Sergio Mallandro, o capeta em forma de guri

O garoto da praia de Ipanema transcendeu os anos 80 e virou um clássico

por Fernando Luna em

Sergio Neiva Cavalcanti, yeah-yeah!, é Sergio Mallandro. O garoto da praia de Ipanema vendeu 1 milhão de discos com “Vem fazer glu-glu”, virou fenômeno nacional com programas infantis, escorregou na baixaria com as pegadinhas, voltou no revival dos anos 80 e transcendeu tudo isso para virar um clássico da palhaçada – com direito a homenagem de Caetano Veloso, Lázaro Ramos e Wagner Moura

Certo mesmo é que o carioca Sergio Neiva Cavalcanti nasceu em 12 de outubro. Nesse caso, mais para Dia das Crianças do que para Nossa Senhora da Aparecida. Em que ano aconteceu, ele prefere não revelar.

Esconde a idade. Pelos registros que circulam por aí, a data mais provável é 1957. Deve estar com 50 e poucos. Jura que, na balada, dão no máximo uns 45. Enfim. Na dúvida, pediu um cuidado especial com as fotos em que aparece sem camisa.

Sergio cresceu na zona sul do Rio de Janeiro. Dinheiro não era problema, a família do pai tinha. Bastante. O avô, tabelião, morava numa mansão no Leblon, grande o bastante para, hoje, dar lugar a dois prédios. O pai preferiu se virar e fez carreira na Caixa Econômica Federal. Dirigia um Gordini e vivia num apartamento de três quartos na Lagoa – Edgard, Leila e seus três filhos, Claudio, Sergio e Carla. Isso numa época em que apartamentos de três quartos tinham realmente três quartos, e não três depósitos.

Mas tinham também um único banheiro. A mania de suítes da classe média é recente. E, sim, o detalhe imobiliário é importante. Esse único banheiro seria o assassinato do arquiduque Ferdinando, detonando, se não a Primeira Guerra, sete anos de conflito. Acontece que Edgard sofreu um infarto fatal. Sergio tinha 11 anos: “Era o herói morto. Meu pai era meu herói, meu melhor amigo”. Três anos depois, sua mãe se casaria novamente, com o general Caio Marcos Ovale de Lemos.

O veterano de guerra, capitão na Força Expedicionária Brasileira, agora dividia o solitário banheiro com o enteado, expulso de quatro colégios e de um clube. Logo na primeira manhã de convívio, Sergio deu com a cara na porta do banheiro. “Ô, general, abre rapidinho, tô atrasado para o colégio”, implorou. Lá dentro, a voz da caserna gritou: “Aguarde no local!”. Dia seguinte, Sergio ajustou o despertador para tocar mais cedo. Quando o oficial meteu a mão na maçaneta, ouviu o deboche: “Aguarde no local, general!”. Uma declaração de guerra. 

É claro que o general perdeu a guerra.

Não tinha como. Nem se juntasse Napoleão Bonaparte, Duque de Caxias e Douglas MacArthur. O moleque era ligeiro, pós-graduado em praia e outras mumunhas. Conversa solta, vendia parafuso sem saber como bater um prego. “Todo mundo falava que eu tinha que ser artista”, lembra Sergio Mallandro.

Foi.

Abandonou a faculdade de comunicação para defender o Rio de Janeiro no programa Cidade contra cidade, do SBT – ao lado da igualmente desconhecida Xuxa Meneghel. Em vez dela, foi ele quem Silvio Santos convidou para ser jurado do Show de calouros e participar do popularesco O povo na TV. E ainda estava em cartaz com Menino do Rio. Tudo em 1981.

Não bastassem TV e cinema, logo no ano seguinte gravou um disco. "Vem fazer glu-glu" vendeu 1 (hum!) milhão de cópias. De lá pra cá, embalou. Passou pelas principais emissoras do país com seu próprio programa infantil (Show do Mallandro, na Globo, Programa Sergio Mallandro, no SBT, Festa do Mallandro, na Manchete). Esteve em um cinema perto de você com Renato Aragão (O Trapalhão na arca de Noé), Xuxa (Lua de cristal) e Faustão (O inspetor Faustão e o Mallandro).

