Ruy Castro por Ruy Castro

O principal escritor do país revoluciona o jornalismo crítico e resenha seu próprio livro, Carmen ? Uma Biografia

por Redação em

A culpa não é do Ruy. Nós é que pedimos para o principal biógrafo do país revolucionar o jornalismo crítico e resenhar seu próprio livro. Em 1,6 milhão de letras ele contou a vida de Carmen Miranda. E mandou muito bem (como ele mesmo explica abaixo, em módicos 1.500 caracteres)

Por Ruy Castro (mas isso você já sabia)

Carmen – Uma Biografia, Ruy Castro
(Companhia das Letras, 600 págs., R$ 55)
Quando pensei em fazer a biografia de Carmen Miranda a primeira coisa que me veio à cabeça foram os cenários em que se passaria a história: o Rio dos anos 20 e 30, a Broadway dos anos 40, Hollywood dos anos 40 e 50. Pode-se querer lugares mais bonitos, mais charmosos, mais excitantes? Ao redor de Carmen (e de sua irmã Aurora), haveria Ary Barroso, Lamartine Babo, Chico Alves, Betty Grable, Groucho Marx, Pato Donald, Zé Carioca e, claro, o Bando da Lua – alguns, em glorioso preto-e-branco; outros, em gorgeante Technicolor. A trilha sonora do livro seria "Camisa Listada", "O Que é Que a Baiana Tem", "Chattanooga Choo-choo". E a ação se passaria na Rádio Mayrink Veiga, no Cassino da Urca, no Waldorf-Astoria, na Twentieth Century-Fox, no Copacabana Palace e, infelizmente, em um ou outro hospital psiquiátrico. C'est la vie.
Isso posto, fui à luta. Três anos depois, eu já tinha ido pessoalmente ao vilarejo em que ela nascera, Várzea de Ovelha, no Norte de Portugal; assistido a todos os seus 14 filmes americanos (e a outros tantos documentários sobre ou ao redor dela); ouvido (muitas vezes) seus mais de 330 discos oficiais de sambas e marchinhas; assaltado inúmeros arquivos e lido uma descomunal quantidade de material sobre ela em português, inglês e espanhol; e feito mais de mil entrevistas com cerca de 170 pessoas. O resultado foi um livro com 600 páginas de texto, num total de 1.600.000 caracteres de computador.
Modéstia à parte, acho que Carmen está toda em Carmen – Uma Biografia. Mas, se eu soubesse que era impossível, não teria feito.

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