Droga e Educação em Casa

por Luiz Alberto Mendes

 

O que é que vou dizer a meus filhos?

 

No momento atual, como reagirão os pais ao perceberem que seus filhos estão fumando maconha?

Demora a perceber. As reações são muito parecidas com as das bebidas alcoólicas. E estas são “compreensíveis” nos jovens porque não proibidas. O cheiro forte, a natural olhada nos bolsos ao lavar as roupas, os “faróis de milha” baixos e vermelhos, são muitos os sinais. A geração dos pais os conhece bem; tiveram que disfarçar muito: “quem não tem colírio usa óculos escuros”, já dizia Raul.

Se forem meus filhos (tenho um de 12 e outro de 16 anos), como reagir? Simples, não vai me chocar. Os garotos da idade deles fumam maconha aqui, quase na porta de casa. Tem duas “lojinhas” há menos de 100 metros daqui. Depois da batalha para não ser detonado pelo peso da consciência, o que farei? Castigar, agredir, ameaçar, proibir, censurar, o que mais? Comigo não resolveu. Não vai resolver com eles também.

Para começar apanhei como um cão na infância e adolescência. Não tenho coragem de encostar um dedo em um de meus filhos. Até de repreender, chamar a atenção, discutir, essas coisas que parecem naturais, sinto-me constrangido. Cubro-os de amor com meus olhos, em silêncio... A minha história com eles é complexa. Estava preso quando nasceram. Não pude participar da educação deles diretamente.  

Conversaria. Com toda sinceridade contaria da euforia, do prazer, de como é bom desligar a máquina, ter aquela alegria toda e aquela paz inexplicável, mesmo que apenas momentânea. A parte boa disso tudo. Diria também do “revertério”, da ressaca, da angústia e do arrependimento que vem depois. Comentaria acerca de como poderia prejudicá-los na concentração, nos estudos e na saúde. Dava até para mostrar em livros, vídeos, do modo mais didático possível. Se não resultasse, o que faria?

Tenho dois amigos que estão lidando com o problema de maneira parecida. Um dos amigos percebeu que o filho estava fumando maconha. Segundo ele, seguiu esse caminho que eu faria a princípio. Não deu certo (será que dá certo com alguém?). E daí? Bem, ele reagiu como pode. Não resolveu a questão, mas tentou minimizar consequências. Admitiu que o filho fumasse dentro de casa e é ele quem compra a mercadoria. Por quê? Evidente; fumando ou comprando na rua pode ser preso, roubado ou até morto. Ele concorda comigo que o maior problema da droga é a ilegalidade, pois que promove o tráfico. Violência, armas, crime e mortes são consequências.

A outra é uma amiga advogada com um casal de filhos adolescentes. Ela quem compra, carrega e qualquer coisa é com ela, caso chegue a polícia, por exemplo. Fuma com os filhos em casa normalmente, qual fosse a coisa mais natural do mundo. Mas exige deles um comportamento normal. Tem que estudar. A menina dela, mais velha, já esta trabalhando e estudando. E conviver com todo mundo com naturalidade.

A maioria da molecada aqui do bairro fuma escondido dos pais e de todo mundo. Vire e mexe a polícia pega, bate bastante, humilha e solta todo quebrado. Outro dia morreu um deles aqui. Garoto de 15 anos, em overdose de lança perfume, bebida, drogas e tudo o que pode. Provavelmente não soube se controlar porque não possuía informação, orientação, ou sei-lá-o-que.

Não sei se meus garotos vão entrar nessa. Acho que devo pensar que é possível e já ter uma idéia de como reagir. Mas, no fundo creio que me restará pensar e agir com coerência. Diálogo me parece o único caminho viável. Estudo, leio e pesquiso tentando estar atualizado sempre. Tenho comigo que é preciso estar preparado para essa e outras surpresas da vida.

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Luiz Mendes

04/07/2011. 


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