por Lino Bocchini
Trip #179

Ruth, professora, transa com até 41 homens numa noite sem cobrar e sem perder o tesão

 

 

O homem era grande. Mais de 1,90 m e pelo menos 100 kg, certeza. Pau grande também. Saiu cambaleando da cama e tropeçou uma, duas vezes. A pequena plateia riu do gigante de pernas bambas, que acabou caindo também na risada e soltou, com aquele sotacão carioca: “Porra, merrrmão, foi surra de boceta, foi surra!”. Quem bateu no grandalhão foi Ruth*. A essa altura, ela já tinha nocauteado quase 20. Eram quase duas da manhã, tinha começado às 22h e seguia lá, disposta, toda manhosa no meio de uma enorme cama de casal. Não, não é um conto erótico da internet. Ruth existe de verdade e transa com 10, 20, 30 homens em uma só noite. Toda semana. E transa com vontade, sem pressa, com todos que quiserem.

Ruth é professora, tem 52 anos e está no segundo casamento. “A celulite já está aparecendo, e as ruguinhas, também”, explica, justificando por que evitou posar para Trip mesmo sem mostrar o rosto (as fotos que ilustram estas páginas foram tiradas há quase três anos). E prossegue a descrição: “Os peitinhos continuam de pé, e a bundinha, durinha, fazendo o maior sucesso. A vontade de trepar segue no auge, e minha resistência para ser fodida diversas vezes seguidas não diminuiu. Aliás, acho que aumentou!”. Lendo assim soa clichê, parece forçação de barra. Por isso fui lá ver ao vivo. E, acreditem, é isso mesmo. Fica fácil entender por que essa mulher hoje é uma celebridade na cena swinger carioca. Na internet, ganhou fama como Ruth36. “Por ter transado com 36 homens em uma noite só”, explica Saulo*, seu simpático marido. “Meu recorde foram 41, mas pegou o apelido, e o pessoal continua me chamando de Ruth36”, explica a própria.

 

 

Casado com Ruth há sete anos, Saulo é um cara gente boa e, como é de se imaginar, liberal e bastante bem resolvido. “Temos uma relação muito boa, sinto muito orgulho dela, gosto de ter uma mulher desejada.” E não dá ciúmes? “Nunca tive, em nenhuma relação na minha vida. Abomino o ciúme. Por exemplo: ela queria ter um amante fixo, falou comigo e eu deixei numa boa. Eles se encontram todo sábado à tarde e, neste caso, eu nunca vou junto. Afinal, é o amante dela, poxa, eu não tenho nada com isso.”

Saulo usou a expressão “neste caso” porque, nas sessão de gang bang [quando uma mulher transa com diversos homens de uma só vez] que Trip presenciou, ele fornecia as dezenas de camisinhas necessárias e ajeitava os lençóis nos breves intervalos em que a mulher ia ao banheiro se recompor --hoje em dia, explica, às vezes espera no bar, tomando uma cervejinha. “Tem dia que eu não aguento e entro, mas normalmente fico só no controle, porque pode ter algum cara que se anime muito, então coloco ordem. Não pode ela dizer ‘tá machucando’ e o cara continuar, por exemplo. Uma vez aconteceu isso e eu meti a mão no peito do cara. Mas isso é raro, é muito difícil dar problema, tratam ela como uma rainha.”

Brincando de médico

“Acho que outras mulheres gostariam de fazer o que eu faço, pelo menos por um dia. Mas não têm coragem ou acham que não aguentariam”, fala Ruth. “Tem ainda o preconceito da sociedade, muita coisa oprime e não deixa que a mulher se liberte. Sexo é uma coisa muito bonita, mas as pessoas às vezes veem isso de outra maneira”, filosofa. Ela não sabe explicar de onde vem tanto fogo, mas lembra que a raiz vem de longe, bem longe. “Quando eu tinha 5 anos brincava de médico com os meninos do prédio. Eram uns seis meninos da minha idade, eu tirava a roupa e deixava eles passarem a mão em todo o meu corpo. Lembro perfeitamente a sensação deliciosa que sentia”, afirma. “E reproduzo isso hoje em dia nos gang bangs. Adoro quando tem uma meia dúzia de homens em torno de mim, me usando e abusando.”

