Ben Harper, o mestre dos surfers singers
Nos dois shows em São Paulo, Ben Harper provou porque é o mestre dos surfers singers
Nos dias 21 e 22 de janeiro, em São Paulo, o líder dos surfers singers provou que é mesmo o mais gabaritado para tal.
Na segunda-feria, com a “praia” cheia, Ben Harper, 37 anos, manteve a tradição e preparou o set list minutos antes de subir ao palco do Via Funchal. Começou com duas das antigas, “Ground on Down” e “Gold to Me”, ambas do disco Fight For Your Mind [1995], que serviram para mostrar a que o homem veio. Com boa dose de peso e entusiasmo, saciou a euforia inicial da massa presente.
Prova da dedicação orgasmática do californiano são os dois videozinhos abaixo, feitos durante a terceira música do show, “Serve Your Soul”, do último disco, Both Sides of the Gun. A partir daí, o sweel baixou um bocado. Ben pôs pra fora todo o seu intimismo, “amplificado” pelo som baixo da casa. Chegou a dar sono. Batuquei, desacreditado, com meus botões: “Xiiiiii, tipo Jack Johnson, pauta o repertório com base na limitada capacidade vocal”. No bis, eu tiraria completamente esse pensamento das minhas orelhas. Acompanhado de seus “Inocentes Criminosos”, bela banda que o acompanha há alguns anos, alternou músicas do último e dos dois discos mais consagrados de sua carreira, Burn to Shine [1999] e Diamonds On The Inside [2003].
Tudo muito bem salpicado com letras existencialistas e mensagens políticas pertinentes. Quando a baba começava a acumular no canto da boca, vieram “Burn One Down”, que obviamente acendeu os presentes, “With My Own Two Hands” e adeus. Ben se retira.
Minutos depois de um temporal ensandecido de palmas e uivos, ele volta. Sozinho. Senta, saca do violão e dedilha três canções. E endossa uma teoria que desenvolvo há tempos. Em dias de tecnologia avançada, traquinagens digitais, você só pode acreditar que um cara é bom mesmo, quando presencia um momento banquinho e violão. E o Ben se garantiu. Em seguida, foi tomar mais água, mas voltou para uma finaleira em grande estilo. Lá pras tantas da faixa “Where Could I Go”, do disco que gravou com os The Blind Boys of Alabama, um dos pilares da música gospel americana, Harper mandou o público calar a boca, literalmente. Com o dedo em riste, fez schiiiiiiiiiiiiiii.
E o povo só trancou a matraca quando percebeu que Ben havia abandonado o microfone para chamar no gogó, sem miséria, toda a magnitude de um Via Funchal chapado com seis mil pessoas. Não teve um fiel que não tenha se arrepiado. Coisa pra poucos. Na seqüência veio “Sexual Healing” embalando sexual memories – e o mulherio derreteu. E junto com Donavon Frankenreiter, que havia aberto o show do amigo, Ben finalizou com “Diamonds On The Inside”. Épico.
E uma amiga disse que gostou mais do Donavon. Achou mais essência: “Que o Ben quer ser o Jimi Hendrix mas não é, e quer ser o Bob Marley mas também não é.” Eu concordo que ele não é nem um nem outro, nem nunca vai ser, mas que a mistura que faz dos dois é excelente, e isso pouca gente discute. E antes que você me xingue por tirar o ineditismo do seu espetáculo, o set list com certeza vai mudar para quinta-feira no Rio de Janeiro e sábado em Salvador. No set list passado para a imprensa, o show terminava com “Get Up, Stand Up” e “Better Way”, que não rolaram.