Magrela intercontinental

por Diogo Rodriguez

Biker brasileiro pretende cruzar alguns continentes e chegar à Índia usando uma bicicleta

Erich Zelazowski gostava muito de sua perua Kombi 1974. Não era só um meio de transporte para o empresário e designer de roupas. Gertrudes, como era chamada, era instrumento de trabalho e uma paixão. Foi roubada este ano, para sua decepção. Erich viu um sinal neste fato e resolver organizar uma viagem para espairecer, conhecer novos lugares. Mas ao contrário de férias comuns, ele não tem data para voltar. Prevê uma data, mas não tem certeza. Acha que vai demorar três anos.

Um dos motivos é o meio de transporte que escolheu, uma bicicleta. Obviamente, demora mais para chegar a qualquer lugar pedalando, a não ser no trânsito pesado de São Paulo. O destino da aventura contribui para a demora. Erich vai usar as pernas para chegar á Índia. Para cobrir os trechos marítimos, o veleiro foi a opção escolhida.

Ainda em busca de patrocínios, o projeto indoàíndia já tem data para começar, 19 de setembro, e segue em frente mesmo sem apoio. Tudo será registrado num blog e filmado. A esperança é que futuros patrocinadores se interessem pela ideia a partir dos episódios relatando a jornada solitária de Erich.

A Trip conversou com Erich antes de sua partida para saber mais sobre Gertrudes e perguntar sobre a solidão de uma viagem sobre duas rodas.

Por que você decidiu fazer essa viagem?
Isso vai soar papo de bicho grilo total, mas não adianta esconder mesmo! Acho que existem alguns motivadores mais superficiais como o fato de terem roubado minha Kombi 74 super especial, a Gertrudes. Mas acredito que isso fosse mais um sinal que um motivo em si. Na real, viajar pra mim tem sempre o mesmo objetivo, o de sair de um esquema e ir pra dentro. No dia-a-dia é muito fácil esquecer de viver no momento presente e estar o tempo todo entre lembranças e projetos, sendo que o agora é tudo o que realmente existe.

Você está procurando patrocinadores. Está sendo difícil?
A principal contrapartida que o projeto está oferecendo são capítulos semanais de um programa filmado durante a viagem. Estes vídeos serão focados em assuntos relacionados à sustentabilidade, formas de expressão artística, culinária e cultura local. Eles serão veiculados no blog e onde mais os patrocinadores desejarem. Eu não tinha muitas ilusões a respeito de se obter facilmente apoio financeiro para a viagem, sobretudo antes de ter ao menos alguns capítulos já concretizados para que os interessados possam avaliar sua qualidade. Então vamos começar assim mesmo, na raça. Mas tem um hotel lindo em Corubau (BA) chamado Vila Naiá que está disposto a entrar como patrocinador. E algumas ajudas, como Pro-Ativa, que representa no Brasil marcas de excelentes equipamentos como Deuter, Primus e Lorpen. Eles estão fornecendo esses equipamentos a preço de custo. Ainda não é enorme, mas já é um bom começo!

Quanto tempo prevê que vá demorar para completar todo o percurso?
O percurso completo deverá durar cerca de três anos. Isto se deve às paradas em centros de permacultura, locais de grande interesse cultural ou de belezas naturais, marinas e portos para desenvolver habilidades ligadas à vela, casas de amigos e imprevistos.

Acha que vai se se sentir sozinho?
Na verdade, o projeto está sendo tocado por umas seis pessoas ligadas à realização dos episódios ou à captação de recursos, e estamos procurando alguém para fazer uma assessoria de imprensa, mas no terreno mesmo vou estar completamente sozinho. Mas isto não faz com que eu me sinta mais sozinho do que em São Paulo. No dia à dia de viagens solitárias, tendo a me sentir até mais conectado às pessoas que morando em grandes centros, mas vezes por outra bate um blues do viajante! Nada que não tenha sido contornável até hoje, mas nunca fiz um percurso tão grande.

Quais são as vantagens de usar bicicleta nesse percurso?
Algumas vantagens são bastante óbvias, como o fato de não poluir e o de estar se exercitando fisicamente com grande freqüência. Mas o real barato de pedalar pra mim está na não velocidade. Eu até gosto bastante de pegar um gás numa boa ladeira, mas na maior parte do tempo você viaja devagar, sem barulho, sem pressa. Achou bonito, para! Olha, sente, fotografa ou não. Depois de alguns dias viajando dessa forma, o pedalar se torna uma espécie de meditação ativa. Começo a me sentir bem sem nenhuma razão aparente, cantar, sorrir e viajar de verdade. Pra dentro, totalmente presente.

Você já fez outras grandes viagens de bicicleta?
Grande mesmo só uma, as outras foram menores. Mas perto dessa, mesmo a maior acaba ficando pequena! Foram 1.500 km atravessando a França de nordeste a sudoeste, seguidos de um rolê pelo País Basco até San Sebastian, de onde enviei a bike pra Santiago e segui até lá a pé por mais 900 km. Foi a melhor viagem da minha vida. Sem ela eu nunca teria imaginado que fosse viável uma tão mais longa.

Por que a Índia?
Na verdade a Índia por mil motivos, sou interessado pela dimensão espiritual do país, pratico yoga intermitentemente há alguns anos, gosto mais de vaquinhas vivas que mortas, pelas paisagens maravilhosas e a cultura milenar, enfim. Mas a real é que a Índia só faz parte desse projeto no nome. Ele chama indoàíndia justamente pra futucar no chavão de que o caminho é mais importante que a meta. É muito mais bacana eu curtir cada dia dessa jornada do que ficar punhetando a mente sobre como vai ser lá. Quando chegar esse dia, a gente inventa outro projeto! Mas, toda essa história de viver no presente ainda requer muito treino, já tenho algumas ideias pra um possível projeto na Índia.

Como alguém que queira começar a fazer viagens de bicicleta pode se preparar?
Bicho, acho que pra isso existem infinitas respostas. Vou falar do meu caso, que não passa nem perto de ideal, mas talvez sirva pra inspirar pessoas inconstantes como eu. Tenho uma terrível dificuldade em manter rotinas. Isso faz com que eu alterne fases de yoga, bicicleta, saladinha e meditação com outras totalmente lama, tipo pizza, chope, balada e pouco sono. Numa eterna busca de um caminho do meio. Mas, acho que as fases saúde, ainda que até agora não se tenham mantido pra sempre, são muito bem vindas e equilibram o outro lado. E tem umas flores que acabam crescendo na lama também. Então, posso dizer que pra mim, como pra alguns amigos, o treino e a viagem começam juntos. Nos primeiros dias é sofrido, mas é só pedalar que passa. Estou a duas semanas exatas do início, em 19 de setembro, e faz três dias que comecei a correr uns dois quilômetros por dia, ridículo. Mas, se eu conseguir manter isso e talvez aumentar um pouquinho a cada dia, já é melhor que nada.

Site: http://indoaindia.blogspot.com

fechar