“Ela queria ter um amante fixo, e eu deixei numa boa. Eu nunca vou junto. é o amante dela, poxa, eu não tenho nada a ver com isso”

Com o tempo, Ruth foi se soltando mais, e é tratada como estrela nas noites sexuais cariocas que frequenta. Marcou de conversar com a reportagem em uma dessas “festas liberais” – como têm sido chamadas as baladas de swing que permitem a entrada de solteiros. Eram três andares inteiros de um motel, com todas as suítes e áreas comuns – pista de dança, bar e corredores – liberadas. Em uma grande suíte, a plaquinha de madeira informava: “Cantinho da Ruth”.

É ali que nossa personagem entra no começo da festa e só sai quatro, cinco horas depois, não sem antes ter saciado todos os homens que se apresentaram. E algumas mulheres também – “Sou total flex”. Hoje Ruth mudou de festa, mas não de atitude. “A média continua sendo a mesma, de 20 a 25 caras numa única noite”, afirma. Sua área exclusiva está até mais organizada, conforme a própria explica: “A suíte do Cantinho da Ruth agora tem um vidro enorme na parede, como um aquário. Do outro lado tem um ambiente com sofás e mesinhas onde as pessoas podem assistir a tudo o que rola lá dentro da suíte”. A performance é sempre às quintas-feiras. “Fico ansiosa esperando a quinta. É toda uma preparação, tenho que estar bonitona, gostosona. Acabo de me produzir, olho no espelho e falo: ‘Tô gata! Tô linda!’. Só não vou quando estou menstruada, um período horroroso. Não gosto de transar assim e parece que dura uma eternidade”, lamenta. Saulo emenda: “Mas aí na semana seguinte ela desconta”.

Fuzileiros navais

Tudo o que envolve o universo de Ruth é superlativo e, quem não a conhece, pode duvidar das histórias. Por isso a reportagem só bancou este texto porque viu a ação in loco. Ruth é uma exibicionista completa. Adora que a vejam, prefere luzes acesas e diverte-se contando tudo tintim por tintim. Narra tranquilamente, por exemplo, detalhes minuciosos de seus encontros com um grupo de oito fuzileiros navais que foram seus amantes fixos com a mesma naturalidade de quem fala que o café acabou. Faz questão de esmiuçar como, na quinta antes da última troca de e-mails com a reportagem, morreu de prazer durante um gang bang anal com 15 homens. E por aí vai.

Nessa toada, vale citar o cálculo que ela e Saulo fizeram certa vez, tentando estimar com quantos homens Ruth havia transado no ano anterior. Arredondaram todos os números para baixo e ainda desconsideraram algumas transas, como as com Saulo – “As melhores da noite”, garante ela, dando mais uma de suas repetidas demonstrações de afeto pelo marido. Consideraram 20 homens por semana. Descontando uma semana de “recesso” por mês, são 60 varões a cada 30 dias. Em um ano, passam de 700 rapazes.

Antes do fim, gostaria de pedir licença para abrir um parêntese em meio a essa avalanche sexual: como o prazer de Ruth – e também o de Saulo – é um tanto incomum, reforço que se trata de um casal de vida social normal, profissionalmente bem-sucedido, pais dedicados e, além disso, muito educados e simpáticos. Esclarecimento feito, voltemos às estripulias de nossa amiga.

O que mais me impressionou nesta história toda foi ver como, para escolher seus parceiros, Ruth não faz distinção alguma de idade, tamanho da barriga, do dote, altura, aparência, nada. “Desde que seja homem, está ótimo. Não importa a idade, o tamanho nem a cor”, brinca, a sério.

E tem alguma preferência na cama? “Nem sei do que eu gosto mais, é muita coisa. Gosto de tudo. eu gosto de sexo!” Saulo fala um pouco mais sobre o assunto: “Ela gosta de carinho, de cuidadinho. E não gosta dessa história de tapa na bunda, que puxem o cabelo ou apertem o bico do peito muito forte. Isso corta o barato dela”. É isso aí. Abuse e se lambuze com Ruth, mas não seja bruto. Ah, cigarro ela também não suporta, ataca a rinite.

