’’Queria que você ensinasse todas essas meninas a empinar a bunda, respirar fundo, soltar o cabelo e curtir a brisa...’’
Oi, Buni,
Você sabe que é a mulher a quem eu mais escrevo e também a que menos me escreve? Às vezes, quando estou viajando e acordo cedo para correr em ruas desertas, fico compondo as cartas pra você na minha cabeça. A maioria delas é sobre como você é linda, foda, e como eu quero ficar velha ao seu lado.
Ontem fui ao show do Buena Vista Social Club, a Omara Portuondo estava lá, com a pele morena e radiante e a voz que lembra um copo de cristal cheio de anejo viejo. Ela tem 84 anos. O outro cantor, um jovenzinho de terno branco e camisa preta, falava que ela era a grande dama, a mais sexy de todas e, toda vez que ele falava isso, ela levantava a caftã dourada e rebolava um pouco. Pensei: um dia, isso vai ser a Buni.
Antes de ir ao show e pegar a estrada para São Paulo, conheci uma garota no Rio. É uma jovem atriz, que chegou pedalando com a mochila cheia de calcinhas prediletas. Cinco minutos depois de me dar o primeiro oi, lá estava ela, nua na janela e falando sem parar de física quântica, das leis de atração e de como um bom café preto pode ser viciante. Era uma fofa, uma cachoeira de juventude. Queria que você desse aulas para todas essas meninas que se embrulham nos lençóis e aceitam um copo de água com os dedos tremendo de nervosismo, para que apareçam já maquiadas e de shortinho de madrugada, para que saibam pegar a luz certa nas janelas dos hotéis. Queria que você as ensinasse a empinar a bunda, respirar fundo, soltar o cabelo e curtir a brisa.
Digo isso porque você é a minha grande dama, e um dia vamos ficar velhas juntas. Eu sei como vai ser, eu e você andando na orla do Leblon, tomando caipirinhas nos botecos que já estaremos frequentando há décadas, você de batom vermelho e penteados modernos e eu, desarrumada de chinelo, nós duas gargalhando e tirando sarro dos maridos que deixamos em casa. Quanto mais velha a gente fica, mais a gente se recusa a mudar, né?
Te amo, Autumn