Acima de tudo, Mallandro inaugurou uma escola de pantomimas e onomatopeias que lapidou uma geração. “Rááá!”, “Yeah-yeah!” e “Glu-glu!”, sempre acompanhadas por pulinhos acrobáticos e mãos pinçando o ar, redefiniram praticamente todos os sentimentos catalogados desde Aristófanes. Para mais informações, consulte o YouTube.

Nos anos 90, trocou as crianças pelos adultos. Com o quadro “Pegadinha do Mallandro” e afins, liderou índices de audiência e de baixaria – numa ocasião, um ator disfarçado oferecia açúcar como se fosse cocaína para o dependente químico Rafael Ilha, ex-Polegar. Ele faz o mea-culpa. “Quando você está lá, disputando audiência, você quer ganhar”, concede. “Mas Sergio Mallandro é família.” Até que funcionou – levou a modesta CNT/Gazeta ao primeiro lugar do Ibope. Mas não por muito tempo.

Aos poucos, telespectadores mudavam de canal e Mallandro escorregava para o ostracismo. Quando parecia que a piada havia perdido a graça, chegaram os anos 2000. E, com eles, o revival dos anos 80. Pronto. Como na canção, eis o Mallandro na praça outra vez – ao lado de Bozo, Fofão e Alf, o ETeimoso. Velho? Vintage!

Na hora em que o trash 80’s passou, graças a Deus, veio a Ópera do Mallandro. Um musical de 20 min dirigido por André Moraes, autor das trilhas de Lisbela e o prisioneiro e Meu tio matou um cara – e que, agora, prepara um documentário sobre Mallandro. Em cena, Lázaro Ramos, Wagner Moura, Taís Araújo, Lúcio Mauro Filho e cia. dançam e cantam músicas que Mallandro gravou – além do “Glu-glu”, “Faro-fa-fá”, “Bilu Teteia” e “Capeta em forma de guri”. Há uma única canção inédita, cantada por Caetano Veloso: “Ele é Mallandro/Mas é também um cara muito legal/Quando chegar vai levantar seu astral”. Fácil encontrar na rede.

Não é pegadinha, não.

O curta Ópera do mallandro tem Lázaro Ramos e Wagner Moura, além do Caetano Veloso cantando uma música em sua homenagem. A Orquestra Imperial toca “vem fazer glu-glu”. Quando você se deu conta de que tinha virado um clássico? Quando fui no Largo São Francisco [faculdade de direito da USP], fazer uma palestra pros universitários. Quando vi a multidão eufórica, pensei: “As crianças cresceram”. Viam meus programas quando eram mais novas, e hoje têm 20 e poucos anos. Foi a consagração. Disseram que nem quando o Lula foi lá juntou tanta gente.

Você se incomoda com o papel meio bizarro de ícone dos anos 80? Nunca me senti assim. As pessoas querem se aproximar de mim, riem, fazem glu-glu, pedem abraço... Uma barato, uma alegria. Sergio Mallandro é moda, tô na moda.

Sergio Neiva Cavalcanti não é nome de malandro. Qual é a história da sua família? A família do meu pai era muito rica. Meu avô era tabelião no Rio de Janeiro. Milionário, morava numa mansão tão grande no Leblon que hoje construíram dois prédios lá no lugar. Mas meu pai não quis ficar na moleza e foi ser avaliador da Caixa Econômica Federal. Então, a gente tinha uma vida de classe média. Gordini e apartamento de três quartos, na Lagoa.

Ele morreu cedo. É, com 45 anos, de infarto. Eu tinha 11 anos, foi uma coisa na minha vida... Até hoje lembro perfeitamente do caixão, nunca tinha visto um caixão. Já viu aquele filme, O campeão? É aquilo, o herói morto. Ele era meu herói, meu melhor amigo. Não posso ver esse filme que choro compulsivamente.

Como ele era? Meu pai também fazia música. Era muito animado, engraçado. Tem muito a ver com o que sou, desde pequeno sou assim. Sergio Mallandro não é um personagem.

Você sempre foi acelerado? Sempre. Minha mãe até me levou no psiquiatra. Me achava muito levado. Fiz eletroencefalograma, teste, uns desenhos... Veio que era um moleque ligeiro, de Q.I. elevado, esperto pra caramba. 

