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por Redação

Leandro Roque dispara: ”Música é pro mundo. A gente não pode fazer uma música e cercar”

Leandro Roque, o Emicida, é hoje um dos mais importantes nomes do novo rap nacional. Seu primeiro contato com a música foi através do pai, que no começo dos anos 90 organizava bailes black na periferia paulistana, e depois com o padrasto, que lhe apresentou a moda de viola e seu primeiro gravador de fitas K7. Uma espécie de Michael Phelps das batalhas de MCs, em pouco tempo ele extrapolou as competições de rimas, a periferia paulistana e até o Brasil, levando suas canções para lugares antes improváveis como o programa do Jô Soares, na Rede Globo, e o Coachella, prestigiado festival da California.

E se na infância ele sofria preconceito por ser negro e pobre, hoje ele sofre com as críticas de outros artistas do rap por levar sua arte à outros públicos, por fazer parcerias com artistas de outros gêneros e, acreditem se quiser, por ter uma postura mais amena quando o assunto é dinheiro, mulheres, álcool ou drogas.

O papo desta semana no Trip FM é com o filho da Dona Jacira e pai da Estela, mais conhecido como o matador de MCs Emicida, que este ano concorre ao bicampeonato como Artista do Ano no VMB da MTV e que foi Páginas Negras da edição #198 da revista Trip.

"A música é para o mundo. Não podemos fazer música e cercá-la para um determinado tipo de pessoa. Principalmente uma música que a gente almeja que mude o pensamento das pessoas", ele comentou na entrevista, falando sobre a ânsia de tocar com artistas dos mais variados gêneros. "É natural e até saudável que exista uma faceta mais radical, música feita por pessoas que insistem em ficar no gueto. Os Racionais MCs foram assim durante muito tempo e isso influenciou duas gerações de artistas do rap nacional."

"Eu tive que aprender a lidar com o assédio do público porque não é pra isso que eu trabalho. Sempre me preocupei em fazer minha música reverberar muito mais do que a minha imagem"

A explosão de seu nome fez com que o tímido Leandro tivesse que aprender a se relacionar com os fãs e os críticos, seja em entrevistas de jornal ou apenas fazendo uma compra no mercado perto de casa.

"Eu tive que aprender a lidar com o assédio do público porque não é pra isso que eu trabalho. Sempre me preocupei em fazer minha música reverberar muito mais do que a minha imagem. Mas é inevitável que as pessoas queiram assimilar com os olhos a música que elas curtem. Eu vejo a exposição da minha imagem como uma coisa natural mas eu luto sempre para que minha música vá mais longe", refletiu. "Acontece de eu estar no mercado e alguém me seguir por uma hora. E de onde eu venho, se tem alguém te seguindo, é melhor já virar e trocar ideia [risos]."

"Não me incomodo que ninguém fale mal do meu trabalho. Todo mundo tem direito à sua opinião."

Emicida falou ainda sobre ciúmes e inveja dentro do cenário rap. Sempre muito equilibrado, ele comentou essa situação como "normal" e fez questão de dizer que não se sente ameaçado pelas críticas que recebe de dentro e fora do meio hip hop.

"Em todos os segmentos rola um ciúme. Mas se eu for ficar me preocupando com todas as pessoas que querem falar mal de alguma coisa eu não vou nem conseguir trabalhar. Eu sou bem mais tranquilo com isso do que vários camaradas meus. Muitas das pessoas que me cercam já não tem essa paz de espírito. Eu tenho uma iluminação em relação a isso, então não me incomodo que ninguém fale mal do meu trabalho. Todo mundo tem direito à sua opinião."

"Música é pro mundo. A gente não pode fazer uma música e cercar, jogar pra um certo grupo de pessoas. Principalmente uma música que a gente almeja que gere uma mudança de comportamento nas pessoas"
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