Cafeína; mais forte que cocaína

por Luiz Alberto Mendes

 

Café, essa droga deliciosa

 

Cafeína é droga muito mais poderosa que cocaína. Em meu nada glorioso passado, fui, várias vezes, submetido a torturas e sevícias. Pancadas danificaram o funcionamento de meu intestino. Café para mim é veneno. É tomar e logo em seguida ser acometido por dores que parece vão dar nó nas tripas. Tentei largar mil vezes. Impossível. É cultural: nós brasileiros tomamos café desde pequenos.

Café vem da Etiópia. É legado e orgulho da cultura etíope. Os árabes adotaram café exatamente porque a bebida alcoólica era proibida pelo Alcorão. A pena ao alcoolismo era execução. Café era legal, vinho não. Mas era outro café. Muito diferente da variedade cultivada no Brasil atualmente. Os guerreiros enchiam a cara de café antes de enfrentarem a luta. Os sufis tomavam muito café antes de iniciarem os rodopios que os levavam ao êxtase.

Estive preso com um boliviano que se tornou amigo. Sua família mandava café de lá para ele. Vinha em saquinhos pressurizados de 5 ou 10 gramas. Tipo ki-suco. Com 5 colheres de sopa do melhor pó de café nacional, fazíamos uma garrafa térmica de um litro cheia. Com meia colher do café que vinha da Bolívia fazíamos a mesma quantia e até mais forte. Tinta preta mesmo. Quem aprecia café, sabe do que estou falando.

Chegou à Europa como umas das especiarias do oriente. Muitos salões para café foram abertos. Tomar café nos “cafés” era uma atividade social por excelência. Aos “cafés” acorriam escritores, políticos, poetas, trabalhadores comuns, tanto pobres quanto ricos. “Café” era um espaço democrático. Os distúrbios sociais e as revoluções eram idealizados e até desencadeados a partir dos “cafés”.

Na borra do café lia-se o futuro. Café também era considerado elixir do amor. Muitos aventureiros arriscaram o pescoço contrabandeando e esparramando suas sementes pelo mundo. Na Índia e no Brasil suas sementes entraram sorrateiramente e dominaram.

O álcool excita e a maconha relaxa. O café afasta o sono, traz vivacidade e descontração ao mesmo tempo. Talvez esteja ai a raiz de seu sucesso. Por falar nisso, aceita um café? Com dor ou sem dor, falar deu a maior vontade; vou à cozinha coar um agora...

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Luiz Mendes

18/11/2011.

 

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