FarmVille de verdade

por Luiz Filipe Tavares

Fazenda inglesa será administrada de acordo com os desejos de 10 mil internautas

O National Trust, organização britânica para a preservação da história, cultura e patrimônio do Reino Unido, começou no mês passado uma campanha pela retomada da conexão entre as pessoas, a comida e fazenda onde os alimentos são produzidos. Através de uma iniciativa pioneira, o grupo organizou uma espécie de FarmVille da vida real, permitindo que uma rede de 10 mil internautas de todos os lugares do mundo votem em decisões administrativas de uma fazenda de verdade. Assim, os usuários poderão controlar cada pequeno aspecto e decisão necessária na manutenção de uma propriedade agrária.

Se você é um dos raros indivíduos que nunca nem ouviu falar em FarmVille, ele é um dos mais populares jogos integrados à rede de relacionamentos do Facebook, com 47 milhões de jogadores por mês. FarmVille é o segundo maior jogo da rede social, perdendo apenas para o Mafia Wars.

A propriedade em questão é a Wimpole Estate Farm, uma das muitas fazendas controladas pelo National Trust. Em entrevista concedida ao Guardian, a diretora geral da organização, Fiona Reynolds, afirmou que o projeto é totalmente viável e que o National Trust acredita na capacidade informativa do projeto batizado de MyFarm. "É tudo sobre reconectar as pessoas com o lugar de onde a sua comida vem", explicou Reynolds. "Nossas pesquisas mostravam que apenas 8% das mães sentiam-se confiantes para ensinar seus filhos de onde a comida vem. E isso é muito sintomático." 

Na fazenda de mais de 100 km², os usuários do MyFarm poderão escolher os produtos que querem plantar, o tipo de gado que querem criar, o processo de seleção das colheitas, quem será o próximo touro reprodutor, qual o destino final da matéria prima produzida e assim por diante. Os usuários discutirão as decisões em foruns e blogs e fazem suas decisões em grandes votações mensais e votações menores mais regulares para decidir o que é que vai entrar em prática na Wimpole Estate. 

"Por exemplo: se eu tenho trigo no campo, pronto para a colheita, mas a chuva da manhã deixa tudo um pântano, nóa esperamos e arriscamos perder uma parte da produção ou colhemos assim mesmo e arcamos com custos extras de secagem?", questionou Richard Morris, administrador da fazenda. "Agricultura depende de assumir responsabilidades. Nunca há uma resposta ccerta ou errada."

O único problema da ideia é o preço: £30 libras por acesso ilimitado às decisões da fazenda. Entrevistado pela reportagem do Guardian, o consultor de jogos eletrônicos da Gamesbrief, Nicholas Lovell, comentou as possibilidades de fracasso da iniciativa de acordo com as teorias aplicadas aos games. Para ele, o sucesso do FarmVille não tem nada a ver com o desejo das pessoas de trabalhar com a terra.

"Tem alguma coisa nesta ideia de que pessoas gostam de plantar, cuidar e embelezar as coisas. Mas o sucesso do FarmVille vem da arte de prender as pessoas pela psicologia humana mais básica: a necessidade de terminar o que se começou, presentear as pessoas que o presentearam antes e assim por diante", explicou o especialista. "Um FarmVille pelo qual as pessoas tivessem de pagra £30 teria falhado miseravelmente. Ao cobrar por acesso, o National Trust está pegando o sucesso do FarmVille como se fosse sobre fazendas, mas que na verdade é sobre trazer uma plataforma acessível, de ótimo custo-benefício, bem desenhada e para todas as idades."

Vai lá: www.my-farm.org.uk

 

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