Bruna Surfistinha e o Político Corrupto

por Luiz Alberto Mendes em

 

Bruna Surfistinha

 

Mas a vida é surpreendente, não é mesmo? Quando a gente pensa que esta tudo perdido é que percebe que nada esta perdido de fato.

Por obrigação de quem escreve e expressa opinião, li o livro e assisti o filme Bruna Surfistinha. Comentar o que? Sobre a vida das moças que se vendem? Conheço prostituição, fui criado nesse meio. Fugi de casa aos meus 11 anos de idade e quem me acolheu foram essas moças.

O panorama social era muito diferente. Havia um bairro, chamado de “Boca do Lixo” (há até um livro homônimo) que era todo dedicado à prostituição. Ali, no centro velho de São Paulo. Rua dos Andradas; dos Gusmões; Santa Efigênia; Aurora; Timbiras; do Triunfo... Prédios inteiros de apartamentos com mulheres que se vendiam. Havia o famoso “Treme-treme”, ali na Avenida São João.

Era difícil a um jovem, naquela época, ter relações sexuais, a não ser com aquelas mulheres pagas. A maioria das garotas dos bairros era virgem e queria casar. Quem engravidasse uma “mina” e não quisesse casar, teria que fugir. O pai e os irmãos da moça viriam atrás para “lavar a honra” com sangue.

Mudou; quase não se vê essas mulheres na cidade. Dá para ver algumas nas avenidas a pegar “clientes” de carro ou então nos orelhões em etiquetas autocolantes. Nem sempre são mulheres de fato. A maioria dos jovens de minha geração e anteriores “perderam a virgindade” com essas moças.

Hoje a rapaziada aqui do bairro não vence a demanda. Em uma festa dançante eles “pegam” duas, três e até quatro garotas. Elas idem, “pegam” até mais garotos. Tudo sem pagar nada, na base da troca de prazeres. Na periferia só traficante tem dinheiro. E as garotas são lindas: 14, 15, 16 anos e até mais novas. Estão treinadas, querem a parte de prazer delas. Garotos egoístas não se criam.

Bruna Surfistinha real é feia em comparação às “gatas” daqui. E elas não têm silicone. As morenas daqui fariam os velhos que a Bruna “pegava” (quem mais pagaria cem reais?) babarem. 

Mas, pulando de pato para ganso, como dizia no início, quando tudo parece perdido, nada esta perdido ainda. Restam esperanças. Por exemplo: diante do sucesso desse livro/filme, estou cheio de esperanças que o “Político Corrupto” resolva escrever suas memórias também. Isso pode render votos, pensaria um marqueteiro. Claro, em seguida o filme e depois a mini-série na Globo. Então seriam contados os segredos das reuniões secretas; de como são articuladas as falcatruas, as patifarias, os “acertos” e como são orquestrados os assaltos ao erário público.

De fato, se caso algum deles tiver essa coragem, nem tudo estará perdido.

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Luiz Mendes

21/03/2011. 

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