O mundo daqui a 30 anos
Um exercício de imaginação sobre como será a nossa vida no futuro
Primeiramente, façamos as honras da casa. Parabéns à Trip pelos 30 anos. Como colunista há dez anos na revista, posso dizer que a marca continua capaz de se transformar sempre. Para celebrar essa ocasião, em vez de olhar para o passado, proponho um exercício totalmente especulativo: que tal olharmos para o futuro? Como será nosso mundo daqui a 30 anos?
Um fato com que precisaremos conviver é que a diferença entre real e virtual provavelmente não fará qualquer sentido. A realidade será uma só, composta não só de objetos reais, mas também de artefatos virtuais que povoarão nosso campo visual e os demais sentidos, de forma permanente. Não haverá mais a ideia do “consumo de mídia”. Estaremos envoltos em um mundo que será pura mídia. Ou, em outras palavras, a mídia será o mundo, concretizando as premissas mais profundas de Marshall McLuhan.
Do ponto de vista do trabalho, tudo será muito diferente. É provável que robôs estejam totalmente entre nós, realizando boa parte das tarefas que hoje temos certeza de que só humanos seriam capazes de realizar. Os robôs, aliás, serão muito diferentes dos humanoides que vemos nos filmes de ficção científica. Eles não serão criados como nossos semelhantes, mas sim como criaturas altamente especializadas, capazes de assumir qualquer tipo de forma e tamanho. Haverá robôs minúsculos, gigantes, voadores, aquáticos e assim por diante.
A ideia de inteligência artificial será também tão comum que esse nome nem fará sentido (assim como internet, que soará parecido com palavras como vitrola ou telex). Essa “inteligência” será uma característica de todos os objetos que estão ao nosso redor. Em outras palavras, tudo terá um sistema operacional e poderá interagir conosco. É claro, a conversa entre homem e máquina será totalmente fluida. Aquela voz robótica típica dos filmes de ficção do passado será considerada uma caricatura preconceituosa das vozes totalmente “humanas” que as máquinas terão no futuro.
PÍLULAS DE NOSTALGIA
Quando assistirmos aos filmes feitos nos dias de hoje vamos ficar tão chocados com as cidades tomadas por carros como ficamos horrorizados hoje com a forma como as pessoas fumavam o tempo inteiro nos filmes de mais de 30 anos atrás. Vamos nos perguntar: como as pessoas viviam daquela forma, com as cidades congestionadas de veículos? Vai ser também engraçado daqui a 30 anos quando a câmera mostrar marcos da paisagem urbana contemporânea, como as agências bancárias, que vão ser todas fechadas depois de migrarem para a internet, deixando vagos imóveis gigantescos nos pontos mais nobres das cidades. O que serão desses imóveis? Igrejas? Centros culturais? Escolas?
Um desafio vai ser lidar com o preconceito contra pessoas que fizeram modificações genéticas. Ao olhar os reluzentes olhos e cabelos da “inimiga”, a invejosa (ou invejoso) de plantão vai desdenhar dizendo que foram “comprados no laboratório”. Dá até para imaginar o veneno: “Aquilo ali é engenharia genética pura, amiga!”.
E, claro, a revista Trip continuará existindo. Provavelmente não mais como uma revista propriamente dita, mas sim como uma pílula a ser tomada todos os domingos para nos sentirmos nostálgicos de como o mundo era antigamente.