merchandise estranho e engraçado, com bonecas e carne enlatada. Como vocês chegam a essas idéias?
Não sei, a gente simplesmente pensa nas coisas mais imbecis que possivelmente conseguimos e parece funcionar [risos].

Em uma entrevista, Buzz Osbourne diz que Ozzy é um viciado em drogas sem valor algum, e Limp Bizkit e Korn são bandas de chorões. Na sua opinião, quais são a pior e a melhor banda do mundo?
Essa é difícil, porque é bem difícil ser a pior banda do mundo. Deixa eu pensar um pouco. Tem que ser uma banda atual? Ok eu diria que minha banda favorita seria provavelmente os Beatles. Pior banda teria que ser... ai deus essa é difícil porque tento ignorar bandas ruins, e vejo tantas por aí. Vou dizer John Cougar Mellencamp. Não, ele não é uma banda, é um artista. Ele tem uma banda. Eu diria que é bem ruim.

Vocês têm o mínimo de vaidade?
Nope.

Você conhece algo da música brasileira?
Claro. Os Mutantes e Sepultura.

Você já esteve no Brasil?
Eu sei que o Buzz esteve aqui em 2005 com os Fantômas, o que ele achou? Não, nunca estiva aí. Sim, o Buzz disse que foi bem legal, ele disse que via caras andando na rua com biquínis e eles estavam a milhas de qualquer indício de água (?).  

Vocês trabalham com Mike Patton (ex-vocalista do Faith No More) na Ipecac Recordings. Como é tê-lo como chefe? Soube que ele é meio pirado.
Ah ele é pirado sim. Mas ele não interfere nos nossos assuntos. Ele deixa a gente fazer o que quiser.

Você conhece as duas outras bandas no festival, Plasticines e The Hives? Você curte o som deles? Conheço, mas não pessoalmente. Sim, curto. Vai ser um show divertido.

O que os fãs do Melvins devem esperar do show aqui em São Paulo?
Se tudo der certo ficarão completamente estupefatos e atônitos com o quão incrível nós somos. Esperamos que sim.

Palavras finais?
Não vemos a hora de ir ao Brasil, esperamos que seja ótimo. Dizem que todo mundo aí embaixo é bem simpático. Todo mundo aí deve nos trazer presentes. Porque gostamos de presentes. Nós traremos nossos presentes, e vocês podem trazer presentes pra nós.

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