Maconha: liberar ou continuar criminalizando?

por Luiz Alberto Mendes em

Maconha

Parece que temos sempre que optar pelo menos pior. A opção pelo melhor não é possível nem cogitar. Seria muito melhor se todos pudessem suportar tanto as cargas pessoais quanto as coletivas sem necessitar de nenhum tipo apoio, muleta ou força externa. Poucos conseguem. A maioria não. Daí porque o cigarro, a bebida alcoólica, o jogo, a droga e outros vícios às quais recorremos.

No caso da maconha, tudo leva a crer que é menos pior liberar que continuar a criminalizar. O contra argumento de maior peso foca os adolescentes. Eles estão em processo de desenvolvimento da capacidade crítica. Suas opções atuais são mais ou menos efêmeras e tudo é meio que fluídico para eles. Absorvem o mundo como uma esponja. O proibido exerce um fascínio todo especial. Adrenalina borbulha no sangue, tudo desafia é quase que impossível não enfrentar.

Era assim com relação ao cigarro. Era uma forma de ser diferente, de se destacar da multidão, de chamar a atenção, de se apresentar e ser. Passava o maior sufoco para aprender a fumar. Depois sofria muito mais para largar o vício. Caso não fosse, na época, tão censurado ao adolescente fumar, não chamaria tanto a nossa atenção. Creio que se tirar o rótulo de proibido a maconha pode deixar de ser uma afirmação, para o jovem. Claro, ele irá buscar outros desafios. Talvez cocaína, heroína, drogas sintéticas, jogos eletrônicos monstruosos ou filmes radicais. E aí, vai ser liberado um de cada vez? Creio que sim. Até que um dia tudo estará liberado porque o homem estará maduro para saber escolher o melhor.

Não é possível fazer apologia à maconha. No mínimo ela deve prejudicar em alguma coisa. O pulmão, o rendimento, o cérebro e sei lá mais o que. Não dá câncer por enquanto. Os fabricantes de cigarro já possuem densas pesquisas acerca da erva e vão monopolizar a produção e o comércio. Então entrará a química utilizada na industrialização do cigarro. A partir daí não será possível garantir mais nada.

Por outro lado, maconha causaria menos mal que a bebida alcoólica e outras opções, em termos patológicos e psicológicos. E teria a mesma finalidade. Ou seja: relaxar, soltar e abrir a caixa de Pandora interior. Com uma vantagem que faz toda diferença: A bebida exaspera, resseca, excita e traz para fora o que há por dentro. Recalques, complexos, neuroses, fraquezas e valentias recolhidas. A maconha tranquiliza, acalma, serena, interioriza, causa intensidade emocional, tesão, vontade de comer e de paz.

Pessoalmente acho que seria ótimo qualquer tipo de droga ou bebida. Quando quiséssemos ficar a mil numa festa, por exemplo, beberíamos. Quando quiséssemos ficar tranqüilos, em paz para curtir amor com uma gata, fumaríamos um baseado.

O problema é que vicia. Caso pudéssemos só beber ou fumar naqueles instantes por nós escolhidos, seria muito bom. Mas começamos assim. Bebemos ou fumamos pela alegria do momento. Depois a gente vai se surpreender ajeitando momentos para poder beber ou fumar para ficarmos alegres. Estamos então, já viciados. O momento de admitir o vício para começar o processo de superação, costuma demorar, prejudicando indelevelmente.

Afirmei no começo que optamos pelo que nos parece menos mal, e é assim que vejo o caso da maconha. Vamos liberar, e não porque é bom. Mas porque nos parece menos mal que a proibição, tráfico, tiroteios e tem a questão do imposto. A companhia de cigarros paga cerca de oito a nove maços de cigarros de imposto a cada dez maços vendidos. Quanto irá pagar por cada baseado? Há interesses em jogo, não é possível esquecer.  Ao fim e ao cabo, o menos mal prevalece.


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Luiz Mendes

06/05/2011.

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