Cleyton Mendes,
o carteiro poeta

O jovem da periferia de
São Paulo distribui versos
com as correspondências que
entrega e aproxima a poesia
da vida cotidiana

“Tem sempre uma piadinha: Pô,
carteiro, só traz conta!”,
ri Cleyton Mendes

“Eu peguei autores periféricos,
imprimi, recortei e eu coloco
junto com as correspondências
essas poesias”

Tinha o peito repleto de cicatriz
Mas carregava no rosto
Ironicamente
Um desejo de ser feliz

Cleyton Mendes

“Na maioria das vezes são
autores que eu me identifico,
que eu gosto do trabalho,
e que têm uma linguagem
que dialogue com as pessoas
comuns. Coloco junto com as
cartas e vou distribuindo
aleatoriamente”

“Por coincidência, vou entregar
carta num restaurante e caiu
uma poesia do Victor Rodrigues,
que diz assim...”

A gente é o que come
Quem não come nada, some
Deve ser por isso
Que ninguém vê
Toda essa gente que passa fome

“Talvez ela nem dê valor, assim:
‘Ah, que colocaram esse papel
aqui?’. Mas talvez ela pare
pra pensar alguma coisa,
refletir e ver que a poesia
está ali também, está perto dela.
Assim como sempre esteve perto
de mim e eu nunca soube”

“Em toda quebrada, se você for
reparar, tem muita igreja e muito
boteco, que é a forma de respirar
que a gente acaba encontrando.
E eu não queria nem um nem outro.
Aí eu escrevia, como se fosse um
diário. E eu descobri que aquilo
era poesia, por acaso”

“A literatura que é passada
na escola é uma coisa distante,
aqueles livros cheios de pó.
Aí quando a criança descobre
um poeta que é vivo, que
mora do lado da casa dela,
que fala a linguagem dela,
é um outro despertar”

“Porque a gente não tem
que seguir norma de Academia
para fazer poesia. Poesia é
o que a gente sente, né?”

“O que você faz não é só
um desabafo. O que você faz
é arte e essa arte comunga
com outras pessoas e você tem
que levar isso para elas”

Mas se mesmo assim
Julgar pobres meus versos
Julgar pobre meus escritos
Eu digo
Mais pobre é você
Pobre de espírito

REPORTAGEM: Nathália Cariatti
            Fernando Martins
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