Nossa amiga esclarece esses últimos detalhes e despede-se em seu último e-mail, usando sua assinatura padrão:

“Um beijo para você e para todos da Redação,

ass.

Ruth VIP (Very Important Puta)”.

*Ruth e Saulo são nomes fictícios

 

Com a palavra, os psicanalistas

 

 

Convidamos quatro especialistas para tentar entender o que se passa na cabeça de Saulo e Ruth.

“Vou tratar o casal como ficção, pois ele deve ser muito mais complexo e interessante do que as poucas linhas que o descreveram; sua singularidade é impossível de ser verificada a não ser em conversas ao vivo. Feita a ressalva, vamos lá. Eles têm prazer em satisfazer. Precisam do desejo dos outros, se alimentam do olhar do outro, o casal sozinho não se constitui. Eles precisam do prazer alheio para subsistirem como casal. A psicanálise tem um nome para a situação: uma relação anaclítica, na qual se depende do outro. Como preciso do outro, se eu o satisfaço, ele não se vai, não me abandona, não fico sozinho. Não é um prazer COM o outro, mas é o prazer DO outro que importa. Eles se desviam da norma sim. Mas desde o feminismo e da queda do muro de Berlim a vida particular tornou-se problema privado, não há certo ou errado. Este casal, como não prejudica ninguém, tem o direito social de fazer o que bem entende. E, enquanto funcionar tal esquema, eles serão ‘felizes para sempre’.”

Mauro Hegenberg, professor de psicoterapia psicanalítica de casal do Instituto Sedes Sapientiae

“Nossa cultura hoje prega o prazer absoluto acima de tudo. Acho isso desolador. Mais do que exibicionismo, Ruth parece ter um insaciável impulso sexual, que a faz sentir-se importante, inclusive para ela mesma. O marido, por sua vez, parece um voyeur também sem limites, insaciável. Mas ele segue pela inação, e ela, pela ação. Ela tem 15 homens e não se satisfaz mesmo assim, nada a sacia. O único limite é a menstruação, que teria a ver com a feminilidade, mas não neste caso.”

Sueli Gevertz, coordenadora de comunicação da Sociedade Brasileira de Psicanálise

“Ruth pratica uma inversão da fantasia fálica da virilidade masculina. Sinal de que excita, frequentemente, homens e mulheres, da fêmea poderosa que derrota a noção megalomaníaca de Adão. Eva é a própria serpente cujas pernas abrigam a caverna que dá prazer, dá à luz (Ruth é mãe), e o marido é o coadjuvante do pecado. Esse coadjuvante não se sente traído, não lhe cabe a pecha de ‘corno’. Pelo contrário, aparenta uma superioridade na vizinhança da indiferença. Não sente ‘ciúmes’, como se o ‘show’ fosse da ‘rainha’ para sua própria excitação, prazer. Comparativamente, a prostituta que também transa com inúmeros fregueses mas só ‘goza’ com o seu cafetão. Interessante consignar-se a assinatura de VIP (Very Important Puta) e, talvez, aí esteja a compreensão da conduta com traços sadomasoquistas: a frustração da prostituição. Falta-se o essencial para essa categoria, o pagamento. Ela oferece, gratuitamente, aquilo que a sociedade de consumo cobra.”

Jacob Pinheiro Goldberg, doutor em psicologia e escritor

“A tendência seria fazer uma série de hipóteses, falar de exibicionismo, de desejo. Mas seriam análises apressadas, eu teria que estudar melhor esse caso. É como os cross-dressers [homens que se vestem de mulher], que estudei a fundo e vi que cada caso é mais complexo que tantas hipóteses comuns para esse universo, como a de que seria um homossexualismo enrustido. Independentemente de qualquer coisa, contudo, Ruth tem uma compulsão. Transar com cinco é uma coisa, com 30 é outra. Alguns homens também agem assim, mas aí o limite é a potência, a não ser no caso dos homossexuais passivos”.

Luiz Alberto Hanns, coordenador da nova tradução das obras do Freud para o português

 

Agradecimentos Editora Cena Muda pelos desenhos de Carlos Zéfiro usados nas colagens

 

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