Ia bem no colégio? Fui expulso de quatro [risos]! Era moleque. Atrapalhava o andamento do colégio, tinha piada pra tudo. Mas sempre fui muito bem-educado, nunca fui de desrespeitar o professor. Também fui expulso do [tradicional clube] Piraquê. Quer dizer, expulso, não. Convidado a me retirar.

O que você teria feito? Tudo o que você possa imaginar. Era o líder, mas não executava. Dizia “vamos soltar uma bomba no cinema”, agitava tudo e deixava o outro cara soltar.

Era o mentor intelectual. Era o líder da galera. Meu apelido é Mallandro porque eu penetrava nos clubes. Nunca paguei uma entrada. Penetrei no Monte Líbano, difícil pra caramba. Quando um amigo viu, falou: “Tu é malandro!”. Pegou.

Gostava de praia? Vivi na praia, desde moleque. Adoro. Frequentei o Arpoardor, o Píer, a Garcia d’Ávila [points de Ipanema]. Era da turma do jiu-jítsu. Fui o sexto aluno do Carlson Gracie. Treinei uns 20 anos, faixa marrom.

Em 20 anos não pegou a preta? Era pior no jiu-jítsu que no colégio. É que, quando virei artista, parei de treinar diariamente.

Brigava? Nunca fui de porrada, era do bem. Tive aí uns dois episódios de briga.

Quais? Uma vez saindo de uma balada do [clube] Higino, em Teresópolis. Era moleque, dei um mata-leão num playboy que cismou comigo. Depois, numa boate aqui em São Paulo, um cara pegou nos peitos da minha ex-mulher. Aí, porra...

Voltando à praia, quem mais era da sua turma? O Maninho, que hoje é faixa preta, o Mosquito, o Roni Falcão, da asa-delta...

Só tinha homem? Tinha as gatas, brother! Sou da época que a Monique Evans fazia topless. Vi várias vezes o peitinho da Monique, lindo. Na praia acontecia de tudo. Lembro quando apareceram uns nudistas em Ipanema. Os locais se revoltaram com os outros sem calção. Porradaria geral, as pirocas voando e eu com a minha gata, tomando um limãozinho... [Risos]

Você conheceu a Xuxa nessa época? Pegava a Xuxa no [programa humorístico] Planeta dos homens e levava de moto pra casa dela, em Marechal Hermes [subúrbio na zona norte do Rio]. Às vezes dormia lá, no quarto dos meninos. Ela ficava num quartinho com o pai e a mãe. Um apartamento muito humilde. Xuxa é uma vencedora, maravilhosa.

Os dois sem grana, né? Ela empurrava minha moto! Não tinha dinheiro pra nada, nem pra gasolina. Então metia mangueira na Xuxa. Rááá! Quer dizer, metia a mangueira no tanque do carro do pai da Xuxa! A gente ia pra [praia] Coroa Grande.

E... Lembro da gente um dia lá, a praia deserta. Eu, a Xuxa, a Luiza Brunet, que era amiga dela, e o primeiro marido da Luiza, um baixinho. Xuxa de topless, a Luiza de topless e o cara querendo dar uma corrida [risos]... Tá louco?! Luiza, chega pra cá, Xuxinha, vai pra lá. E deitei no meio das duas, pra pegar sol.

Só pegava o sol? Só pegava o sol... Era amigo, mesmo. Fomos virando amigos, irmãos e bababá, bebebé...

Bababá, bebebé? Dei uma beijoquinha nela, um beijo platônico [risos]. Olha, se fosse falar quatro ou cinco nomes de mulheres famosas que já peguei...

Fala aí. Não, não. Estão todas casadas...

Monique Evans? Nunca. A gente viajou pra fazer um desfile pra Company, e o [estilista] Mauro Taubman botou a gente no mesmo quarto. Monique era top da top: “Não vou nem tomar banho, pra você não vir me agarrar” [risos]. E ela era a cara do irmão, Marcos Pantera, meu amigo. Ainda mais de cabelinho curto... Falei: “Você tá a cara do Pantera, vai tomar um banhozinho...”.

Outra dos anos 80: Magda Cotrofe? Não peguei.

