O medo nos enfraquece ou temos medo porque estamos fracos?
O medo se esparramou horizontalmente nessa nossa sociedade sem alicerces e plantada sobre esse terreno gelatinoso. O que se imaginava seguro há bem pouco tempo atrás, já não é mais. As pessoas tornaram-se descartáveis, vamos ao outro já pensando que ele pode não ser o que esta nos apresentando. Estamos desconfiados, tipo gato escaldado com medo de água fria. Às vezes essa vida em sociedade me parece com a convivência prisional. Todos por lá são perigosos, é preciso ter muito cuidado com o que se fala, faz e com quem se anda, para sobreviver. O preso já vai ao outro preso esperto e com todos os sentidos atentos. Qualquer palavra pode ser mal interpretada, agravada e tudo pode ser motivo para se desencadear uma malquerença.
Extraímos até as ultimas possibilidades das pessoas, famintos de tudo consumir e nos fartar. Para, em seguida, descartar e correr atrás da última novidade, do inaudito, novamente. A idéia do novo nos enlouquece. Alarga-se o distanciamento que vivemos uns dos outros. Estamos sempre mais sozinhos no meio de tanta gente e cada vez mais conscientes disso. Esse conhecimento de que nada pode ser para sempre, acabou conosco. Nossos conceitos eram quase todos embasados em estabilidade, eternidade ou até continuidade. Méritos passados, valores que nos eram importantes, atos que anteriormente nos asseguraram, tudo isso não vale mais nada. Acabou de acabar. Vale o que somos capazes agora, o que temos de utilidade e capacidade no momento. Ao passado, prestamos apenas demagógicas homenagens. Resta o medo, esse sentimento de aniquilamento, de desvalia e descontinuidade a nos enfraquecer. É quando nos sentimos fracos que temos medo, ou temos medo quando nos sentimos enfraquecidos? A fraqueza nos remete ao medo, ou o medo nos enfraquece? Creio que ambos; estamos fracos e, por conta disso, temos medo e ao alimentar esse medo nos enfraquecemos mais ainda. O que fazer? A nível geral, talvez haja alguma solução, mas nem desconfio se é viável ou não. Mas a nível pessoal creio que é possível fazer alguma coisa porque a vontade é imperiosa, embora as contingências. Há 13 anos atrás decidi que seria um maldito de um escritor; sou extremamente teimoso e bato cabeça nesse esforço até hoje. Atravessei muitas marés enchentes e vazantes de descontinuidades. Ainda não sou um escritor reconhecido como tal, mas, espera ai, a briga ainda não acabou, ainda tenho alguns truques na manga; textos e livros na mente...
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Luiz Mendes
19/06/2014.