Livros livres

Enquanto o papel digital não chega, internautas inventam maneiras de trocar livros gratuitamente

por Redação em

por Ronaldo Lemos*

O papel ainda possui uma qualidade fundamental que o coloca a salvo das mudanças trazidas pela tecnologia digital. Ele ainda é o melhor meio de acesso a certos tipos de conteúdo, como um romance, por exemplo. Devem ser poucas as pessoas que se aventuraram a ler Guerra e Paz na tela do computador. Esse privilégio, no entanto, está com os dias contados.
Conversando há pouco tempo com Jean-Claude Guédon, professor da Universidade de Montreal e um dos maiores especialistas na história e no futuro do livro, ambos concordamos que estamos acompanhando os momentos finais da ferrenha competição global pelo lançamento em escala industrial do livro eletrônico. Em breve, uma única folha de papel digital poderá reproduzir com perfeição a experiência de leitura tradicional, podendo ser carregada com qualquer conteúdo. Quando isso acontecer, haverá uma transformação radical no mercado do livro. Talvez mais profunda, rápida e dramática do que as mudanças que chegaram à indústria da música e do cinema.

Enquanto isso não acontece, ainda dá para se surpreender com a criatividade da sociedade em rede, mesmo com os livros tradicionais. Depois do fenômeno do BookCrossing, que consistia em abandonar livros já lidos em locais públicos, permitindo que outras pessoas pudessem se apropriar deles, surge agora uma idéia muito mais sofisticada e global. Trata-se do site chamado Book Mooch [http://bookmooch.com/]. A proposta do site é simples: a partir de agora é possível conseguir qualquer livro, de graça, pela rede.
Como a maioria dos sites da chamada web 2.0, o Book Mooch não traz nenhuma grande inovação tecnológica, mas sim uma inovação social colaborativa. O site funciona assim: qualquer pessoa pode se cadastrar, colocando uma lista dos livros que estaria disposta a doar para a rede. Conforme você coloca livros para doar, você recebe pontos para poder solicitar livros de outras pessoas. Desse modo, se você quer ler um livro do badalado jovem escritor nova-iorquino Jonathan Safran Foer, vai encontrar várias cópias disponíveis de graça no site. É só usar seus pontos, obtidos disponibilizando seus próprios livros, que a cópia é sua.

O mais interessante do Book Mooch é que ele emprega o mesmo sistema de “peer to peer” utilizado no compartilhamento de arquivos pela Internet. O site em si não faz nenhum controle sobre o envio dos livros, mas você pode dar feedback positivo ou negativo a respeito de quem ficou de lhe enviar o livro: com isso concede ou retira pontos daquela pessoa. E o mais legal é que já existe uma versão em português, muito mal traduzida, é verdade, mas pronta para receber o seu estoque de livros antigos do Paulo Coelho. O Book Mooch demonstra que o espírito de compartilhamento, iniciado pela rede, pode também levar à renovação nas práticas sociais do mundo físico. E desta vez não há nenhum argumento jurídico para sair processando os leitores que compartilham seus livros.

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A festa de livros grátis na web não se restringe aos leitores de dois ou quatro olhos. Os deficientes visuais também têm um incipiente acervo gratuito on-line. No site da Biblioteca Virtual do Estudante da Língua Portuguesa, estão disponíveis versões em áudio de clássicos da literatura brasileira. Para ouvir é só ir no: www.bibvirt.futuro.usp.br/index.php

*Ronaldo Lemos é diretor do Centro de Tecnologia e Sociedade da Escola de Direito da FGV e do Creative Commons no Brasil. É um dos fundadores do Overmundo (www.overmundo.com.br)

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