Roberta Close? Não peguei, não era meu negócio. Chegou até a me dar umas telefonadas: “Serginho, você não quer passar aqui?”, uma parada assim. Dei uma disfarçada, não peguei.

E as Mallandrinhas? Por que não pegaria uma Mallandrinha, porra? Uma mulher maior de idade, linda, gostosa... não vou pegar por quê? Só se fosse maluco. Agora, dizer que pego todas as Mallandrinhas também é loucura, gosto de romance. 

O que você aprendeu na praia? Você aprende a pechinchar. O limão aqui é 1,50, ali na frente cai para 0,50. Tem que ter a malandragem da praia. Eu pedia dinheiro emprestado pra galera dizendo que tinha perdido a grana do ônibus. Ia do Arpoador à Garcia nessa, arrecadava cem contos. Quando comecei a esbarrar nas mesmas pessoas, tive que ir pra Copacabana...

Existe uma cultura de praia? Cultura de praia é ver se a mulher é gostosa. Tu conhece a mulher de noite, vai na praia e é um terror. E tem também o contrário: uma carinha de camarão, mas com um corpão. Ráá!

Também conhecia a turma do surf? Não pegava onda legal. Deixava os caras lá e ficava ali na orelha das gatas. Ganhava na risada... Tinha o André de Biase. O Pepê era meu irmão, pessoa maravilhosa. Petit, o menino do Rio, também era meu brother. Ele teve um acidente de moto e ficou meio paralisado. A última vez que encontrei foi na luta histórica do Marcelo Behring com o Cassio Cardoso, outros dois amigos. Tava ele lá, todo torto. Falou: “Ó, Mallandro, o que restou de mim”. Acabou se matando...

Você andava de moto? Ando desde os 16 anos, quando ganhei uma Suzuki cinquentinha, verde. Caí uma vez, ainda moleque, e quebrei a perna. Depois, nunca mais. Vou devagarinho, o para-choque da moto é a sua cabeça.

Tomava dura da polícia? Toda hora! Já tomei tiro fugindo da polícia. O guarda mandou parar. Fingi que ia frear e acelerei. Só ouvi “pow, pow!”. Acho que era tiro de festim, sei lá...

Foi preso? Fui. Tava na moto de um amigo com o mecânico que cuidava dela na garupa, o Neguinho. O camburão parou e a gente sem o documento da moto nem carteira de motorista... Delegacia. Falei pro delegado ligar pro meu padrasto, general Caio Marcos Ovale de Lemos. Disse pro Neguinho: “Agora vai mudar tudo!”. E o delegado falando com o general: “É desses generais que a gente precisa!”. Eu sem entender aquilo. Desligou, botou o pé na mesa e deu a ordem: “Reboca!” [risos].

Falhou. Eu e o Neguinho ficamos no corredor. O cara mandou escrever num caderno inteiro: “Não devo dirigir sem habilitação, devo respeitar as leis, ser amigo da sociedade”. E o Neguinho era analfabeto, nem podia ajudar... O general era da Segunda Guerra Mundial, louco, né?

Quanto tempo você morou com o general? Dos 13 aos 20 anos.

Como vocês se aguentavam? Só Deus sabe. O general tocava o terror. Ó, só tinha um banheiro no apartamento. Eu acordava às 7h e a porta tava trancada. Primeiro dia dele casado com minha mãe. Dei uma batidinha: “Aê, general, dá pra dar uma abridinha, tô atrasado pro colégio”. Ele: “Aguarde no local!” [risos].

Aguarde no local? Era gíria do exército. Aí comecei a acordar mais cedo que ele. Às 6h15 tava no banheiro... Quando o general acordou e foi na porra do banheiro, gritei lá de dentro: “Aguarde no local, general!” [risos]. Teve uma época que acabava a novela e eu já entrava no banheiro, dormia na banheira forrada de jornal...

Foi difícil ver outro homem na sua casa, depois que seu pai morreu? Não. Ele chegou três anos depois. E eu sabia que minha mãe precisava de um companheiro. Ele era apaixonado por ela. Só que era louco...

A família passou dificuldade de grana sem seu pai? Minha mãe virou supermãe, foi ser gerente de loja, vender Avon, costurar para fora. Minha vó perguntou se queria que ela criasse o meu irmão e a minha irmã, porque eu era ovelha negra. Minha mãe disse não, “onde crio um, crio todos”.

