por Ronaldo Lemos
Trip #204

Pesquisadores afirmam que é possível determinar se alguém é gay a partir de seu Facebook

Dois pesquisadores americanos afirmam que é possível determinar se alguém é gay a partir de seus dados no Facebook

"Gaydar” é o nome que se dá à suposta habilidade de saber se alguém é gay só de olhar para a pessoa (o termo vem de gay + radar). O que em geral não passa de pura especulação ganhou contornos sérios na internet. Dois pesquisadores do MIT inventaram um Gaydar baseado nas informações disponíveis no Facebook. Descobriram que é possível determinar com rigor estatístico se alguém é gay com base nos dados usualmente compartilhados pelo site. Um dos critérios adotados é o percentual de amigos gays. Segundo a pesquisa, se a pessoa tem mais de 4,5% de amigos gays, esse é um indício praticamente conclusivo da sua orientação sexual (a pesquisa só vale para homossexuais masculinos).

Esse tipo de estudo desmente o famoso cartoon da revista New Yorker, que mostra um animal de estimação no computador dizendo: “Na internet ninguém sabe que você é um cachorro”. Como disse o pesquisador Andrew Odlyzko, “as pessoas não só sabem que você é um cachorro, como sabem a sua idade, raça, doenças e preferências em termos de comida de cachorro”.

O fato é que hoje é possível classificar todo mundo que está na rede com enorme precisão. A orientação sexual da pessoa é apenas um exemplo dentro de um universo de informações que podem ser descobertas. Por exemplo, há empresas que dividem as pessoas por perfil socioeconômico. O grau de precisão é de assustar. Uma matéria do Wall Street Journal mostrou que é possível saber coisas como “fulana é mãe solteira que ganha cerca de US$ 50 mil por ano, faz compras no WalMart e gosta de alugar DVDs para o filho”.

Microdiscriminação

O problema desse tipo de microclassificação é permitir formas de microdiscriminação inimagináveis. Por exemplo, isso já é usado para determinar o tipo de anúncio que aparece na internet para você. O que em si já traz uma questão: sem maiores cuidados, alguém olhando quando outro alguém acessa o Facebook pode saber muito só de ver os anúncios que são mostrados do lado do perfil. Além disso, empresas podem se recusar a entrevistar um candidato a emprego por causa da orientação sexual. Planos de saúde podem excluir portadores de determinadas doenças ou bancos criarem regimes de crédito diferenciados a partir das informações.

Por isso, a questão da privacidade não se resume a uma questão de constrangimento pessoal. Ela é muito mais ampla. É preciso determinar o que é justo ou injusto no uso desse tipo de classificação que hoje é feita cotidianamente, com base em dados obtidos na rede. Há ferramentas para controlar isso, como tornar obrigatório tratar grupos idênticos de forma idêntica. O que não dá é ignorar que o problema já existe.

*Ronaldo Lemos, 34, é diretor do Centro de Tecnologia da FGV-RJ e fundador do site www.overmundo.com.br. Seu e-mail é rlemos@trip.com.br

"Quem quiser mais informações sobre o estudo, ele foi publicado no First Monday Journal, revista científica publicada pela Universidade de Illinois em Chicago. Os autores são Carter Jernigan e Behram Mistree. O estudo pode ser acessado online na íntegra aqui."

fechar