Gatos x Homem: briga pra valer

Ela tinha um casal de dobermans, um fila imenso (cerca de 70 quilos) e uma loba siberiana

por Luiz Alberto Mendes em

O  Gato

Minha sobrinha adora cães e gatos.

 

Ela tinha um casal de dobermans, um fila imenso (cerca de 70 quilos) e uma loba siberiana. Havia também Cherry. Um gato angorá enorme, gordo e preguiçoso que só vivia enrolado em sua densa pelagem. Era o animal mais velho da casa. Os cães o temiam. Quando ele se aborrecia, saia pegando o primeiro cão que visse pela frente. Erguia-se sentado sobre as patas traseiras e desferia sequências super rápidas de tapas com as garras abertas na cara dos cães. Estes fugiam ganindo e desesperados. A gente achava que ele pensava ser um cão como os outros também.

 

Dormia completamente enroscado à minha sobrinha, e ai do cão que se aproximasse. O quarto dela era seu reino. Nós nos suportávamos. Jamais aceitei sua valentia ou domínio territorial. Nós nos ignorávamos para convivermos.

 

Estávamos eu e minha sobrinha conversando, quando a Husky Siberiana escapou no quintal e entrou correndo no quarto. É grande, peluda e linda. O gato ficou bravo, se eriçou todo e foi para cima. Parecia um lutador de boxe a distribuir cruzados pela cara da cadela. Instintivamente, sem imaginar o perigo, entrei no meio, joguei o gato longe com uma braçada e me posicionei entre os dois. A dona do quarto foi tirando a cachorra para fora.

 

De repente o gato estava avançando em mim, furioso. Saltou com as garras armadas, pequei-o no ar me defendendo com o pé. Foi parar no fundo do quarto. Quando imaginei que acabara, lá vem o gato pulando em cima de mim novamente. Defendi com os braços. Joguei longe de novo, mas senti os cortes que ele me fez. E lá vinha ele novamente.

 

Quando percebi, estava saindo na porrada com o gato e ele não só me encarava como comandava o combate. Usei pés descalços e mãos nuas para me defender de seus ataques. Só faltou usar os dentes e as unhas, estava combatendo uma fera. Quando eu ia virar um bicho também, minha sobrinha me puxou para fora do quarto e trancou a porta. Havíamos sido expulsos do quarto por um gato.

 

Eu estava com os braços e os pés arranhados e sangrava um pouco. Ardia como fogo. A sobrinha passou álcool, ardeu mais ainda. Então de repente aquilo me indignou. Um gatinho felpudo daqueles havia me encarado, dado uma surra, machucado e expulsado do quarto. Não era possível. Voltamos armados de porrete, vassoura e rodo a fim de dar fim naquilo. Ele ia ver. Abri a porta devagar e dei uma examinada no campo de batalha. Não avistei o inimigo. Nós estávamos pensando em raiva ou doença semelhante. Eu teria que tomar várias injeções contra raiva...

 

Então, quando virei as costas, Cherry foi saindo pela porta todo faceiro com o rabo em pé. Parou, deu uma olhada panorâmica e foi se enroscar nos pés da dona como se nada houvesse acontecido. Fiquei de bobeira olhando aquela cena, sem acreditar. Daí para frente, ficamos eqüidistantes, mantendo uma área não declarada de distância entre nós. Quando ele morreu, cerca de 2 anos depois, ainda havia uma certa rivalidade entre nós. Mas como amávamos a mesma pessoa, nos respeitávamos. Ele devia saber que eu a defenderia fora da casa, assim como eu sabia que dentro não tinha para ninguém. O bicho era valente. Se fosse homem, eu diria que era um homem para ser respeitado.

 

Luiz Mendes

20/04/2010.

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