Nem uma ajuda financeira? Para minha mãe, não. Pra mim dava sempre uma mesadinha. Até que um dia minha mãe falou: “Para de dar mesada, ou ele não vai ser nada na vida”. Aí fui pra lona e tive que trabalhar.

Qual foi seu primeiro emprego? Vendedor de parafuso. Não entendia nada de parafuso, mas convencia o cara a comprar. Depois arrumei um trabalho de vender aposentadoria de dez anos: a pessoa paga e em dez anos receberia a aposentadoria.

Parece estranho. Enchi de aposentadoria meus avós e tios, botei todo mundo pra comprar. Um dia, deu no Jornal Nacional: “O conto do vigário da aposentadoria”! [risos]. Brother, dali a pouco todo mundo me ligando: “Seeeeergio, você me vendeu um negócio fantasma!”, a maior confusão na família...

Devolveu o dinheiro? Fui atrás dos caras. Já cheguei falando “tu é picareta, safado, vai apanhar, devolve a grana!”. Como meu padrasto era general, também dei logo a carteirada. O cara me deu uma parte, que devolvi pras pessoas. Quando voltei pra pegar o resto, não existia mais nada.

Falando em tios, você é sobrinho da Leda Castro Neves, socialite carioca? É, tia Leda, minha melhor tia.

Ela tinha até boate em casa, né? Tinha, na época da novela Dancing days. A Luciana, filha da tia Leda, entrava comigo nos concursos de dança. Eu andava no meio dos milionários, no meio dos pobres, dos surfistas, da galera... Não tinha preconceito de nada. A primeira vez que apareci na frente das câmeras foi num concurso de dança, no programa do Flávio Cavalcanti. Eu e a [atriz] Claudia Magno tiramos primeiro lugar.

Você queria trabalhar na TV? Fiz faculdade até o terceiro período de comunicação. Aí entrei no teatro, no Tablado. Todo mundo falava que eu tinha que ser artista. “Tu é engraçado, tem que fazer um programa na televisão.” Eu começava a contar uma história e dali a pouco tinha 15 pessoas escutando. Fui representar o Rio no programa Cidade contra cidade, do Silvio Santos.

Como foi? Tinha que arrumar três mulheres para representar o Rio. Levei minha namorada, a Xuxa e a Solange Couto, que era mulata do Sargentelli. A gente ganhava um carro atrás do outro. Falo pro Silvio: “Na bancada tinha eu e a Xuxa. E você, com seu instinto empresarial, me escolheu! Tu era louco?!” [risos].

Aliás, queria fazer as mesmas perguntas que você já fez, no ar, pro Silvio Santos: “Com quantos anos, onde foi e com quem foi que o senhor perdeu a virgindade?”. Porra, foi uma tragédia. Um puteiro no centro do Rio. Tinha uns 14 anos... Minha puberdade demorou a chegar, o pentelho demorou a chegar, entende? Meu apelido era “Sem-Sem”: sem pentelho, sem caralho... Não tirava a toalha no vestiário. Cheguei a cortar cabelo da cabeça e colar embaixo, pra não passar vergonha [risos].

Para, vai. Sério! Era traumatizado com essa porra...

Ainda era virgem? Era. Mas quando fui pela primeira vez na zona já tava com meus pentelhinhos. Tinha umas putas horríveis, com os peitos batendo no chão. Filme de terror. Rááá! Uma me arrastou pro quarto, tirei a roupa e fui pra cima dela. Fiquei lá, parado [risos]! Juro, não sabia que tinha que ir pra frente e pra trás...

Outra pergunta que você fez pro Silvio: “Quanto pagou?”. Merreca, precinho de estudante.

Ainda paga? Não, acho estranho. Claro que você paga paralelamente, né? Uma roupinha dali, uns óculos... Pago em acessórios. Acaba ficando mais caro, seria mais barato dar R$ 500 e pronto. O negócio é que gosto de romance.

Está solteiro? Tô. Já casei duas vezes, vai ser difícil casar de novo. Casar é como pular de paraquedas pelado: tá cheio de pinto lá embaixo, uma hora você vai se foder [risos]. Com todo mundo é assim.

