Fake lifes

Vemos uma sociedade ainda em busca de uma identidade qualquer. Mas seguimos inspirados pelas figuras geniais que encontramos pelo caminho

por Paulo Lima em

O tema “fake news” esteve no centro do palco com notável destaque no ano de 2018. As eleições e as descobertas sobre manipulação, uso indevido de dados e diferentes formas de distorcer a informação ajudaram a iluminar o assunto e a torná-lo ainda mais central.

Olhando para o ano que se fecha, porém, e especialmente influenciado pela emoção da noite do Trip Transformadores (que você pode experimentar a partir da página 28), fico pensando se não seria o caso de estarmos mais preocupados com as “fake lifes”.

Explico: em que pese a necessidade de criarmos uma persona pública para que sejamos capazes de enfrentar a complexidade e a mediocridade do jogo social em que nós mesmos nos metemos, talvez tenhamos perdido o controle do tal personagem e entrado num estado de letargia/lobotomia, que vem nos afastando avassaladoramente daquilo que somos ou que deveríamos ser.

O contato com as trajetórias dos homenageados no Trip Transformadores produz um tipo de choque de realidade, uma wake up call com potência nuclear que, em muitos casos, afronta sobremaneira aquilo que estamos fazendo com nossas existências.

LEIA TAMBÉM: Fernanda Lima questiona os próprios privilégios, empresta sua voz a diferentes causas e lida com as consequências dessas escolhas

De certa forma, é triste que sejam exceções dignas de troféus e homenagens pessoas que simplesmente foram capazes de constatar e de colocar em prática princípios relativamente basais, óbvios até. Entender a nossa fragilidade e o caráter efêmero da vida, por exemplo. Perceber a evidente interdependência entre tudo o que é vivo (e até o que não é) e, por consequência, passar a se preocupar e a se dedicar verdadeiramente ao outro. Inferir que a acumulação excessiva de recursos materiais nada faz pelas nossas angústias essenciais. Saber que a melhor remuneração do mundo não é recebida em dinheiro e aparece quando exercemos o poder de aliviar o sofrimento de outra pessoa...

Olhando para os lados, vemos uma sociedade adolescente, ainda em busca de uma identidade qualquer, permanentemente metida em embates infantis. Gente perdida, afundada entre a perseguição pela acumulação e o consumo desenfreado (incensado com todas as forças pela indústria da mídia convencional, cada vez mais combalida), na busca desesperada por um pequeno ou grande privilégio, ou esbaforida gritando mantras e palavras de ordem ingênuas sobre questões que já deveriam estar resolvidas e enterradas há décadas.

Por outro ângulo, as trajetórias desses homenageados  nos servem como emblemas daquilo que dá de fato sentido às nossas existências e renovam as esperanças em um porvir um pouco mais alentador.

Do nosso lado, seguimos tentando erguer a barra do Brasil, com humildade e perseverança em igual medida, inspirados e estimulados pelas figuras geniais que encontramos todos os anos no Trip Transformadores.

Em 2019 tem mais!

Arquivado em: Trip / Política / Comportamento / Ativismo