Lan houses: a Quarta geração

por Ronaldo Lemos
Trip #193

Ronaldo Lemos comenta a venda de itens virtuais dentro dos games. Para ele, a revolução continua

A esta altura todo mundo já sabe. As lan houses mudaram a cara da inclusão digital no Brasil. Hoje, 48% de todos os acessos à rede no Brasil acontecem através delas. É só dar uma olhada no Orkut. Ele reflete a diversidade social brasileira, com gente de todos os tipos, tanto do ponto de vista cultural quanto socioeconômico (e, por conta disso, na minha opinião, o Orkut nunca esteve tão legal).

O que pouca gente sabe é que a revolução começada nas lan houses continua. A mais recente tem a ver com mudanças no modelo de negócios. Há algum tempo já vinham funcionando como uma mistura de escritório público e despachante. Através delas dá para pagar contas de água, luz e celular ou fazer declaração de isento no imposto de renda. Algumas vendem passagens aéreas e até mesmo ajudam os clientes a elaborar um currículo, caso estejam procurando emprego.

Dá para dizer que esses são a terceira geração de serviços a aparecer através das lan houses. A primeira foram os games, a segunda o serviço de acesso à internet e agora serviços gerais, incluindo governo eletrônico e e-commerce. No entanto, este artigo é para falar dos primeiros passos de uma quarta geração de serviços, ainda mais inesperada.

Pós-Warcraft

Conversando com donos de lan houses, é visível que existem várias mudanças em andamento. Todas as lan houses estão em busca de novas fontes de receita, a partir da percepção de que os serviços prestados hoje tendem a declinar na medida em que as pessoas vão tendo acesso a computadores em casa.

Em paralelo a isso existe uma mudança no perfil dos games. Antes o mais comum eram jogos que dependiam de instalação prévia e do pagamento de uma licença (como Counter Strike ou Warcraft). Os jogos mais populares atualmente são gratuitos e online (como o Cross Fire, o Ragnarok e o Gunbound). São desenvolvidos na China e na Coreia e possuem outro modelo de remuneração. O game é gratuito, mas para progredir o jogador tem de investir um bom tempo treinando seu personagem e obtendo recursos para comprar armas mais poderosas. Quem não tem tempo pode comprar itens da empresa que faz o game. Ou então de outros usuários.

É aí que entra a nova geração de serviços. Muitos usuários de lan houses estão se especializando na venda de itens virtuais dentro dos games. Até mesmo treinando e vendendo personagens de jogos como Gunbound por até R$ 300 (chamados carinhosamente de "bonecos"). Essa venda dos "bonecos" acontece em sites de leilão inclusive para fora do Brasil e a fila de espera para comprá-los é gigantesca.

Sei que muita gente vai ficar de cabelo em pé ao imaginar que essa prática, comum na Ásia, está chegando ao Brasil via lan houses. Há quem diga que algumas lan houses já começam a encampar o modelo e que a receita com "bonecos" e outros itens virtuais pode chegar a 50% do faturamento. O futuro desse modelo de negócio ainda é incerto. Por ora, dá para dizer apenas que ele prenuncia um momento de transformações profundas no mundo das lans. A ver.

*Ronaldo Lemos, 33, é diretor do Centro de Tecnologia da FGV-RJ e fundador do site Overmundo. Seu e-mail é rlemos@trip.com.br

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