Já foi traído? Se fui, não sei. Hoje, perdoaria uma traição. Prefiro dividir um filé-mignon do que comer picadinho [risos].

Você acha a mulherada hoje muito diferente do que era nos anos 80? Completamente. Agora uma menina de 20 anos sabe dez vezes mais do que uma de antigamente. Sexo se expandiu. Um garoto ou uma garota entra na internet e aprende tudo, como é a posição, descobre tudo.

Ainda aprende coisa nova? Não vou dizer que sou um sábio, mas nessa área é difícil alguém me ensinar alguma coisa. Às vezes até finjo que tô aprendendo... Sou um cara de 118 posições.

118? Tem o “carrinho de mão”, pego a gata pelo pé e puxo, ela indo e voltando. Precisa de preparo físico. Tem também a posição do “saci-pererê”: você finge que tá com uma perna só, e ela vem de lado, dando os pulinhos de saci. Rááá!

Quanto tempo já ficou sem sexo? Quando mandam a gente fazer aquele exame de próstata, tem que ficar 48 horas sem sexo. Acho que foi isso. Aliás, tô até precisando tomar a dedada.

E Viagra, toma? Quem nunca tomou viagra é burro ou não come ninguém. Tem também o Viagril. É para as pessoas casadas. Mistura Viagra e Plasil, para ficar comendo a mulher sem enjoar. Rááá! Casamento é complicado, né?

Como foram seus casamentos? Fiquei uns cinco anos com a Mary [Mallandro], mãe do Sergio Tadeu, que tá com 22 anos. Separamos, fiquei um bom tempo só saindo, curtindo. Aí conheci a [Maria] Carolina [da Costa Alvarez], mãe dos meus outros dois filhos, a Stephanie, de 15, e o Edgard, de 11.

Como foi? Ela era modelo, linda. Tava num evento em Campos do Jordão. À noite, na boate, fui pra cima. Talento é talento...

Como assim? Você tem que falar as palavras certas, malandro. Cheguei lá e disse: “E aí, beleza? Quer fazer um filme?”. “Não, não curto.” Bom, tentei TV, tava com programa na Globo: “Oi, tem um quadro novo que é a sua cara”. Isso gritando, no meio da boate. E ela, “não, não”... Insisti. “E comercial, tem um comercial maneiro.” Ela falou: “Não interessa, tô indo pro Japão, obrigada”. Sabe aquele “obrigada” bem distante [risos]? Tem que usar as palavras-chave...

Além de “cinema”, “TV” e “comercial”. É. Aí, falei: “Chico Xavier” [risos].

Chico Xavier?! E ela: “Você conhece?”. “Ô, é meu irmão!” Imagina... Aí, foi. São as palavras certas. “Paulo Coelho” também é bom. Se perguntam se já li algum livro, digo que li todos. Dou a resposta que tá na moda. Se a mulher diz que gosta de costurar, falo que já fui pano em outra vida [risos]!

Como é a relação com suas ex-mulheres, paga pensão? Para a daqui, não. Para a que mora em Londres, a gente estipulou determinadas regras: pago o colégio dos meus dois filhos que vivem lá. Pro meu filho daqui, sempre dei tudo o que podia. Quando podia dar muito, dei muito; quando não podia dar nada, não dei nada. Não tenho briga com nenhuma ex. Ao contrário, adoro. Elas me deram as coisas que mais amo na vida, meus filhos.

Difícil ficar longe de dois filhos? É horrível, saudade pra cacete. A gente se fala por telefone, eles vêm aqui pelo menos uma vez por ano. Quero ver se o Edgard passa um ano aqui comigo, tô conversando com a mãe dele. Para pegar umas malandragens de vida, né? Tá crescendo. Você sente que ele é mais puro, e é legal conservar assim. É como diz Jean-Jacques Rousseau: o homem nasce bom e a sociedade o transforma.

Opa, até cita filósofo! Rááá, tenho minhas cartas na manga!

Então vamos falar do programa novo que você está desenvolvendo. Vai se chamar Tudo por Ibope. Tipo um reality de programa de humor, para mostrar como realmente é feito um programa de televisão.

