A maravilhosa diversidade de nossas vulvas

por Nathalia Zaccaro

A artista Hilde Atalanta deixa claro pra ninguém mais duvidar: não há nada errado com a sua xoxota

Quem tem medo de xoxota? Muita gente. E pior: muita gente que tem uma para chamar de sua. Meninas são ensinadas, desde pequenas, que suas vaginas têm um cheiro estranho, um aspecto estranho e não devem ser encaradas frente a frente, muito menos tocadas. Devem ser escondidas. Os tamanhos, cores e texturas das “pererecas” não costumam ser tema de conversa entre amigas durante a adolescência e, por isso, pouco sabemos sobre a enorme diversidade anatômica de nosso órgão reprodutivo. Fica parecendo que uma vagina normal é aquela pequenina, rosadinha, lisa e sem pelos, aquela que geralmente vemos nos livros e filmes pornôs. O assunto se transforma em um tabu desconfortável rapidamente. E aí se a sua pepequinha não se encaixa nesse padrão, ferrou: socorro, minha buceta é feia.

Há pouco menos de um ano, a ilustradora holandesa Hilde Atalanta descobriu que, entre 2001 e 2010, os números das chamadas labioplastias, cirurgias de remoção da pele vaginal, quintuplicaram na Inglaterra. O Brasil também testemunhou esse aumento. As operações passaram de 9043 em 2011 para 12870 em 2015, segundo dados da International Society of Aesthetic Plastic Surgery. “É assustador ver até onde vamos na busca pela perfeição, não existe isso de vagina perfeita, o que existe é diversidade e ela deve ser celebrada e não combatida”, afirma a artista.

A vontade de falar sobre o assunto e tentar diminuir a sensação de insegurança e baixa autoestima feminina gerada pela falta de informação sobre nossa própria anatomia fez que o Hilde lançasse, em agosto do ano passado, o The Vulva Gallery.

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No projeto, a holandesa desenha, com aquarela, diversos tipos de vagina, ilustrações essas que são publicadas no Instagram, onde soma mais de 78 mil seguidores. Ela também desenvolve adesivos, broches, canecas, bolsas e outros badulaques com as pinturas, na tentativa de criar uma relação afetiva entre mulheres e suas pererecas, proibidas, pombinhas, ou como você preferir chamar sua vulva. “A única maneira de transformar o modo como experimentamos nossos corpos, e também os corpos de outras pessoas, é por meio da educação sobre as variações naturais de nossa anatomia e eu espero que o The Vulva Gallery possa contribuir para isso”, afirma Hilde.

Desde os anos 80, um grupo de profissionais da saúde - o Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde - promove  em São Paulo um encontro chamado “Fique Amiga Dela”, em que mulheres são convidadas a se observarem. “Com a ajuda de um espelho e uma lanterna, elas são guiadas a um autoexame e convidadas a observar a potência do próprio corpo – as variações entre as vulvas, a rugosidade da vagina, seus diferentes formatos e secreções. É uma oportunidade para olhar de maneira positiva para uma região que é sempre patologizada, como se precisasse de correção”, explica Halana Faria, médica ginecologista e obstetra integrante do coletivo.

Não ter intimidade com nossas vaginas nos afasta cada vez mais da possibilidade de termos prazer com o nosso corpo. Nem tudo é instinto, sexo bom tem muito de aprendizado. E de autoestima também. Então, seja com a ajuda de uma lanterninha seja pela inspiração de ver as vulvas fofas da Hilde, vamos nos aproximar de nossas bucetas e entender que, grande ou pequena, xoxota é poder.

Créditos

Imagem principal: The Vulva Gallery

Hilde Atalanta

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