Pretensas configurações de um escritor

por Luiz Alberto Mendes em

 

Tenho uma visão completamente diferente de boa parte das pessoas (e dos escritores) acerca do que é ser escritor. Explico-me: ser escritor é estar escrevendo; vivendo do que escreve e inteiramente envolvido com o que faz. Precisa se informar, ler, pesquisar, estudar e saber para estar sempre fundamentado e escrever com conhecimento. Procurar sua arte, desenvolver sua sensibilidade qual fosse a única corda de um finíssimo violino. Afiar sua razão e lógica como fosse a espada da qual dependerá sua vida. E creio que tem a parte exterior do escritor; suas amizades, suas devoções, suas companheiras, seus filhos e a humanidade em geral (a pretensão do escritor é a todos amar). O mundo é seu limite (embora anseie viajar estrelas), as pessoas, natureza, imagens e a alma das coisas são suas ferramentas. O escritor é a tentativa de explicar a falta de organização no caos. Ele esta em tudo. Tudo tem que ser pensado, escrito e projetado. Tudo o que há e o que não há, precisou ou precisa ser escrito. Teatro, cinema, talvez não a fotografia e a pintura, mas quantos livros foram escritos na tentativa de interpretar uma tela de Da Vinci? Até nas eleições é preciso o trabalho do escritor: é ele quem pensa, escreve as plataformas dos políticos e disseca as críticas do eleitorado.

E, na minha opinião pessoal, um escritor não tem outras profissões. Ele renuncia a tudo para se entregar à escrita de todo seu coração. Também não creio que haja prazer maior na vida que a criatividade. Nem o sexo é tão importante, embora seja tão fundamental quanto. Jamais senti maior prazer do que quando acabo um texto que sei, esta bem fundamentado e acredito em sua lógica. Caso meus olhos, meus dedos aguentassem, e eu tivesse a capacidade de inventar o tempo todo, não pararia jamais. Pense o filme "Forrest Gump"; aquele "maluco" correndo sem parar; refiro-me a algo assim parecido.

Sei que a maioria das pessoas que escreve, trabalha em outras profissões. O escritor não é valorizado porque o livro é caro e muito pouco difundido no país. Talvez nossa tendência seja mais oral como os índios de quem somos descendentes, assim como dos africanos e europeus. Mas, eu acredito que é primeiro uma questão de auto-crítica. É complicado porque nem sempre a auto-crítica funciona com isenção. Ou somos condescendentes ou rigorosos demais. Não é como fazer bolo; não temos uma receita com medidas exatas dos ingredientes. Por esse e outros motivos que é fundamental para quem se considere um escritor tenha muitas leituras. Só depois de haver lido muitos outros autores se tornará capaz de ler a si mesmo e fazer um julgamento justo, já que imparcial me parece impossível. Caso o exame do talento e da capacidade seja favorável e haja vontade de ser um escritor, é preciso radicalizar para ser capaz de viver uma grande história de amor. Sim porque escrever é um grande e profundo voto de amor. De amor ao mundo, às pessoas, à natureza, aos bichos, as palavras, a si mesmo e à vida. Escrever é uma generosidade de alma; é quando se quer amar infinitamente e se escolhe essa maneira de expressar o amor. É a busca incessante da melhor expressão no menor conteúdo, aquela que vai dizer tudo o que se pensa e que todos compreenderão ao bater os olhos.

Exatamente por isso não tenho carro, moto e quase nada além de meus livros, meus DVDs, meus CDs. (raridades garimpadas em anos percorrendo sebos), meus textos e meus cadernos de anotações. Esse é todo meu tesouro, vale mais que qualquer outra coisa para mim. Tento ser mais barato, embora esteja sempre mais caro; é uma batalha que parece perdida. Não vejo nada que me dê maior satisfação que escrever. E, tenho sustentado a mim e aos meus, mesmo que precariamente, com literatura. Creio, sinceramente, que estou a caminho de ser um escritor, pelo menos tenho feito tudo nesse sentido.

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Luiz Mendes

04/07/2014.  

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