Não seria melhor não saber? Conheço TV, tenho certeza de que vai dar certo. É um piloto, estou conversando com algumas emissoras. Tenho espaço em qualquer TV.

Vão entrar seus clássicos, como a “Casa dos desesperados”? “Casa dos desesperados” nós queremos refazer. Agora numa mansão espetacular. Estamos fazendo seleção com vários anões. Só não serve anão que cresceu! Rááá! Também vai ter uma gorda, um gay, um casal de namorados e os ex-namorados deles...

Tinha um travesti na primeira edição. O travesti tá polêmico. Eu, particularmente, sou a favor do travesti. Está em evidência, você vê celebridades saindo nos jornais por causa de travesti. Então, por que não colocar um travesti glamoroso?

Justamente, por que não? Porque a gente não sabe como vai ser a aceitação dos anunciantes, do público. Por mais que a gente não se preocupe, a gente se preocupa.

Depois de A Fazenda, ainda tem algo que assuste anunciante ou público? É, realmente... Tenho acompanhado pouco A fazenda. Mas é o que o povo quer ver, aqueles barracos. Tinha aquele menino, Theo [Becker], parecia bipolar. Uma hora estava rindo, outra, chorando, dali a pouco queria dar porrada, batia nele mesmo... Do cacete!

Não foi convidado para A FazendaNada oficial, só uma sondagem. Mas tô muito envolvido com meus projetos.

Por que você saiu do ar? O Mallandro 220V acabou ano passado, porque me candidatei a vereador e aí tive que sair do ar.

Que história foi essa de querer ser vereador? Seria um jeito de retribuir o carinho que recebo. Pô, recebi tantas coisas... Me sinto privilegiado. Não sei por que Deus me deu tantas recompensas, tanta felicidade. Se não for mudar as coisas pela política, vai mudar como? Recebi 22 mil votos.

Você se candidatou pelo PTB, partido de seu colega de O povo na TV, Roberto Jefferson. Roberto Jefferson é meu irmão! Um cara apaixonante. Poeta... Ele era o advogado do programa, entramos no mesmo dia. Era um grande criminalista. Um cara legal, homem com H maiúsculo. Foi lá e botou a cara pra bater. Dia desses fomos jantar. Ele não perdeu a essência, é um cara bom.

De O povo na TV pra cá são quase 30 anos de profissão. Qual foi seu maior sucesso? Minha vida tem vários episódios de sucesso. “Pegadinha do Mallandro”, “Porta dos desesperados”... Cheguei a dar primeiro lugar de audiência, 19 pontos na CNT/Gazeta. Sabe o que é isso? A Globo tava passando um especial do Carlinhos Brown. Até hoje agradeço o Brown [risos].

E o “Vem fazer glu-glu”? O disco vendeu 1 milhão de cópias, uma coisa fantástica. Me chamaram pra gravar a versão de uma música italiana. Não gosto de copiar nada, então inventei uma música pro lado B. Tava num avião, cheguei pra aeromoça e falei: “Vem meu amor, vem meu chuchu, vem bem pertinho fazer glu-glu” [risos].

A letra é sua, então? Quem podia fazer essa letra? Só eu. Nem Machado de Alencar, nem José de Assis. Rá! Tocava em todas as rádios, acho que o povo era surdo.

Ficou rico? Um milhão de cópias dá um bom dinheiro. Se rico for alguém que não precisa mais trabalhar, não fiquei rico. Nunca fui rico de comprar helicóptero. Vivo bem. Tenho uma casa bacana no Rio, um apê em São Paulo, ajudo minha família. Não sou rico, mas também não tô preocupado com dinheiro. Só num momento, ali de 1994 a 96, foi difícil. Fiquei fora do ar...

Os amigos sumiram? Claro, aí você começa a entender a vida, a ver quem são seus amigos mesmo. Tem amigo pra tudo: amigo pra jogar bola, pra ir à festa, pra pegar umas gatas. Tive bons amigos que me ajudaram, me deram uma grana.

Teve que vender patrimônio? Tinha uns apartamentos, fui vendendo. Eu zerado, as contas chegando...

Depois conseguiu recomprar? Voltei a trabalhar, a ter uma vida normal. Não recomprei tudo, mas passei a levar uma vida muito mais tranquila. Importante não é ter bastante coisa, importante é saber usar o que tem.

