Esperança

"Embora as injustiças todas que ocorrem em nosso país, temos leis que pretendem proteger os mais fracos dos mais fortes e violentos."

por Luiz Alberto Mendes em

Às vezes sinto ganas de me desinteressar, de deixar para lá e me esquecer de tudo que esta acontecendo no país que habito e amo de todo coração. Parece que esta tudo errado. O poder esta nas mãos daqueles que detêm o capital e que estes, periculosamente, procedem de modo a boicotar e tirar as chances de progresso daqueles quem não tem o maldito/bendito dinheiro. Uma coisa assim meio que maniqueísta. Parece que venceram os corruptos, os desonestos, os insensíveis, os canalhas, aqueles que não respeitam ninguém. Estes mesmo que não têm a mínima noção de humanidade, idealismo ou compaixão. 

Como apaixonado por história que sou, não me perco e muito menos desisto. Todos nós viemos das cavernas, da animalidade mais extremada, da brutalidade e da estupidez mais acerba. Hoje ingressamos no tempo em que os direitos humanos são discutidos, normatizados, implementados e até exigidos. Por incrível que pareça até direitos animais são discutidos e já há algumas leis que os protegem da sanha humana. Hoje há leis que punem severamente quem agride uma criança, mesmo que sejam seus pais e justifiquem que batem para "educar". Embora, em contraste, a polícia mate mais que a peste nas periferias das grandes cidades, com ou sem motivo. Embora as injustiças todas que ocorrem em nosso país, temos leis que pretendem proteger os mais fracos dos mais fortes e violentos.

Crescemos aos trancos e barrancos, vamos evoluindo muito lenta, mas seguramente, se olharmos para a história. Há descriminações raciais, de gênero, de cultura, de regiões, de posses. As drogas, as chacinas, o desemprego, a miséria, dominam onde só chega o Estado policial e não a cultura, a escola, as leis e a assistência social. Parece o caos e que caminhamos para a desagregação e o fim de tudo, já que o mal vence em todas as frentes.

Mas não acabou ainda. Há esperanças, essas mesmas que construímos ao levantarmos cedo para trabalhar e chegamos tarde da noite, cansados, para sustentar nossos filhos. Ou quando olhamos nos olhos de nossas crianças e vemos lá dentro aquela vontade de viver que não cessa. A história nos mostra que apesar de, saímos sim das caverna, pulamos das árvores e estamos construindo um novo mundo. Além do velho mundo e seus holocaustos, suas guerras fratricidas, seus milhões de refugiados. A dignidade, a honra e a moral são valores prezados até pelos piores de nós. É só ir às prisões para constatar o que estou dizendo; lá não há burros, cavalos. porcos e sim seres humanos. Claro, ainda estamos engatinhando na parte prática. Temos imensas dificuldades ainda para vermos o outro como ser igual a nós. Mas o homem virtuoso e bom ainda é alguém respeitável por todos. Um ideal que mora no coração de cada um de nós, embora nossos limites, fraquezas e desumanidades. 

O amor, a fraternidade e a idéia de comunidade humana são ainda importantes e se fortalecem bem aos poucos no seio da humanidade. Ainda resta uma esperança de que, como uma criança que engatinha, nossas mãos aprendam os passos da vida.

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