Bonitinho, mas impotente

por Luiz Guedes
Trip #214

O Simca Chambord produzido para o mercado brasileiro ficou famoso por falhar na hora H

Belo e cobiçado, o Simca Chambord produzido para o mercado brasileiro nos anos 1950 ficou famoso por falhar na hora H

No início dos anos 1950, a produção nacional de automóveis de passeio rendia primeiras páginas nos jornais e era acompanhada com entusiasmo pelo povão. Logo surgiam apelidos, quase sempre jocosos, para definir os modelos que pingavam no incipiente mercado. Ao Simca Chambord coube a famigerada alcunha de Belo Antonio – referência ao filme ítalo-francês Il Bell’Antonio, lançado em 1960, exatamente um ano após a chegada do charmoso Chambord por aqui.

Nas telas dos cinemas, Marcello Mastroianni vivia um sedutor galã pelo qual todas as mulheres se apaixonavam, imaginando que ele seria um amante perfeito. Mas a verdade é que Antonio, nome do personagem, era impotente... “Assim diziam do Simca: bonito e cobiçado, todos o queriam em suas garagens. Mas, na hora H, ou seja, de acelerar, o carro falhava por falta de potência”, explica o promotor de Justiça Alexander Martins Matias, 38 anos, proprietário de um conservadíssimo Chambord 1966 (foto).

Considerado o primeiro carro brasileiro de luxo, o Simca Chambord nasceu nas pranchetas dos designers da Ford americana, que o projetaram como evolução do modelo Vedette, produzido pela filial da marca na França. Mas, pouco antes de seu lançamento oficial, a Ford vendeu o controle da fábrica e seus projetos em território francês para a nativa Simca. Vários exemplares já estavam finalizados e com o emblema da marca americana estampado na carroceria quando os novos acionistas decidiram rebatizar o modelo de Simca Vedette, como acabou apresentado no Salão de Paris, em outubro de 1954. Marcado pela beleza de suas linhas, com destaque para a traseira estilo rabo de peixe, o sedã de quatro portas ganhou diversos padrões de acabamento e denominações – entre elas, a mais popular é Chambord, nome de um castelo na região do Vale do Loire.

Sotaque francês
Em 1958, a Simca foi uma das muitas montadoras estrangeiras a desembarcar no Brasil com fábrica em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. Um ano depois, o Chambord ganhou as ruas, porém com forte “sotaque” francês. “Esse foi o problema”, diz Alexander, sobre a falta de adaptação do veículo ao relevo brasileiro, bem diferente das planícies europeias. A começar pelo motor V8, inicialmente com 84 cv. O desempenho ficava longe de empolgar, com velocidade máxima de 135 km/h e aceleração de 0 a 100 km/h em vagarosos 26 segundos... “Já a fama de quebrar é uma tremenda injustiça”, defende o promotor. “Ocorre que o Simca era um carro sofisticado, pioneiro em diversas tecnologias, o que gerava dificuldade para os mecânicos brasileiros da época.”

A potência foi melhorada com a chegada dos modelos conhecidos como Tufão, capazes de chegar a 160 km/h. Em 1967, entretanto, a Simca foi adquirida pela americana Chrysler, que encerrou a produção do Belo Antonio em 1970.

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