Ficou deprimido naquela crise? Não. Nunca tomei remédio, essas coisas. Nunca fiquei deprimido. Fiquei foi duro. Minha riqueza não é minha grana, é meu bom humor. Só saio na rua quando tô de bom humor. Se não estiver, fico em casa.

Você perdeu seu irmão recentemente. Penso no meu irmão todos os dias. Morreu há um ano e meio, mas todos os dias falo “puxa, meu irmão morreu”. A ficha cai, mas não cai. Ele já tinha tido dois infartos, mas não se cuidava. Tomava 30 chopes por dia, comia besteira.

Vocês eram próximos? Muito, ele trabalhou comigo muito tempo, cuidava das minhas coisas. A última vez que nos encontramos, ele tava dizendo que ia passar o réveillon com a gente. Ele tava muito feliz, lembro dele rindo nas festas. O pessoal gostava muito dele... [chora]. É isso, irmão. Aceitar a morte é muito difícil.

Você é religioso? Tenho fé, mas já tive muito mais.

Por quê? Às vezes aparecem dúvidas na minha cabeça, tô num momento de vida de buscar algumas explicações.

Como para a morte do seu irmão? Não só isso, mas também outras coisas que acontecem... Você fica se perguntando como é que pode umas pessoas sofrerem tanto e outras não sofrerem nada. A vida também é difícil de entender.

Você se cuida, depois de ter perdido seu pai e seu irmão de infarto? Sou pilhado com isso. Tô sempre fazendo exame de coração. Procuro evitar coisas gordurosas, frituras. Tento comer coisas diet, mas chocolate não consigo largar. Dou minha caminhada, faço um exercício na academia. Não bebo, não fumo.

Como você sobreviveu às duas pragas dos anos 80: Aids e cocaína? Lembro que a primeira pessoa a morrer de Aids foi o [ator] Lauro Corona. Perdi vários amigos. Deixou todo mundo assustado, ninguém usava camisinha. A Aids cortou o barato. A melhor coisa era transar ao ar livre, na praia, no carro, na escada do prédio. Não tinha preocupação.

Achou que podia estar infectado? Claro, passava o rodo geral. Aí comecei a usar camisinha, até com namorada. Sou meio perturbado com isso.

E cocaína? Também perdi vários amigos com a cocaína. Via na minha frente, mas nunca tive curiosidade de usar. Nem cocaína nem droga nenhuma. Nunca tive vontade de sair da minha pessoa. Cada um tem seu medo. E já falo pra caramba, se usasse cocaína ninguém me aguentava [risos].

Há alguns anos, uma ex-Mallandrinha e um ex-diretor do seu programa disseram que você usava cocaína. Vão inventar o que do Sergio Mallandro, bicho? Veado não dá, porque tô sempre com uma gata. Bom, o Mallandro é louco. Então inventa aí que ele usa droga e vamos tentar tirar um dinheiro dele. Se foderam. Processei, foram condenados e tão me devendo dinheiro até hoje. Vê o fim da menina: [atriz de] filme pornô.

Por que fizeram a acusação? Os dois tinham sido demitidos e se associaram. Ela fez um site pornô, que queimava o filme das Mallandrinhas. O maluco inventou da cabeça dele aquela pegadinha em que o cara fingia que ia se suicidar numa das pontes da marginal, e deu a maior confusão.

Você acha que prejudicaria sua carreira admitir usar droga? Pelo contrário. Acho que até atrapalha dizer que nunca usei nada. Meu público é universitário, faço show para 5 mil caras loucos. Muitas vezes, chega um e me chama para cheirar. “Não, obrigado.” E o cara: “Parou?”. Quando explico que nunca usei, o cara fica decepcionado.

Por que acham que você usa droga? Por causa do meu jeito. Na minha época, maconha era coisa de bandido. Hoje, você vai na praia e tá todo mundo fumando.

Você fuma? Não, nunca fumei maconha.

E esse colírio aí, que você pingou agora mesmo? É pra lente de contato, tenho hipermetropia e astigmatismo. É um gelzinho, já viu? Diz que a lente fica mais molhada.

Crédito: Arquivo pessoal
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