O porque não da tragédia da Escola do Realengo
Luis Mendes: ˜É inútil procurar o porquê dos atos humanos. Vamos por outra via: Por que não fazer?"
Por que não?
Procurei, procurei, escutei, li, na carta-testamento, nas entrevistas de quem o conhecia e na opinião expressa dos psiquiatras e psicólogos de plantão, o porquê de Wellington haver cometido aquela tragédia na escola do Realengo. Não encontrei nada que me parecesse razoável.
Na carta-testamento que seria o lugar adequado, em tese, para ele expressar seus motivos, ficou confuso. A gente pode tirar que ele estava mais perdido sobre si mesmo que todos os que quiseram explicar seu comportamento. Dizer que ele tinha problemas psicológicos é chover no molhado. Mas não pelos motivos expostos.
Considerou-se o perfil de Wellington, em muitos aspectos, o de um psicopata. Isso porque ele parecia anti-social, não frequentava festas, baladas, por ser tímido, fechado, de viver conectado na internet e houve quem afirmasse que ele era “infeliz” sexualmente (talvez pelo fato de que 20, das suas 24 vítimas, eram garotas). Esse não é o perfil de um psicopata e sim de boa parte dos adolescentes e jovens de hoje. Nem todos são enturmados ou pertencem a uma tribo.
Meu filho poderia ser enquadrado nesse perfil. Ele tem pouquíssimos amigos, é bastante tímido, gosta de se vestir de preto como todo roqueiro, adora vídeo-game, TV a cabo e vive conectado na internet. E é uma doce criatura: suave, leve, tranqüilo, esta cursando web design, curte muito rock, quer tocar em uma banda e ser famoso. Ele está na dele.
Claro, pessoas tidas como “normais”, não atiram em crianças. Nem o bandido o faz. E quando ousa é questionado, julgado e condenado até pelos seus pares. Os Nardonis vivem em seguro de vida na prisão. Ninguém aceita matar crianças. Então estamos falando sobre alguém com profunda perturbação mental. Há também o quadro social a ser levado em consideração. Profunda rejeição, inabilidade para compor em grupos, abusos de colegas...
Acho inútil procurar o porquê dos atos humanos, culpas totalizantes. Os motivos serão sempre intrincados em demasia para uma compreensão racionalizada. Então, vamos por outra via: porque não fazer. Porque ele não faria isso, tendo em vista já seus problemas pessoais e sociais. Medo da Lei, da polícia? Isso ele já resolverá: não seria preso vivo.
Pelo que se entende, ele escolheu as crianças porque queria ferir a todos nós o mais fundo que lhe fosse possível. Sabia que matando crianças estaria causando dor a todos. Ninguém ficaria indiferente e não só no país, mas no mundo todo. Criança sempre veio em primeiro lugar em nossa espécie. Quiçá quisesse se vingar pela desatenção, pela rejeição, pelo ridículo, pela falta de cuidado e pelo ostracismo que o relegamos. Talvez não percebesse que estamos todos isolados uns dos outros. Que temos que aprender a conviver com a nossa realidade, pois que é dentro de nós que a nossa vida acontece. Mas ele também era um adolescente que não conseguiu amadurecer para entender.
Agora, como sempre, vem as medidas extremas de reação. Detectores de metal, mais vigilantes, portaria para impedir estranhos. A escola vai virar um bunker. A solução, esta na cara, passa por outros critérios. Tais como de tentar melhorar a experiência escolar dos adolescentes, diminuir o bullying, trabalhar com a rejeição dos diferentes e outras atitudes mais coerentes.
Que não vai acontecer novamente a experiência nos afirma que não há como prever. Tomara que não, foi horrível tudo isso, o desespero dos pais... Mas há indicações de que pode sim acontecer novamente, já que o nosso mundo de relação e de valores (os porque não) não vai mudar por causa disso.
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Luiz Mendes
11/04/2011